segunda-feira, 30 de maio de 2011

Diga que vai me amar amanhã de manhã


Ela o observava atentamente enquanto acariciava seu cabelo. Deitado com a cabeça em suas pernas, ele dormia num sono suave. Charlotte sentiu-se ligeiramente boba pelos pensamentos que rodeavam sua cabeça. Há um mês, jamais permitiria tais pensamentos apaixonados. Sempre achou um exagero a descrição de sentimentos que os casais demonstravam, principalmente a quantidade ‘extrema’ de amor nos livros. Talvez por isso tenha se recusado a ler um romance desde os 13 anos.
Aliás, a última vez que permitira se apaixonar havia sido por um ator canadense de um drama pós-guerra que assistiu num festival de filmes antigos. O sujeito devia ter uns 95 anos hoje, mas em 1969 era um baita de um galã.
Mas porque ela se esquivava tanto do amor? Na verdade, odiava a ideia de ficar com alguém por conveniência, sem sentir nada demais. Apesar de não ser fã dos livros românticos, sempre teve curiosidade em saber como era sentir-se daquela maneira, como se houvesse encontrado no amor alguém pelo qual valia à pena dedicar sua vida. Mas era muito ligada à realidade. Depois de uma pesquisa feita por si mesma, concluiu que as chances de se encontrar alguém que tivesse o poder de despertar tamanha alegria descrita nos livros, nos roteiros de cinema e nos comerciais de TV eram de 1 em 1 milhão. Talvez no meio do caminho as pessoas pensassem ter encontrado esta raridade, mas a verdade é que um tempo depois percebiam ter se enganado. Aquilo não era amor. Essa era a conveniência que a incomodava.
Mas naquele momento, enquanto todos os pensamentos bobos passavam por sua cabeça, viu sua teoria de anos desaparecer. Suas chances eram apenas de uma em um milhão, mas lá estava ela diante do amor de sua vida. Só podia ser sonho. A realidade não seria tão gentil com ela, seria?
Ora, pois ele poderia muito bem estar sonhando com outra. Talvez tirasse a aliança sempre que entrasse no carro para trabalhar, sorrisse para uma garota bonita e mais nova. Deve ter desejado nunca mais vê-la quando discutiam, ou pensasse em como seria sua vida se ainda fosse solteiro.
Ficou insegura. Ele podia ser o amor de sua vida, com toda certeza, mas seria ela o amor da vida dele? Ele daria sua vida por ela do modo como ela ofereceu a dela?
Charlotte mordeu o lábio, pensativa e apreensiva. Desejou que aquele momento fosse eterno. Ela estava diante do maior terror, mas ao mesmo tempo da maior maravilha de sua vida. Poderia perdê-lo a qualquer momento, seu amor podia não ser o suficiente. Era isso, ela havia se tornado dependente de uma baboseira romântica. Seus sentimentos haviam tornado-se maiores do que sua razão. Havia cometido o erro de tornar-se um dos personagens que tanto ridicularizava.
Enquanto pensava em todas as possibilidades de fracasso de seu casamento, Charlotte foi surpreendida pelo sorriso de seu marido, que a olhava maravilhado. Foi quando soube: o amor de sua vida fazia dela a mulher de sua vida.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Carta aos preconceituosos de plantão


