domingo, 29 de janeiro de 2012

Confissões



Sou bagunceira e me faço de organizada. Odeio cumprimentar as pessoas com beijos no rosto e odeio cheiro de canela. Não, eu nunca entendi a graça em namorar só por namorar. Eu não sei o que é estar SUPER apaixonada. Sempre preferi cortar o mal pela raiz, não importava o que dissessem. Sou aicmofóbica.
 Coleciono livros de todos os tipos em minha escrivaninha e olho para o quadro de New York sempre que estou escrevendo. Gosto de música velha, ou melhor, clássica. Cantores desconhecidos e trilhas sonoras de filmes. Recordo das frases nos filmes e as repito sempre que quero filosofar.
 Eu amo o som do violão e do saxofone, me trazem paz. Não sei assoviar e nem estralar os dedos. Não sou do tipo que expressa meus sentimentos de maneira tão clara. Para alguns um enigma, para outros apenas uma garota introvertida. Na verdade, sou uma caixinha de surpresas, ora quietinha, ora faladeira.
 Não sou fotogênica. Deixo a vida me levar, mas sempre dou um jeitinho de fazer acontecer. Não acredito na perfeição, mas acredito na felicidade. Sou fútil, vaidosa e ambiciosa. E quem não é? Julgo e sou julgada, erro e admito. Aprendo com os erros dos outros e de vez em quando com os meus.
 Promovo debates inúteis, que sempre acabam em risadas. Entendo que a felicidade é uma busca infinita que nunca chega a um destino exato, mas continuo a procurá-la. Ligo mesmo quando deixam de me procurar, e se não ligo é porque a coisa está feia. Rancor não é do meu feitio. Considero “desculpe” uma palavra mágica quando dita com honestidade.
 Minhas paixões platônicas transformam-se em estórias, e as músicas na trilha sonora da minha vida. Não sou grande fã da caligrafia, mas gosto das palavras. Considero o outono a estação mais bonita do ano e adoro as roupas de inverno. Sou atrapalhada e minhas mãos tremem ao falar em público. Faço piada de minha própria estupidez e rio das piadas dos outros, até quando elas não têm graça.
 Não sou boa em começar uma conversa, mas com o estímulo certo a levo para um caminho interessante. Ás vezes supersticiosa e ás vezes um pouco cética. Ainda levo em consideração teorias conspiratórias a respeito do governo e de ordens secretas.
 Meu desenho preferido é “O Rei Leão” e eu já chorei assistindo “Procurando Nemo”. Choro em discussões sérias e detesto isso em mim. Promovo a paz nas brigas entre amigos e muitas vezes sou honesta até demais. Tenho meus momentos de hostilidade, mas sou um amor. Tento viver como se o mundo fosse acabar amanhã, mas ás vezes um dia passa muito devagar.
 Existo, vivo, sonho, corro atrás. Já desisti, e não morri. Já odiei, e não sou uma bruxa por isso. Briguei, perdi, ganhei. Não é o fim do mundo. Eu continuo aqui, não é?
 O tempo passa, o mundo muda e por vezes eu também. Não espere de mim o mesmo comportamento o tempo todo. E por mais que eu tente me definir, nunca conseguirei ao certo tal proeza. Eu sempre estarei em transição. Sou uma metamorfose ambulante, entenda.

