segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Para o coroa lá do pólo norte



 Querido Papai Noel, devo começar esta carta deixando bem claro alguns pontos muito importantes. Primeiramente, eu não acredito realmente em você. Minha mãe acabou com essa ilusão logo que passei a me entender por gente. Descobrir que quem na verdade comprava presentes era meu pai não foi lá uma coisa tão chocante - mas eu acreditava mesmo que a fada do dente pudesse fazer brotar dinheiro debaixo de meu travesseiro. Não que eu não já desconfiasse. O Papai Noel das festas de Natal do trabalho do meu pai não me enganava com aquelas canetas que mal funcionavam como presente.
 O segundo ponto é que eu não sou lá muito fã do Natal, apesar de ter um amor incondicional pelo clássico "Esqueceram de mim 2". Macaulay Culkin não me ensinou o verdadeiro significado da data, mas me fez ter paixão por New York. A cidade faz a ocasião parecer ter um real significado, mesmo depois de saber que dia 25 de dezembro é, na verdade, algo como o aniversário do deus Sol. Pois é, você não me engana!
 Mas dúvidas a respeito de sua existência - e do papel insignificante que você tem em minha vida - à parte, gostaria de tentar algo novo.
 Acredito ter sido uma boa garota este ano. Eu saí de minha zona de conforto uma dezena de vezes, fiz coisas que jamais pensei que conseguiria, assumi minha verdadeira identidade e não permiti que os outros conseguissem abalar quem eu sou com palavras cortantes e que não me acrescentam nada. Posso lhe dizer que passei da conturbada fase onde ficava procurando respostas a respeito de quem eu sou ou deveria ser, do que deveria fazer ou de como deveria me portar para que as pessoas gostassem de mim. Significa que saí da parte irritante da adolescência., onde eu estava sempre procurando ser aceita ao invés de tentar me aceitar.
 Mas mudanças como essas não vêm sem grandes consequências. É, seu Noel. Eu passei por belos perrengues! Eu não estava errada quando pensava que crescer era assustador. Mas a gente acaba percebendo que é um medo bom. Tem aquele friozinho na barriga e a ansiedade, sinais claros de que mudanças estão por vir. Para aturá-los quem nos apóia é a curiosidade. Quem em sã consciência consegue ficar sem o novo? E se o faz, consegue realmente ser feliz? Eu duvido.
 Admito que fiquei um pouco mais vaidosa do que o normal. Parar sempre que vejo meu reflexo apenas para conferir como estou talvez mostre meu lado mais narcisista, mas considerando que não me transformei em uma individualista severa ou coisa assim, até que não estou ruim, não é mesmo?
 Também aprendi lições extremamente importantes sobre relacionamentos. Eu passei a ter paixão pela comunicação, mas quando o assunto é 'gente' durmo sempre com um olho aberto. Não confio nas pessoas. Elas mentem, manipulam e magoam. Sei disso porque sou uma delas. Eu provavelmente terei que lidar com minha falta de confiança mais pra frente, mas por enquanto deixemos assim, neste claro estado de realidade que nos abate diariamente.
 Apesar de tudo, fui uma boa amiga. Gostaria de ter sido ótima, mas não consegui chegar lá. Não fui sensível, pelo contrário, fui bruta quando fingiam honestidade. Isso me tira do sério. Ao ser romântica quando tratava-se de alguém, me decepcionei de novo. Deve ser por isso que deixei o romantismo para os livros. Resolvi poupá-lo para quando valesse a pena.
 Ainda não valeu.
 Eu não cumpri muitas de minhas resoluções do ano passado - e também não ganhei o Iphone 4s que pedi - então estamos quites. Não vivi um grande amor, não levantei os braços como Rocky Balboa logo depois de subir correndo vários degraus, não acumulei 500 amigos no Facebook e não li um livro por semana como havia prometido.
 Ao invés disso, venho retirar as promessas. Elas me prendem, me limitam e me desanimam. Estou apostando no imprevisível. Me disseram que é uma boa.
 Então, não lhe peço nada e definitivamente não comprarei um ser de pelúcia que me lembra você - até porque já combinamos que você não é real. Mas escrevo essa carta para lhe agradecer. Apesar de ser obviamente um símbolo poderosíssimo do consumismo, você meio que alegra as pessoas. Pessoas alegres normalmente me deixam feliz também.
 Além do mais, está bem claro que toda aquela baboseira pregada por aqueles que lhe dão voz transforma as pessoas em seres mais benevolentes nessa época do ano. Uma farsa, eu sei, mas considerando o estado de espírito mesquinho que a raça humana têm se encontrado, com o senhor estamos é no lucro!

