quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Desabafo

Devo ter passado a maior parte da semana pensando no quê devia escrever. Os assuntos fugiam da minha cabeça. Sim, fugiam. Fugiam porque as únicas coisas que eu sentia eram medo e ansiedade. Cheguei a duvidar da minha prática na escrita, sendo atormentada por um turbilhão de dúvidas. Afinal, onde estava a forma natural pela qual minhas palavras saíam?
Então eu travei. Travei por meses, talvez. Morrendo de medo de não ser ótima com as palavras como antes. Tem ideia do quanto é frustrante pensar que não é boa naquilo que você se dedicou a vida toda? Dói. Claro que dói. Um escritor perder o dom de juntar as palavras era como um cantor perder a voz. E era assim que eu estava: sem voz.
Sem a minha voz, meus planos estavam por um fio. Toda a imagem que tinha de como seria minha vida não parecia valer mais nada. Elas não passavam de meros sonhos, daqueles que não temos vontade de acordar nunca mais. Fui invadida por medos e inseguranças, duvidando da minha capacidade e temendo uma vida sem grandes desafios. Ou pior: Uma vida em que eu tivesse desafios e os achasse inalcançáveis.
Admitir ter perdido o tal dom? Nem pensar! É difícil demais dar adeus a algo tão valioso em nossas vidas. E sempre foi assim que eu encarei a escrita, desde a minha primeira leitura, desde a minha primeira redação. Valiosa.
Mas decidir meu futuro com uma caneta Bic me deixou paranóica. Provas, futuro, profissão. Nada mais parecia certo. Aonde minha certeza havia se metido? Era eu que estufava o peito para dizer a grande escritora que seria e a grande jornalista que me tornaria, não era? E eu dizia de coração, porque sinceramente não me imaginava fazendo nada mais além disso: escrever.
De certa forma, nunca pensei na profissão como um modo de se conseguir mais dinheiro, até porque o dinheiro nunca foi o me atraiu. Eu a escolhi pelo prazer. Sim, porque o prazer que eu sentia cada vez que escrevia um texto não era normal. Eu soube no instante em que escrevi minha primeira redação que aquela seria minha paixão, que me acompanharia pelo resto da vida. O simples jeito de descrever lugares, dar vida a personagens e sentir-se dentro daquele cenário, por mais louco que fosse, me completava. Apesar da minha vida nunca ter sido um mar de rosas, esse era o meu refúgio.
Então, como seria possível dar adeus a isso?
Simplesmente não foi possível. Eu travei sim, mas voltei. Em cada palavra e em cada linha deste desabafo, eu voltei. Afinal, nunca vi um vencedor desistir daquilo que ama.


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