Falar sobre preconceito nunca é clichê. O que, convenhamos, é um saco. O preconceito em si deveria ser clichê. E bem, ele é para as pessoas sensatas, informadas, modernas, humildes e HUMANAS. Humanas de verdade mesmo. Estou farta de ver e ouvir todos os absurdos que tenho ouvido. A maior parte do que ouço vêm com a famosa desculpa: “Ah, relaxa. É brincadeira”. Não sou chata, não sou estraga prazeres. Adoro uma piada, uma brincadeirinha. Mas brincadeiras à parte, tem uma coisa que chamamos de NOÇÃO. Aquela coisinha que devia nos impedir de agirmos feitos completos irracionais presunçosos, sabe? Além do mais, tenho pelo menos meia dúzia de ditados que poderia usar para descrever minha tamanha revolta com certas brincadeiras. Gosto de usar o famoso: “Costume de casa vai à praça”.
O crescimento do ser humano começa na cabeça, certo? Então é, no mínimo, impressionante ver pessoas que planejam grandes coisas para suas vidas serem donas não apenas de ambição, mas também de preconceitos. Contra a ambição, eu? De jeito nenhum! Sou total a favor daquela ambição saudável, afinal, querer uma vida boa virou crime, por acaso?
O grande problema está na falta de humildade. Tem muita gente por aí pisando nos outros para se sentir melhor, baseando-se no que a imagem têm a oferecer e não no conteúdo. Pessoas que nunca devem ter ouvido o tal do “não julgue um livro pela capa”. Para pessoas assim, eu serei obrigada a transmitir más notícias: Você não é perfeito. Não há melhor nem pior. Do pó viemos, ao pó voltaremos, lembra disso? Experimente ler um livro, estudar um pouco de história, conhecer quem você critica por não ser o ideal de beleza que você criou em sua cabeça. Aliás, por que essa vontade descontrolada de ideal de beleza? As diferenças existem, filho! A beleza é tão passageira quanto às mudanças de humor de uma mulher com uma TPM brava.
Quer uma dica? Duas palavrinhas pra você: Conhecimento e Informação. Querido, ignorância está fora de moda. Faça uma limpeza geral em seus conceitos e jogue fora tudo aquilo que não presta: preconceito, futilidade, inveja, arrogância, presunção. Aproveite para incluir uma lavagem a seco em suas opiniões ultrapassadas e peça de brinde um pouquinho de humildade. Daí, quem sabe ao invés de cultivar coisas ruins você não acabe cultivando o que há de bom na vida, hã? Dinheiro, beleza...Tudo isso passa. Ao contrário de seus valores, que serão eternos. Te acompanhará por toda sua vida e até depois da sua morte.
Aliás, um pouquinho de respeito não faz mal a ninguém, não é mesmo? Pra você, que tal um POUCÃO de respeito? Não fazer com os outros o que não quer que façam com você faz todo sentido. Já se imaginou sendo desrespeitado por si mesmo? Você não agüentaria, acredite.
Deixo pra você, meu querido, as boas vindas ao mundo dos sensatos, caso tenha decidido mudar de postura. Mas se resolveu continuar do mesmo jeitinho, piorando a cada dia, deixo o meu “Boa sorte” e um lembrete que espero que você não se esqueça: Tudo que vai, volta.


* Todos os ditados populares citados acima são de fonte exclusiva da melhor mãe do mundo: a minha (HAHA).

domingo, 22 de maio de 2011

Bad reputation


Demi atravessou a porta da sala e se viu cercada de olhares de surpresa e espanto. Tentou fingir que nada demais havia acontecido. Era apenas a mesma Demi entrando pela mesma porta de sempre, com as mesmas pessoas mesquinhas e superficiais de sempre. Mas ela sabia bem que aquilo não era verdade.
As pessoas eram as mesmas sim, suas atitudes provavelmente não haviam mudado no tempo em que ela permaneceu fora. Provavelmente, com sua rápida saída de lá, trataram logo de procurar outro para encherem de insultos e abalarem sua confiança. “Eles não fazem por mal”, dizia seu lado bom, que tentava convencê-la de que perdoar é viver.
“Claro que não.” – Pensava ela, em contrapartida – “Fazem por que suas vidas são podres demais. Machucar os outros os impede de serem machucados.”.
A Demi que atravessou aquela porta era outra. É claro que eles estavam chocados. Foi difícil reconhecê-la sem o aparelho, os óculos e com a proporção de seu corpo bem mais magro. O visual de “dane-se” que ela havia adotado não era nada comparado à sua nova postura. Dava para se perceber somente de respirar o mesmo ar que ela. Ela tinha segurança. Mais do que isso, ela tinha total segurança de si. Mas ela não sorria, apenas mantinha sua expressão fechada. Seus olhos duros sobre cada rosto que a olhava com surpresa e cochichava algo com a pessoa ao lado.
A segurança estava ali, mas ao mesmo tempo seu coração estava fechado. Ela encarou todos aqueles que faziam questão de humilhá-la em outros tempos, e não desviou o olhar até que eles o fizessem. Alguns sentiram um frio na espinha. Cogitaram na possibilidade dela estar armada, e de que todos morreriam devido à sua vingança.
Aqueles longos passos em direção à sua mesa foram seguidos pelos olhares de espanto, por hipóteses absurdas e dúvidas de todos os tipos. Mas quando se sentou, sorriu de forma sarcástica, quase como se achasse a situação uma piada. Abriu seu caderno e começou a anotar o que havia no quadro.
Estava um pouquinho orgulhosa. Transformou anos de desrespeito em temor em apenas alguns segundos. Sabia muito bem que medo não era igual a respeito, mas pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se superior a todos aqueles rostos que tanto a fizeram chorar quando ela não passava de uma “boa garota”.