FELIZ NATAL!


domingo, 25 de novembro de 2012

Ego Machine



 Mais espertos, mais bonitos, mas cheios de si. O ego humano é ‘espetacular’ - ou pelo menos cria essa ilusão. Não há nada de errado em nos sentirmos a última cereja do bolo do universo, na verdade, é divertido. Pode não ser um belo exemplo, e nem construir o caráter, mas é divertido.
 Talvez o facebook seja o maior construtor de egos do mundo. Estamos sempre nos esforçando tanto para mostrar como somos felizes, importantes e descolados. Nós temos completa ciência de que ninguém realmente liga para o que fazemos, aonde imos ou com quem estamos namorando, a não ser que você seja um belo alvo de alguém - e isso pode aplicar-se tanto de forma positiva quanto negativa. 
 Viver de aparência não devia ser uma necessidade, mas nós gostamos de nos apegar à esse tipo de coisa, porque não importa o quanto estamos quebrados, vazios ou tristonhos por dentro, sempre haverá uma frase no face mostrando ao mundo que a vida é linda de tão divertida!
 Será a ignorância uma benção?

(Da série: "Coisas que escrevemos nos pedaços de rascunhos")

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

No limbo

 
 Costumava me prender aos estereótipos e tabus implantados em minha cabeça durante uma vida inteira. Recentemente venho me curando deste mal. Ele me tornava ingênua, medrosa e com ambições que só pareciam possíveis durante o sono. 
 Agora venho experimentando da curiosidade e da adrenalina de apostar todas as moedas apenas por diversão. Sou eu tentando ser feliz sem motivos exatos, respirando fundo como quem prendeu a respiração por vários minutos. Me parece que quando paro para pensar nisso - como neste exato momento - soa tudo bem complicado e utópico. Lembro dos problemas, me sinto estúpida pelas atitudes erradas que posso ter tomado ao longo do dia e pelas palavras mal colocadas nas frases. 
 Mas então vêm aqueles momentos incríveis em que os medos somem, as risadas permanecem, o coração fica a mil, onde a alegria é sentida em seu estado mais natural. E tudo parece tão simples.
 O problema são os momentos exagerados de reflexão. Fico aqui diante deste computador esperando me distrair e acabo o fazendo com meus próprios pensamentos. Quando dou por mim, estou dando atenção às minhas mais estúpidas teorias e agarrando-me aos meus mais antigos pavores. E isso por sua vez me leva a tomar atitudes um tanto detestáveis - coisa de gente neurótica - enquanto sigo numa busca implacável pela razão, que acabará não me servindo de nada.
 Este limbo onde me encontro - entre a razão e a felicidade - parece ser meio permanente. Mas é uma evolução, considerando que eu costumava estar sempre do lado da razão. Parecia mais certo, aconchegante e seguro, enquanto eu resistia bravamente ao sedutor chamado da felicidade. Ela devia estar bem disfarçada por ter me enganado de maneira tão convincente em todos estes anos. 
 Eu soube o que perdi no momento em que me senti finalmente livre. Tudo bem, é uma liberdade meio condicional, fruto de uma mudança interna gradativa, que exige uma paciência que está sendo adquirida sabe -se lá de onde! 
 O segredo está em aprender a conciliar razão e emoção. Quando dominamos essa arte, tudo parece mais leve, divertido e aturável, resultando no bom senso, tão subestimado e pouco utilizado em um período em que a solução da maior parte de nossos problemas parece estar concentrada nele.
 No debate entre razão e felicidade escolho este limbo, pois optar por apenas um deles parece a mais babaca das insanidades. Estou de mãos dadas com o melhor que os dois podem me oferecer.
 

