terça-feira, 8 de outubro de 2013

O amor acaba


 Nos últimos meses tenho me fechado para o amor. O amor que digo é o que minha mãe chamaria de "safadeza", mas não no sentido 'safado' da coisa - minha mãe não é lá muito romântica.
 Imagino que isto seja um mecanismo de defesa. Parece que só agora eu consegui me dar conta de como perdi meu tempo com as pessoas erradas. O chato de descobrir isso é que, no fundo, a gente sabe que foi insuficiente, e procurar saber o que é que nos tornaria suficientes é o mais irritante dos mistérios.
 Tão irritante que desisti de tentar achar a solução para a insuficiência que aparenta me habitar. Eu não tenho me forçado a agradar ou conhecer pessoas. Eu mal consigo ter paixões platônicas por caras bonitos na estação do metrô.
 O que me consome agora é a oportunidade de me maravilhar.
 Ah, eu não consigo sequer explicar como foi a sensação de ir à um musical, ou a de assistir à um show de rock na mesma noite. De andar pelas ruas vazias dando risada com uma amiga no meio da madrugada e de tomar um café na singela e sofisticada coffee shop bem perto de uma das mais hipnotizantes livrarias que já entrei. Ou agora mesmo, ao terminar de assistir o fabuloso "Meia noite em Paris" de Woody Allen.
 Em todos estes lugares e situações, fui transportada para universos que me pertenceram por horas, minutos e segundos. Como o personagem meigo e sonhador de Woody, Gil, eu gostaria de não me desvincular destes momentos. Eles foram doces realidades ilusórias que me conquistaram de maneira que homem nenhum conseguiu.
 A solidão é sempre mal vista. Sempre a ardilosa senhora da dor e do medo. Mas pra ser bem honesta, por mais que ela insista em me dar cutucões vez ou outra, é ela que tem me dado o tempo que preciso para me conhecer.
 Uma vez, passei muito tempo sem me apaixonar e me descobri. Por mais desolador que parecesse, quando finalmente o fiz eu tinha certeza de quem eu era e do que queria. Já provara do gosto de estar sozinha e isso não havia me matado, só me mudado.
 Só que a gente se apaixona vezes demais nessa vida. Acabamos por perder a razão, e pior: às vezes nos perdemos. Nos perdemos em amores que não passaram de paixões, desejos e utopias. Na maioria dos casos, me perdi nos universos paralelos perfeitos e dei de cara com a parede centenas de vezes, com a mesma pessoa. Quando não fui ingênua, fui sórdida, desleal. Me transformei nas pessoas que haviam me ferido e me senti no direito de usar. Como mulher, sempre com doses extras de sentimentalismo, acabei me apaixonando por meu objeto de 'vingança', e foi uma tremenda besteira.
 Minhas desilusões dariam um livro, ensopariam de lágrimas um travesseiro em uma noite chuvosa, gerariam crônicas cômicas... Guardá-las poderia me inspirar a escrever algo muito bom no futuro, quem sabe até o roteiro de uma comédia romântica - só que mais interessante, com cenários em Paris e New York.
 Mas eu não quero mais carregá-las comigo. São como bons livros amontoados numa caixa: inspiradores, porém muito pesados pra uma garota de 20 anos carregar por aí o tempo todo.

"(...) a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba."

 Paulo Mendes Campos.