Não sei o que deu em mim, mas quando a inspiração bate, não têm como ignorar. Haha

Créditos da imagem: http://www.depoisdosquinze.com/



sexta-feira, 20 de maio de 2011

Troubles? Forget me!


Estou atolada. Ou melhor, estou cansada, exausta, sentindo o peso do mundo sob minhas costas (notem o drama exagerado). Estou roendo as unhas antes intactas, perdendo a paciência que não tenho e encontrando a sabedoria que nunca cogitei ter, ou ser capaz de usá-la.
Mesmo assim, me sinto usada. Um mero objeto que trabalha para o benefício de outros. Pior do que isso, um objeto mudo. Incapaz de manifestar toda sua indignação para não causar uma possível, dramática e exagerada 3ª Guerra Mundial interna.
Estou desejando uma dose fora do normal de ousadia e perspicácia. Coragem também não me faria mal, assim como um belo e alto: “DANE-SE, ENTÃO!”.
Gostaria de saber como seria se não me importasse tanto. Se fosse desleixada o bastante para deixar para a última hora e ainda sim me sentir no direito de tomar as decisões que eu quisesse, quando estas tinham a ver com a minha vida. Bem, no caso não seria apenas a minha vida, mas...Ah, quem liga? Queria fazer minha parte, jogar em cima da mesa e dizer: Virem-se.
Queria? Queria nada. Ser egoísta e irresponsável não faz meu perfil. Não conseguiria ficar apenas observando os outros se matando de trabalhar por algo que também dizia respeito a mim. Eu me sentiria, no mínimo, inútil. E Deus é testemunha do quanto odeio me sentir inútil.
O que eu queria mesmo eram algumas horas de esquecimento. Problemas, trabalhos, intrigas...Me esqueçam! Seria apenas eu e minha tranqüilidade, só por algumas horas. E que nessas horas de esquecimento fossem incluídas conversas com a melhor amiga, as brincadeiras com o colega do fundão, as piadas engraçadinhas da palhaça daquela amiga antiga, os beijos saborosos do primeiro amor, os flertes daquela gracinha de garoto do outro lado da sala.
Quem eu quero enganar? Eu quero aquele tempo de volta. Queria os momentos inesquecíveis, os amigos queridos, as paixões platônicas, os rolês de índio que só a gente conhece. Queria tudo isso de volta só por algumas horas, talvez alguns minutos, eu toparia até mesmo por um momento. Apenas um momento, até que finalmente eu pudesse respirar fundo, abrir os olhos, levantar a cabeça e encarar pra valer tudo que viesse pela frente. Porque daí eu saberia que a minha vida não se resume apenas àquilo.
Eu saberia... Eu saberia?
Eu sei.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Eu sonhei um sonho