domingo, 18 de novembro de 2012

Nine in the Afternoon



- Há quanto tempo está aí? – Perguntou Amy ao dar de cara com Ben olhando-a enquanto dormia.
- Uns dez minutos. – Respondeu ele.
- Isso é estranho. Principalmente porque não sou o que chamam de “bonita” ao acordar. – Disse sonolenta e cobrindo o rosto com a palma das mãos. Ben deu uma leve risada.
- Não seja boba. Você é linda.
- Considerando que já conseguiu me levar pra cama, vou supor que seu elogio faz parte do seu plano de garantir uma próxima. – Disse ela, agora se sentando e encostando-se à cabeceira da cama.
- Pode até ser. – Disse com um olhar pensativo. – Mas você é linda. Isso é um fato. Tem que lidar com isso.
 Ela deixou um sorriso escapar, mas logo se conteve. Observou o quarto, já iluminado pela manhã de domingo. Suas roupas estavam jogadas pelo chão, e lembrou-se instantaneamente de não deixar o lençol descobrir seus seios. Percebendo sua preocupação em mantê-los escondidos, Ben soltou um meio sorriso:
- Não está envergonhada, está?
- Claro que não. Só estou mantendo as “garotas” aquecidas. – Disse ela de forma bem humorada. Ele riu. Amy reparou que já ele já estava vestido, e então olhou para o relógio no criado-mudo. Ainda era cedo, e ela desejava dormir um pouco mais, o que não faria. Uma vez acordada, tinha que levantar.
- Pode dormir mais, se quiser. – Disse ele, como se lesse seus pensamentos.
- Não, obrigada. – A cabeça começou a latejar. “Aí vem a ressaca”, pensou, arrependendo-se de ter exagerado no vinho noite passada.
- Gostei de ontem à noite. – Disse ele.
- Fala da minha performance ou da maneira atirada da qual ignorei minha regra dos 8 encontros?
- Da perfomance, claro. Mas prefiro o termo “ousada”, ao invés do “atirada”.
- Que seja este o termo, então!
- Gosto de ousadia. Além do mais, você faz mais o tipo de garota que quebra regras, mesmo.
- Não as minhas. São como princípios. Aparentemente eles não resistiram a duas taças de vinho e uma rodada de tequila. – Disse ela, enquanto vasculhava por debaixo dos lençóis para ver se conseguia achar seu sutiã. – Ele sorriu, levantou e abaixou-se para pegar algo no chão. Estendeu o sutiã preto de rendas na direção dela, que se enrubesceu no mesmo instante.
- De qualquer forma, era nosso quinto encontro. O que são três a mais?
- Simples. Os primeiros três encontros definem o nível de intimidade intelectual, os próximos três serão a prova de que a ligação intelectual entre nós é a fonte da química física que pode, e possivelmente deverá acontecer entre o sétimo e oitavo encontro.
- Não me parece muito simples. Você tem um manual de como fisgar os caras aí na cabeça?
- É mais um manual de como fisgar um namorado.
- Hum. E ter essa conversa não quebra o protocolo desse manual?
- Não faz diferença. Você não é bem um namorado em potencial.
- Eu deveria me sentir ofendido, não é? – Perguntou ele bem humorado. Ela levantou os ombros e tirou o lençol assim que conseguiu vestir o sutiã. – Certo, então sua lógica supõe que você começaria as preliminares no sétimo encontro e esperava que eu as terminasse no oitavo?
- Não, isso seria trapaça.
- Da sua parte.
- Exato. Eu só te daria um gostinho do paraíso. – Ele sorriu um pouco desacreditado.
- Isso realmente funciona pra você?
- Talvez. – Ele a olhou curioso – É uma regra meio nova.
- É, acho que pode culpar a bebida por isso.
- Não exatamente.
- Como assim? – Perguntou ele, que estava sentado no canto da cama.
- Eu não posso te dizer.
- Isso revelaria um segredo? – Ela permaneceu calada. – Eu não sou um namorado em potencial, lembra?
 Ele suspirou diante do silêncio de Amy, e passaram alguns instantes sem dizer nada.
- Eu tenho uma teoria. – Disse Ben.
- Vamos ouvi-la.
- A coisa da “intimidade intelectual” – disse ele fazendo aspas com os dedos – aconteceu no primeiro encontro, quando nos conhecemos na cafeteria. Você provavelmente ficou fascinada com meu papo sobre Shakespeare. – Ela revirou os olhos. – Nossa conversa de três horas deve ter valido pelos próximos três encontros. A química “física” aconteceu no segundo e continuou no terceiro e no quarto. O que nos levou ao quinto. Que, admito, talvez não tivesse acontecido se não tivéssemos bebido além da conta. O fato é: você sofreu do mal de precipitação.
- O que faz de você um “peguete” em potencial.
- Significa que não temos uma relação madura o bastante para eu me tornar seu namorado?
- Exatamente.
- Então, partindo do princípio de que é preciso ser imaturo para se apaixonar, não estaríamos no caminho certo?
- De quem é esse princípio?
- Meu. - Ben sorriu da forma charmosa como sempre o fazia, deixando uma covinha no canto da boca aparecer.
 - A sua lógica soa melhor do que a minha. – Amy admitiu. – Mas não funciona. Não estamos apaixonados.
- Ainda somos imaturos para admitir isso. – Amy calou-se, olhou para as próprias mãos por alguns segundos e logo voltou a olhar para Ben.
- Por mim tudo bem, então. Não gosto de rotular meus sentimentos, mesmo. - Disse ela, despertando outro sorriso de covinhas charmosas nele.


