Querido Papai Noel, devo começar esta carta deixando bem claro alguns pontos muito importantes. Primeiramente, eu não acredito realmente em você. Minha mãe acabou com essa ilusão logo que passei a me entender por gente. Descobrir que quem na verdade comprava presentes era meu pai não foi lá uma coisa tão chocante - mas eu acreditava mesmo que a fada do dente pudesse fazer brotar dinheiro debaixo de meu travesseiro. Não que eu não já desconfiasse. O Papai Noel das festas de Natal do trabalho do meu pai não me enganava com aquelas canetas que mal funcionavam como presente.
O segundo ponto é que eu não sou lá muito fã do Natal, apesar de ter um amor incondicional pelo clássico "Esqueceram de mim 2". Macaulay Culkin não me ensinou o verdadeiro significado da data, mas me fez ter paixão por New York. A cidade faz a ocasião parecer ter um real significado, mesmo depois de saber que dia 25 de dezembro é, na verdade, algo como o aniversário do deus Sol. Pois é, você não me engana!
Mas dúvidas a respeito de sua existência - e do papel insignificante que você tem em minha vida - à parte, gostaria de tentar algo novo.
Acredito ter sido uma boa garota este ano. Eu saí de minha zona de conforto uma dezena de vezes, fiz coisas que jamais pensei que conseguiria, assumi minha verdadeira identidade e não permiti que os outros conseguissem abalar quem eu sou com palavras cortantes e que não me acrescentam nada. Posso lhe dizer que passei da conturbada fase onde ficava procurando respostas a respeito de quem eu sou ou deveria ser, do que deveria fazer ou de como deveria me portar para que as pessoas gostassem de mim. Significa que saí da parte irritante da adolescência., onde eu estava sempre procurando ser aceita ao invés de tentar me aceitar.
Mas mudanças como essas não vêm sem grandes consequências. É, seu Noel. Eu passei por belos perrengues! Eu não estava errada quando pensava que crescer era assustador. Mas a gente acaba percebendo que é um medo bom. Tem aquele friozinho na barriga e a ansiedade, sinais claros de que mudanças estão por vir. Para aturá-los quem nos apóia é a curiosidade. Quem em sã consciência consegue ficar sem o novo? E se o faz, consegue realmente ser feliz? Eu duvido.
Admito que fiquei um pouco mais vaidosa do que o normal. Parar sempre que vejo meu reflexo apenas para conferir como estou talvez mostre meu lado mais narcisista, mas considerando que não me transformei em uma individualista severa ou coisa assim, até que não estou ruim, não é mesmo?
Também aprendi lições extremamente importantes sobre relacionamentos. Eu passei a ter paixão pela comunicação, mas quando o assunto é 'gente' durmo sempre com um olho aberto. Não confio nas pessoas. Elas mentem, manipulam e magoam. Sei disso porque sou uma delas. Eu provavelmente terei que lidar com minha falta de confiança mais pra frente, mas por enquanto deixemos assim, neste claro estado de realidade que nos abate diariamente.
Apesar de tudo, fui uma boa amiga. Gostaria de ter sido ótima, mas não consegui chegar lá. Não fui sensível, pelo contrário, fui bruta quando fingiam honestidade. Isso me tira do sério. Ao ser romântica quando tratava-se de alguém, me decepcionei de novo. Deve ser por isso que deixei o romantismo para os livros. Resolvi poupá-lo para quando valesse a pena.
Ainda não valeu.
Eu não cumpri muitas de minhas resoluções do ano passado - e também não ganhei o Iphone 4s que pedi - então estamos quites. Não vivi um grande amor, não levantei os braços como Rocky Balboa logo depois de subir correndo vários degraus, não acumulei 500 amigos no Facebook e não li um livro por semana como havia prometido.
Ao invés disso, venho retirar as promessas. Elas me prendem, me limitam e me desanimam. Estou apostando no imprevisível. Me disseram que é uma boa.
Então, não lhe peço nada e definitivamente não comprarei um ser de pelúcia que me lembra você - até porque já combinamos que você não é real. Mas escrevo essa carta para lhe agradecer. Apesar de ser obviamente um símbolo poderosíssimo do consumismo, você meio que alegra as pessoas. Pessoas alegres normalmente me deixam feliz também.
Além do mais, está bem claro que toda aquela baboseira pregada por aqueles que lhe dão voz transforma as pessoas em seres mais benevolentes nessa época do ano. Uma farsa, eu sei, mas considerando o estado de espírito mesquinho que a raça humana têm se encontrado, com o senhor estamos é no lucro!
FELIZ NATAL!