Ando sonhando demais. Ontem mesmo me dei de presente 20 minutos a mais na cama para poder voltar ao sonho gratificante que tomou conta da minha noite. O sono ainda forte ajudou a voltar para a mesma cena da qual havia sido interrompida antes do som de “Three little birds” ecoar pelo quarto naquela manhã de quarta-feira.
Era como se eu tivesse entrado na cena do quadro pendurado em minha parede. Lembro de meus sorrisos, lembro da alegria que senti, lembro até mesmo da trilha sonora, composta por alguma música que eu deva gostar muito.
O sentimento de liberdade estava tão presente! E nem era um daqueles sonhos em que eu parecia voar entre as estrelas. Meus pés estavam firmados no chão, minha mente estava paralisada de emoção. Era quase como se eu sentisse a brisa daquela cidade, como se ouvisse as gaivotas, as ondas do mar, o riso dele.
Quem é ele? Nem eu sei, colega. Mas parecia ter uma habilidade inacreditável de me fazer rir. Talvez só mais um de meus imaginários amores ideais. Em sonho, todos eles são exatamente como desejamos. Aposto que o moreno dos meus sonhos era ótimo de papo, tinha uma consciência ecológica, era esperto, engraçado, romântico. Não importava. Meu foco não estava exatamente nele.
Eu ainda estava presa ao lugar. Por que me fascinava tanto? De repente, o desejo de estar ali aumentou. E olhe só que alegria, eu estava mesmo! Não era demais?! É claro que era, até Bob Marley mais uma vez ecoar pelo quarto, despertando-me de meu sonho incrível.
Mas logo que levantei, a confusão tomou minha mente. Com o que foi que eu havia sonhado, afinal?
Mesmo sem saber ao certo o que haviam sido aqueles breves momentos em meu sonho, levantei desejando voltar a ele. Me contentei em apenas manter o sentimento de animação que ele havia me trazido.
Mas se quer saber a verdade, estou me perguntando até agora: “O que foi aquele sonho?”. Ele não fez sentido, mas me fez um bem danado.

domingo, 15 de maio de 2011

And I'm still trying change my ways...WHY?

Tem vezes que sou louca por uma mudança. Vezes em que bate uma vontade louca de mudar minhas roupas, meu cabelo, minha rotina, minha vida em geral. Ás vezes a vontade de mudar é tanta que considero a ideia de mudar a mim mesma. Isso mesmo. Deprimente? Ah, nem tanto. Vou admitir, tem dias que nem eu mesma me suporto. E não, não sinto orgulho disso.
Isso acontece naqueles dias em que tenho vontade de jogar tudo pro alto, desligo o telefone, me desconecto das redes sociais, sumo. Viro uma completa antissocial, morrendo de vontade de pegar um ônibus que me leve a qualquer lugar novo, diferente. Aliás, tenho uma vergonha tensa de morar em São Paulo e não conhecer quase nada. Eu nunca sequer fui ao Masp. Coisa que está na minha listinha de visitas, não esquentem!
O problema dessas minhas repentinas vontades de mudar são, provavelmente, minha impaciência e o sentimento de dependência que ando sentindo desde que completei meus 18 anos. Ainda me sinto uma adolescente surtada quando, na verdade, desejava já sentir na pele o amadurecimento, as grandes conquistas, o sentimento de liberdade (por menor que seja ás vezes). Acho que gostaria de estar me sentindo um pouco mais adulta e menos infantil. Tudo bem, fico no meio desse mix de sentimentos.
Acabo de pensar que devo ter nascido já com pressa. Não que eu goste de ser assim. Adoraria ser mais calma, paciente, compreensiva. Acontece que no meio de todos esses adjetivos, fico sempre em cima do muro. Quando desço desse muro, sou, como diz minha mãe, oito ou oitenta. Exagerada. Exagero que, creio eu, é companheiríssimo da pressa.
E não há discurso de “aceite-se como você é” que me faça mudar de opinião. Tudo isso porque eu ainda tenho sérias dúvidas sobre quem eu sou. Outra coisa que gostaria de já ter resolvido até os 16 anos mais ou menos. Tremenda ironia, já que sou super apressada, certo?
Bem, mas acho que ninguém ao certo tem uma ideia formada sobre si mesmo. Cada dia da nossa vida é uma nova descoberta, não é? Um dia dizemos que detestamos sertanejo e no outro não paramos de ouvir. Acreditamos detestar peixe e de repente descobrimos gostar do gosto de sardinha. Nem consideramos a ideia de ouvir por um segundo sequer Michael Bublé, e no momento seguinte não paramos de ouvir a mesma música do sujeito. Coisas desse tipo me fazem lembrar da frase que sempre pareceu definir minha vida (e vocês até podem ver em algumas das minhas postagens antigas): “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.”.
Talvez eu seja assim mesmo. Por vezes romântica, outras antissocial, eventualmente surtada, ligeiramente medrosa, super corajosa, decidida, com dúvidas. Ás vezes sou tudo e mais um pouco, outras vezes pareço não ser nada. Por vezes sou super legal, mas quando dou pra ser chata saia de baixo! Intelectual e preocupada com as causas importantes, desleixada e nem aí pro que rola em volta.
Sei lá, eu sou simplesmente assim...Indefinível.