"Porque são nove da tarde
Seus olhos são do tamanho da lua
Você é boa porque você pode então faça
Estamos nos sentindo tão bem, do jeito que nós fazemos"

Trilha sonora: Nine in the Afternoon - Panic! At the Disco

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A exceção no "Gostar"


 Quando estou com alguém sempre tenho a sensação de que não sou exatamente o que a pessoa está procurando. Na verdade, não paro pra pensar nas características que esse "ser ideal" do sujeito deve ter. Um pouco talvez pelo meu orgulho - me recusar a mudar algo em mim para agradar os outros. Por outro lado, mesmo que eu passe a tentar ser a pessoa ideal de fulano estarei sempre convicta de que durante a jornada até a "terra das namoradas perfeitas" eu estarei sempre pisando em falso. É por isso que não acredito tanto nessa história de se esforçar para conseguir ocupar o cargo de atual namorada de alguém.
 Quando estamos muito focados em ter um relacionamento sério nunca o conseguimos, e se o conseguimos é porque acabou vindo de maneira um tanto forçada. Não sei se isso é a sina de todo aquariano, mas um namoro forçado é chato, daqueles que acabam caindo na rotina. É como se aquilo tudo fosse uma obrigação. Obrigação de dar risada, de beijar, de mudar o status de relacionamento no Facebook e de mostrar pra todo mundo que você está feliz da vida - o que pode muito bem ser um disfarce.
 Hoje me deparei nessa cilada de ficar pensando no que seria ter um namorado. Parece uma daquelas incógnitas sem fim. Então voltei à primeira frase deste texto para tentar desvendar meu problema com os relacionamentos: "Quando estou com alguém...".
 Não sou o tipo de pessoa que se entrega pra valer e dificilmente digo o que sinto. Aliás, gostar de alguém é um desafio. Sou exigente de uma forma até mesmo chata. Mentira. Meus requisitos são simples. Gosto de pessoas carinhosas e que conseguem me fazer rir de forma natural. É possível que minha definição de "namorado" se baseie nisso. 
 Porém, ainda tem o ingrediente secreto que complementa o sujeito e me faz gostar dele, mas gostar mesmo. Só que eu não sei o que diabos é esse ingrediente! A coisa é tão natural e rara que fica difícil exigi-lo.
 Então, fico pensando se em algum momento da vida vou ser o ingrediente secreto de alguém. Tão secreto a ponto de ser uma descoberta. Tento evitar esses devaneios de romantismo ao mesmo tempo em que desejo conhecer uma pessoa e pensar: "Uau, então era disso que eu precisava?". E também quero despertar isso em alguém, não só pra amaciar meu ego e nem ser somente a amiga com uma paixão platônica.
 Eu quero ser a mulher, a amiga, o alguém, o ingrediente secreto. 
 Steve Jobs dizia que ninguém sabe o que quer até que lhe seja apresentado. Talvez seja por isso que quando conseguimos aquilo que almejamos após tanto planejamento não ficamos completamente satisfeitos. A satisfação pode muito bem estar escondida no improvável. 
 A questão é: quando isso vai evoluir e bater na minha porta como o improvável que acabou acontecendo?




