segunda-feira, 17 de abril de 2017

Setenta vezes sete



Eu quero falar sobre misericórdia.

Eu descobri que, apesar de achar que eu não sou uma pessoa tão ruim assim, estou passando por uma fase meio insensível.

Não acho que a insensibilidade é ruim quando aplicada em certas situações, mas como tudo na vida, insensibilidade demais não dá certo.

Então, digamos que eu estou vivendo alguns momentos nos últimos meses meio extremos com relação a algumas pessoas próximas, e esses momentos me fizeram ir de "pessoa que se importa demais" para "pessoa que não dá mais a mínima". E eu não estou falando de quando a gente enche o peito pra dizer que não tá nem aí, mas por dentro tá ligando sim. A coisa é mais séria do que isso: eu não estou dando a mínima.

Por isso, não estava tão preocupada. Mas acabo de notar que isso é sim preocupante.

Mesmo quando estou na minha razão, esta queridíssima amiga não me faz sentir menos pesada - figurativamente falando. Na verdade, o peso da indiferença pode muitas vezes ser maior naquele que a pratica do que naquele que a recebe.

Aquele que a recebe obviamente está numa posição bem mais difícil e tem que lidar com muitas outras questões mais complexas, mas o responsável por tal indiferença tem um papel muito grande nessa história também. Ele tem nada mais, nada menos, que o poder de escolher entre ser alguém que vai perdoar, ou ser o cara da razão que está pouco se lixando pra fulano.

Digamos que eu eu sou o segundo... no momento.

Eu tenho pensado muito sobre isso, e eu vou te falar: perdoar pessoas é um troço complicado.

Quando elas estão longe do nosso convívio diário, a coisa fica um pouco mais fácil. O tempo vai passando e a ferida vai curando, e quando você vê nem dói mais. Até aí tudo bem.

Mas vai conviver com alguém que te tira do sério todo santo dia. Aí a conversa é outra!

Então, como a boa cristã que sou, tenho questionado Deus quase todos os dias sobre como devo perdoar alguém que sequer liga em ser perdoado. Alguém cujos erros continuam sendo os mesmos, que continua a machucar. Como pode ser humanamente possível liberar perdão para alguém que te machuca todos os dias?

"70x7"*, é o que recebo como resposta. E isso me constrange.

Me faz perceber que, mesmo estando tãaao certa, estou sempre lidando com a coisa toda da maneira errada. O problema pode começar em alguém, mas acaba sempre em mim. Na maneira como decido lidar com isso.

E eu não estou lidando muito bem.

Em busca de alguma resposta que vá além de "70x7", peguei um de meus livros cristãos e fui confrontada com mais uma afirmação:

"A obediência diz respeito às suas ações, e o querer diz respeito à sua atitude; e a sua atitude é péssima!"

Calma! Esta não foi uma crítica direta. No livro "Movidos pela eternidade", o autor fala a respeito de suas próprias experiências, e como passou por uma fase parecida com a que estou lidando. Ele diz algo sobre a atitude que estava tomando diante das adversidades: mesmo enquanto fazia tudo certo, errava no que dizia respeito a criticar, reclamar e julgar, o que afetava a motivação que ele tinha de servir ao próximo - que é o básico do Cristianismo.

Acho fascinante como, no final das contas, tudo se resume a uma decisão nossa. Por exemplo, eu posso não estar afim de ajudar alguém hoje, mas eu decido fazê-lo. Eu posso escolher entre ficar na cama o dia todo, ou sair e enfrentar o mundo. Eu posso não querer perdoar, mas eu decido fazê-lo mesmo assim.

Isso me mostra que mesmo quando eu não sinto que devo fazer algo - talvez porque esteja insensível ou porque tenho medo - a escolha de fazê-lo continua sendo toda minha. Eu posso pensar por mim mesma e decidir por em prática aquilo que aprendo todas as vezes que decido entrar na presença de Deus ou posso deixar isso pra lá e continuar vivendo do jeito que me convém: sem confrontar meu orgulho e meus medos.

Na segunda opção, eu sou mestra. Mas não tá valendo a pena.

O que me resta então é pedir por um pouco mais de misericórdia. Não tanto no trato dos outros para comigo, mas sim misericórdia que flui do meu coração para com os outros.

Então, decido aceitar o desafio. Quem está comigo?



*Mateus 18:21-22: Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Jesus respondeu: "Eu digo a você: Não até sete, mas até setenta vezes sete".

