terça-feira, 27 de maio de 2014

Um quarto de pensamentos


 Meu quadro de avisos é uma bagunça de post its coloridos sem nexo e poucas imagens que ilustram um passado interessante e uma apreciação por rabiscos e liberdade.
 De minha caixa de som só ressoam ritmos antigos, guitarras ferozes, vozes roucas e suaves, palavras doces, revolucionárias, amarguradas e esperançosas, mas nunca desprovidas de sentimento. Vestígios de curiosidades estão espalhados: livros em cima da escrivania, jogados na cama, amontoados na prateleira empoeirada e escondidos na bolsa largada num canto qualquer. Falam sobre tudo, analisam comportamentos, revelam segredos, intimidam, empolgam, criam expectativas e geram ilusões. Sinto-me mergulhar num abismo. A escuridão e a luz são relativas e mal lembro de minhas aflições tão banais e habituais. 
 Aqui, o que me amedronta mesmo é esta silenciosa solidão ante à falta de perspectiva. A solidão diante de um emaranhado de pessoas e vidas intangíveis, fingidas. Ser uma delas é inevitável - e um pesadelo. Talvez estando imersa nos pensamentos vorazes destes escritores da revolução, artistas brilhantes e inspiradores, meu coração cumule-se de essência e dê sentido à uma vida moldada de delírios.