Daniela Souza é aquariana e cabeça dura que só admite estar apaixonada depois de algumas boas doses de álcool. 


terça-feira, 13 de novembro de 2012

Conveniência

- Você sabe que ele é um imbecil, não é? - Perguntou Tyler enquanto observava o sol nascer, com os cotovelos apoiados sob a grade de proteção do parque.
  Annie ajeitou-se, e enquanto lutava contra as pálpebras pesadas limitou-se a responder:
- Sei.
- Ele só quer te usar.
- Sem problemas. Eu também só quero usá-lo.
- Então não há vestígios de sentimentos por ele em você?
- Não. Nenhum.
- Não está apaixonada?
- Não.
- Você ao menos gosta dele?
- Eu não o suporto. Ele é brigão, exibido e conta piadas terríveis.
- Então por que estão juntos?
- Não estamos "juntos".
- Então como chama isso o que vocês têm?
- Conveniência.
 Tyler sorriu abismado e passou a olhá-la, procurando vestígios de dúvidas por trás de tanta segurança.
- E o que é que tanto te atrai nele?
- Eu não sei. - Disse ela levantando os ombros. - Talvez seja o sorriso com covinhas, ou as camisetas com frases engraçadas que ele usa.
- Só?
- E o que mais poderia ser?
- Eu não sei. Mulheres se atraem apenas com covinhas e camisetas engraçadas? - Ela suspirou enquanto esforçava-se para achar uma característica no sujeito que pudesse agradá-la.
- Ele tem senso de humor. - Disse ela.
- Mas disse que ele faz piadas horríveis.
- Bem, ele não é nenhum Chris Rock da vida, não é?
- Existe algo na personalidade dele que possa lhe atrair, além do senso de humor?
- Dificilmente.
- Ainda não entendo porque está com ele. Vai acabar sendo magoada.
- Está atrasado. Eu já fui.
- O que aconteceu?
- Eu mandava mensagens e ele demorava horas pra responder. Eu desejava que ele me convidasse pra sair e ele estava sempre arranjando desculpas. Ele me iludia com palavras floreadas e eu acreditava todas as vezes. E antes de perceber que só era conveniente pra ele, me apeguei.
- E o que você fez?
- Roubei seus segredos, descobri suas inseguranças. Minha carência era o que alimentava o seu ego. Parei com as mensagens, saía com meus amigos, conhecia outros caras e acabei percebendo que sou boa demais pra ele. Minha indiferença cutucou seu orgulho e ele voltou, diferente, atencioso, enquanto eu o aceitava ainda indiferente, ardente mas fria, doce porém amarga. Agora é simplesmente divertido.
- Ser como ele?
- Não. Dar o troco.



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Sadness

 O seu silêncio é cortante. Você não conversa, não responde, não gesticula. Apenas mantém o olhar na TV, presta atenção ao caos e me deixa em segundo plano novamente. Depois do silêncio constrangedor e da espera quase agonizante por uma resposta, você solta palavras curtas que não dizem nada, e a sua falta de atenção me faz sair.
  Saio com o coração na mão, a cabeça transbordando de raiva e a língua afiada para dizer tudo o que penso naquele momento, mas não o faço porque sei que iria doer. Seria egoísta de minha parte, e logo depois eu seria consumida pela catastrófica onda de arrependimento que tiraria meu sono. E após lutar contra o meu orgulho, quando decidiria me desculpar, teria que tolerar mais uma vez o seu silêncio.
  Me pergunto se sou culpada por tamanha distância entre nós. Será que foi a falta do afeto exagerado que os outros transmitem a seus filhos? Por anos não o cumprimentei com beijos no rosto, não obtive o hábito de abraçar-lhe o tempo todo, não conversei sobre o que sentia. A única coisa que fiz foi agradecer pelos presentes de aniversário, me desculpar por coisas que havia feito de errado e lhe abraçar timidamente nas datas especiais.
  Posso ser uma pessoa horrível por isso. Tive mais intimidade com estranhos do que com você durante toda a vida. Agora fico aqui com uma pontinha tímida de inveja da relação dos outros, desejando secretamente ser amorosa o bastante para compensar os anos de frieza, os risos perdidos e as palavras não ditas. Mas parece meio tarde para algumas coisas. Herdei alguns traços de frieza e preciso conviver com aqueles que são irreparáveis.
  Com isso aprendi como não quero ser no futuro. Me esforcei para ser o mais carismática e amorosa possível, não usando o sofrimento que vivi sozinha no passado como desculpa. E continuo me esforçando para dialogar, até mesmo agora que meu coração não passa de um fiapo de remendas mal feitas. Uma esperança que pode muito bem ser vã.
  Enquanto isso, fico aqui esperando que essa tal esperança nunca se vá. Seria como mergulhar num abismo de tristeza. Essas palavras me partem o coração, e o único motivo de dizê-las aqui é por saber que de fato nunca conseguirei dizer olhando em seus olhos. Parece que não fui criada para demonstrar tanto sentimento. Isso precisarei aprender por conta própria. 



quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A página em branco




  A obsessão de todo escritor é uma pagina em branco do Word. Depois de checar todas as novidades na rede tudo o que nos resta é abri-la. É como um aviso para o cérebro: “Ei, é hora de produzir! Comece!”.
  Nessa mentalidade, podemos passar vários minutos – o que parecem horas – diante da branquidão daquela folha, apenas esperando que algo seja escrito. Pode ser qualquer coisa, uma frase, uma receita, uma história. Tudo o que precisamos é preenchê-la, por quê? Porque dá gosto fazer isso.
  Estamos comprometidos com nossas almas a escrever coisas realmente significantes. A estória que almejamos escrever é nossa paixão platônica até que seja terminada. Por ser uma paixão, não esperamos nada em troca. Queremos muito que vejam e compreendam nossas palavras, porque superficialmente adoramos os elogios, as críticas, os xingamentos. Adoramos a atenção que é dada a elas.
  Porém, acontece também que vistas ou não, aquelas palavras enchem o espaço vazio que existe em cada um de nós – seja ele pequeno ou grande. É a terapia dos desconsolados, dos duros, dos românticos e dos entediados. Nos mantém a salvo da insanidade apesar de nos sentirmos tentados a experimentá-la, mas nos deixa saborear o gosto das loucuras um pouquinho de cada vez pra não ficarmos viciados em sua doçura ou acabarmos caindo nos braços da amargura.
   A página em branco também é uma tortura. Quando somos invadidos pelo medo da falta de inspiração crônica pensamos em como as coisas poderiam ser diferentes. Dentro de nós tudo seria mais quieto, preto e branco e áspero. É desesperador do ponto de vista literário.
   Nossa missão é tocar os corações, mas só fazemos isso quando o primeiro a ser tocado é o nosso. Por isso a pressão não ajuda. Muito pelo contrário. Ela tira a espontaneidade que transforma um amontoado de frases em um belo texto. Deixa tudo sem sal, sem gostinho de quero mais.
   O que movem as palavras que tocam no coração das pessoas – que fazem chorar, rir e se arrepiar – é aquela paixão avassaladora. Como um casal de amantes se esquece do mundo em seus momentos de prazer, nos refugiamos no deleite de criar e inspirar.
   E tudo porque amamos o que fazemos.

Daniela Souza não teve lapsos momentâneos de falta de criatividade ao redigir este texto, ao som de "Love me do" - The Beatles.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