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Aquele da mandala improvisada


A ideia era fazer uma mandala. Daquelas bem bonitas, com as linhas entrelaçadas de forma harmoniosa, usando cores que representavam todos os pensamentos e energias positivas que deviam emanar de nosso interior junto com as expectativas do novo ano.
Eu até tentei seguir à risca todo o processo no início, mas tenho que admitir que aquilo virou uma bagunça. De repente, as linhas não estavam mais tão alinhadas de forma harmoniosa como estavam no início, e depois de um tempo já cansada de tentar fazer tudo ficar perfeito, eu comecei a passar a linha uma em cima da outra, pra ver no que ia dar.
Eu estava improvisando. 
E não é isso mesmo que a gente faz a vida toda? Improvisa?
Não estou tentando adotar o discurso de que "a vida é um show e blá blá blá". Longe disso. Mas é engraçado pensar que nossos planos nem sempre saem da maneira como imaginamos. Ás vezes eles saem o oposto do que gostaríamos, vão ladeira à baixo. Outras, até que tá quase lá, mas a gente vê que mesmo que ele chegue LÁ - seja lá onde isso fique - não é tão bom quanto achávamos que seria.
Fazer planos é importante, lógico. Pra começo de conversa, nos dá uma luz do caminho que devemos trilhar pra chegar aos objetivos. Mas estar preparado para ver seus planos fracassarem é primordial para se chegar a algum lugar - mesmo que esse lugar não seja LÁ.
Vou te contar uma coisa louca. Ás vezes, coisas bem melhores acontecem longe dos nossos planos. E tem vezes que coisas ruins acabam acontecendo também, sejamos realistas. Mas as ruins podem muito bem ser parte da construção de uma estrutura muito mais sólida do seu caráter, que irá refletir positivamente no decorrer da sua vida. Você só precisa se permitir aprender alguma coisa no meio de todo esse caos em que a gente vive.
Minha mandala, como vocês podem imaginar, não ficou tão bonita quanto eu planejava. A bichinha era a mais 'diferente' no meio de todas aquelas penduradas. Mas a sua falta de perfeição se destacou tanto no meio de todo aquele carnaval de imitações que foi como se eu conseguisse vê-la refletir uma beleza audaciosa. 
Pelo menos pra mim. Gosto não se discute, não é mesmo?

Sala de espera



Hoje eu me dei conta de uma coisa: eu estou numa grande sala de espera da vida. Parece até que eu acabei de chegar, mas na verdade eu já estou por aqui há um bom tempo.
E se você é um ser humano - e creio que seja - deve saber muito bem que esperar é o ó - uma velha expressão para lembrar dos bons tempos.
Se pudéssemos escolher algo prático para nossas vidas e essa fosse uma das opções, com certeza escolheríamos não esperar. A gente quer tudo pra agora, porque estamos em um momento da história em que não há tempo a perder. Tudo muda muito rápido e você não tem que querer se adaptar, mas você precisa fazer isso.
Eu trabalhava numa empresa da internet onde as mudanças eram tão constantes que, em uma das reuniões, foi dado um exemplo interessante sobre isso: “aqui é assim: o carro tá andando e a gente tá trocando os pneus com ele em movimento mesmo”.
Tenho uma notícia pra você: todo o resto também é assim. Por isso que às vezes temos a impressão de que estamos mais velhos do que realmente somos. É como se, ao passar o período de um ano, a sensação é de que foram dois anos! Não é uma loucura??
Quero deixar bem claro que não digo isso com admiração alguma. Se dependesse de mim, algumas coisas podiam ser mais lentas. Mas há uma ironia em que, mesmo vivendo nesta constante atmosfera de aceleração todos os dias, alguns de nós continuamos na sala de espera. E ainda que odiemos as vezes que as coisas sejam tão rápidas, odiamos mais ainda que, na sala de espera, a coisa seja devagar até demais.
Geralmente, quando estou na sala de espera de um lugar em que nunca estive antes, e não conheço bem os procedimentos, eu fico meio ansiosa e insegura. Meus pensamentos são sempre: Precisa pegar senha? É aqui mesmo? Mas vão chamar pela senha ou pelo nome?
Ou seja, eu tenho expectativas que tendem a pender tanto para o lado positivo, quanto para o negativo. Sabe, eu posso ficar horas ali e sequer ser chamada se não for a sala certa. Ou eu posso ser chamada e receber boas notícias ou um novo desafio. Vai saber.
E para não ajudar, salas de espera são muito silenciosas.
Eu não sou o tipo de pessoa que gosta de bagunça e muito barulho. Mas pelo menos uma bagunça vez ou outra meio que mostra que tá todo mundo confuso mesmo, e estamos todos no mesmo barco.
No silêncio, você não sabe se o fulano que tá logo ali tá tão confuso quanto você ou se sabe muito bem o que tá fazendo. Se é que tem alguém na sala com você! Pode ser apenas você e o seu próprio silêncio - pior ainda.
O fato é que salas de espera geram uns sentimentos muito loucos na gente. Sendo assim, nada mais natural do que de vez em quando darmos uma enlouquecida básica pra tentar suprir tanta coisa que se passa na nossa cabeça.
Então, se você, assim como eu, está nessa grande sala de espera da vida, você vai ser chamado alguma hora. Não é que nós escolhemos estar aqui, mas por alguma razão nós precisamos disso.
E que escolha nós temos, não é? Ou acreditamos, ou seremos apenas idiotas sentados numa sala vazia - ou cheia, sei lá. Tire aí suas conclusões.