REHAB para as boazinhas


 Cultivar o ódio não é um de meus passatempos favoritos. Assim como a intriga, gosto de mantê-lo longe de mim, o bastante para me afastar também de qualquer possível desejo de vingança. Por um lado, gosto desse meu lado pacífico. Sabe como é. Faz bem pra alma, evita o stress e quem sabe até umas ruguinhas. Só que evitá-lo demais me fez evitar também o confronto, e isso me tornou insuportavelmente "boazinha".
  Não é nada legal ser a boazinha da história. Vai por mim, são 19 anos de experiência. A boazinha é aquela que sempre se fode, e o único consolo que tem é um maldito tapinha nas costas.
  Nós, boazinhas, não gostamos de ser assim. Internamente, sonhamos em nos tornar mulheres fatais e quando começamos a caminhar em direção à esse caminho acabamos causando mais estragos do que aquelas que já acreditam ser assim. Possivelmente isso é motivado pela falta de experiência, de tato para lidar com as situações. Ás vezes, indo com muita sede ao pote acabamos sendo terrivelmente brutas como se necessitássemos disso para compensar os anos de abuso de nossa condição de boas samaritanas. É normal logo depois sentirmos a consciência pesada e passarmos horas a fio refletindo a respeito da humildade recíproca que deve haver entre homens e mulheres.
  Depois de um tempo deixamos isso de lado. A vida começa a nos dar mais do que tapinhas nas costas e passa a nos fazer ter que lidar com os pés na bunda, os tapas na cara violentos - de uma forma figurativa, é claro - e as palavras cortantes. Nosso senso para sacar mentiras  fica divinamente apurado e acabamos identificando-as mais facilmente do que antes, quando tudo soava como música erudita aos nossos ouvidos.   Algumas não aguentam tamanha pressão e cedem à brutalidade. Tornam-se feministas natas, donas da verdade, manipuladoras inescrupulosas e destruidoras de corações.
  Eu, querido leitor, fiquei no meio disso. Minha personalidade pacífica continua insistindo em fazer parte de mim, o que não é de todo ruim. Gosto da sensação de ter sentimentos e conseguir respeitar o das outras pessoas. É como conseguir manter o lado que vale a pena de nossa humanidade - a sua essência. Por outro lado, adquiri o tal sensor de mentiras, aprendi certos truques de manipulação, identifiquei - com muita dificuldade - aquilo que merece ser priorizado e virei mestre na arte de soltar um belo sorriso quando esperam de mim uma careta.
  Foram os tapas na cara, as quedas livres diante das decepções e as rasteiras dadas no decorrer de uma vida inteira que foram me ensinando a sobreviver na selva de pedra que são as relações humanas. Passou a ser óbvio que só aprendemos a ser fortes quando não temos outra escolha diante das adversidades. A gente acaba deixando o instinto falar mais alto, e ele nem sempre pode mostrar ser o modelo de pessoa perfeita que esperam de nós.
  Quando abri mão dos tapinhas nas costas e do posto de boazinha acabei me descobrindo. Aquela pessoa que eu conhecia apenas internamente não era uma ilusão, era eu. Ela só precisava de um pequeno - no caso, grande - impulso para sair por aí mudando a vida das pessoas através de suas palavras e atitudes.
  Agora, mais uma vez percebo de uma forma dolorosa para o ego que caí novamente no conto do vigário. Ironicamente, é justamente esse tipo de decepção que me faz ir pra frente, e me ensina uma nova lição: Se pegar a estrada que te levará a ser uma mulher fatal, nunca olhe pra trás. Apesar de parecer agradável, aquela garota boazinha lá atrás já foi o seu pior pesadelo.

domingo, 4 de novembro de 2012

Abaixo aos falsos feministas!


 Ultimamente tenho tido a impressão de que os homens ficam cada vez mais preguiçosos. Estão barganhando pouco e esperando receber uma bela fatia do mercado em troca. Atribuo boa parte dessa culpa ao feminismo levado ao pé da letra.
 O feminismo para mim só é levado em conta a partir do momento em que trata de maneira igualitária os direitos óbvios da mulher de trabalhar, receber segundo o valor de seu trabalho e não de seu sexo, ser tratada com respeito e não ser alvo dos velhos clichês que nos deixam tão putas - "lugar de mulher é no fogão", "mulher no volante, perigo constante" e por aí vai.
 Mas está bem claro que muitos homens têm se aproveitado desses "novos tempos" e levado isso também para as relações afetivas. O problema é que por isso as relações entre homens e mulheres não tem sido como eram antes. Os homens têm se acomodado nesse estado de "aceitação feminista" e têm deixado de lado as necessidades das mulheres. Eventualmente bons homens cruzam nossas vidas e nos fazem enxergar a essência do romantismo, de uma forma mais realista, mas ainda sim romântica.
 Não é que nós, mulheres, estejamos sempre esperando pelo príncipe encantado. Este é um pensamento equivocado de muitos homens que, por medo da pressão de não serem o tal "príncipe", decidem arriscar-se sendo os ogros. Não, homens. A maioria de nós percebemos que ser Cinderela é o mesmo que ser a "mulher perfeita" dos séculos passados: um rostinho bonito em um corpinho submisso.
 O que nós queremos é gentileza. Um homem que sabe verdadeiramente agradar uma mulher é aquele que encontra felicidade na relação a dois, pois a medida em que estamos sendo agradadas, temos vontade - e não obrigação - de agradar.
 Mas a praga dos falsos "feministas" se espalhou rápido demais. Eles são como os seres ignorantes que Sócrates nos ensinou a reconhecer: pensam que entendem as mulheres, mas não entendem mesmo! E é provável que não saibam disso. Nisso, minhas queridas leitoras, podemos nos incluir como culpadas.
 A partir do momento em que permitimos que um homem nos trate como meros pedaços de carne estamos assinando um atestado de que o respeito e o romantismo que tanto queremos está morto. Não podemos deixar uma baixa autoestima refletir em nossos relacionamentos e causar danos quase irreversíveis na imagem que os homens terão de nós. Antes de tudo é preciso nos agarrarmos ao mais antigo e sábio dos clichês: "Amar a si mesma". 
 Uma mulher que ama a si mesma mostra em todas as suas ações que merece um tratamento digno de rainha -  é aquele tipo de mulher que você consciente ou inconscientemente sempre sonhou, leitor. 
 O que uma rainha deseja está bem longe de ser um príncipe. Não é um moderninho que não sabe priorizar o alto valor que ela tem. E aqueles tipinhos tirados dos contos de fadas então, não quer passar nem perto. Ela quer um homem de verdade. Ele pode até não abrir a porta do carro ou não lembrar a data do aniversário de namoro, mas a respeita, é protetor, sensato e sabe agradá-la nas horas certas. Ele não é perfeito - pois a perfeição entedia - mas sim real. 
 Não há nada mais sexy do que isso.


 Daniela Souza deixou de lado a vontade de ser princesa e optou por ser um mulherão.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Para desencargo de Facebook


O Facebook dominou a minha vida.
Essa não é uma afirmação muito fácil de se fazer, considerando todas as vezes que a neguei quando meus amigos a jogavam na minha cara. "Eu não estou me exibindo" ou "Só gosto de socializar" eram desculpas frequentes. Quem eu estava enganando? É claro que eu estava me exibindo. Eu me igualei às outras bilhões de pessoas ao redor do mundo que acordam todos os dias e ligam os computadores em busca de atualizações enquanto torcem para que estas não sejam apenas convites para algum tipo de jogo que eu não jogaria por pura preguiça.
 Fiquei tão viciada em minha "realidade" virtual na rede que deixei a vida real virar uma bagunça. Tornou-se um vício mostrar pra todo mundo o que é que eu pensava e acreditar que um "Curtir" significava que as pessoas estavam finalmente me escutando - ou lendo, que seja. Elas não estavam. Elas sequer leem o restante de meus posts neste blog, se contentam com o trecho que representa apenas 40% das ideias do tal texto.
 Como se não bastasse, "sem querer querendo" eu soltava indiretas, a forma mais patética e infantil de se dizer o que sente sem realmente dizer achando que está sendo ouvida, quando na verdade está expondo deliberadamente sua tamanha carência emocional que não precisava ser alvo de chacota do mundo.
 E hoje, como um balde de água fria em minha cabeça eu estou aqui me perguntando qual foi o momento exato em que me deixei levar pela ideia de que construir uma "vida perfeita" fraudulenta em minha timeline faria de mim uma pessoa legal e descolada. E se fizesse, qual seria a diferença se não conseguisse ser assim na prática?
 Não é que eu não era aquilo que postava, mas eu tinha momentos de exagero. Virou uma estúpida necessidade mostrar que eu li, escrevi ou curti algo que me faria parecer "culta". Pareceu um disfarce disfarçado. Quer dizer, aquela realmente era eu lendo, escrevendo e curtindo as coisas que me definiam como pessoa, mas o modo forçado como eu jogava essa informação na cara das pessoas todas as vezes fazia com que parecesse que eu estava apenas inventando ser alguém que eu não sou, quando na verdade eu não estava.
 Eu era um livro aberto. Senti que faltava aquela dose sexy e curiosa de mistério, aquele "quê" de não estar por dentro das modinhas e a naturalidade de despertar a atenção dos outros sem que haja muito esforço. Me faltava ser eu de novo.
 E é por isso que neste exato momento estou - com muito pesar e esperança - desativando minha conta do Facebook. Ou de uma maneira mais clichê e dramática, estou me desagregando da manada do modismo e optando pela vida solitária - ou utilitária - na rede. Encarar isso como um desafio só me faria cair em tentação e mais cedo ou mais tarde eu acabaria voltando.
 Será um novo hábito, e eu vou acabar reaprendendo que viver de verdade é melhor do que se iludir com as redes sociais.



 Daniela Souza cansou de seu alter ego "Padalecki". Agora ela é só a Daniela Gomes de Souza.