sábado, 28 de janeiro de 2012

As estações


  
 Querido, eu observei de minha janela todas as estações passarem. A mesma janela que um dia observamos juntos, eu maravilhada com a vista e você me achando boba por isso. Dalí vimos o sol nascer e a noite cair. Você envolvia seus braços ao redor de minha cintura e cochichava coisas insanas em meu ouvido. Lembro de sua barba mal feita pinicando meu rosto, seu perfume amadeirado sob minha pele e seus lábios macios tocando um de meus ombros.
 A visão que antes me fascinava já não fazia mais sentido para mim. É, eu observei as estações passarem. O céu azul e o calor do verão, as folhas caindo no parque em frente, tendo o céu nublado como testemunha. Eu vi as flores colorirem todas aquelas árvores, crianças colocando-as por sob a orelha e garotas sorrindo ao serem recebidas com uma das flores que acabara de cair de uma das árvores. E finalmente vi a neve cobrir todo o quarteirão. Os flocos caírem no vidro e o ar quente de minha respiração manchando-o.
 E nada daquilo me tocou.
 Você foi embora da minha vida e deixou seus restos espalhados pela casa. Restos invisíveis, impossíveis de serem jogados fora. Você deixou seus malditos fantasmas por todo o lugar. O seu cheiro ainda está impregnado nos lençóis. Eu os lavei, mas ele continua ali. Pensei em tacar fogo, mas sejamos honestos, era esse cheiro que me fazia ter bons sonhos à noite. Que me impedia de me sentir vazia durante minhas oito horas de sono.
 A TV continua no mesmo canal da última vez que esteve aqui e perdeu o controle. Eu não tenho ligado-a muito nos últimos meses. Você sabe como eu odeio a TV e suas artimanhas de jogar com nossas mentes. Mas você deixou justo no canal que eu menos odiava, então quando quero sentir você perto está sempre passando “Casablanca”. Coincidência?
 Tornou-se uma doença. Você me deixou doente. Eu já estava assim quando decidi tirar você da minha vida, crente que essa era a melhor solução para voltar à racionalidade, à vida real, onde eu era machucada mas sabia como me defender. Mas as coisas pioraram. Sim, querido, você era a doença, mas também era a cura.
 Agora meus dias são vazios, meus sorrisos são falsos. Eu digo que estou bem e faço questão de parecer ótima, mas por dentro estou quebrada. Minha carreira bem sucedida não foi o bastante para me fazer feliz como sempre imaginei que seria. E tudo porque você mudou a minha definição de feliz no momento em que sorriu pela primeira vez em minha direção. Você a mudou de tal maneira que ela tornou-se utópica com você longe.
 Então, sim. Eu te odeio. Você me deu tudo, mas também me tirou quando foi embora. Ainda está com a metade de meu coração em suas mãos. A melhor parte, a que continua batendo forte e vividamente. Você me mostrou uma alegria quase ilegal e me fez pensar que ela nunca iria embora. Além disso, continua me assombrando com seus vestígios inúteis em cada canto desta cidade. E como se não bastasse você ainda faz eu me odiar. Eu, que consegui tudo o que sempre quis, e sem você ao meu lado.
 Mas sabe o que é pior? O pior é estar aqui diante dessa janela vendo as estações passarem e desejando mais do que tudo trocar tudo à minha volta por apenas um minuto com você aqui, com suas mãos envolvendo minha cintura e sua barba pinicando meu rosto. Desejando uma última chance de poder lhe dizer aquilo que meu orgulho nunca permitira antes:
Eu te amo, meu amor.

Inutilidades...



Já faz um tempo que reclamo de minha vida para mim mesma. É o tipo de coisa que evito fazer para outro ser humano, evitando sempre aqueles sermões sobre alguém no mundo estar com problemas mais sérios e mesmo assim não estar reclamando. Afinal, apenas a minha própria consciência entende minhas crises existenciais inúteis. Bem, isso quando não entramos em desacordo e ela mesma me joga na cara os problemas “mais sérios” do mundo.
 Longe de querer parecer uma adolescente ingrata e cheia de neuras, é justamente isso o que pareço. Mas eu não posso evitar. Ninguém reclama por prazer – não que eu saiba, pelo menos – mas sim por falta de perspectiva e por impaciência. E ai do infeliz que vier com aquela ladainha da paciência ser uma virtude. Uma ova!
 Mas mesmo reclamando quietinha, escrevo isso em um período conturbado: a TPM. O único lado bom desta cretina é que sempre posso jogar a culpa para cima dela. Comi demais? É a TPM. Estou inchada? TPM. Com os nervos à flor da pele? TPM. Ô palavrinha que pode mudar tudo, não? Mas é claro que só mesmo as mulheres para entenderem. Para os homens isso não passa de uma simples desculpa para tudo – e mesmo se for, E DAÍ?! 
 O fato é que nesse momento os maiores problemas do mundo não são nada em comparação aos meus (outro sintoma da TPM, ficamos meio egoístas). Mandei a dieta para a PQP, comi todos os doces que tive direito, tentando seguir a filosofia da Elisabeth Gilbert – a autora de “Comer, rezar e amar” – que diz ter engordado os 11 quilos mais felizes de sua vida. Prova de que dá pra engordar com alegria, não é mesmo?
 BULLSHIT! Neuróticas como eu não engordam com alegria, apenas se convencem por alguns minutos de que é possível, mas logo que a balança acusa alguns números a mais caímos na real. O mundo é fútil e me tornou fútil. Mas convenhamos meus caros, todo mundo tem lá suas futilidades. Uma vaidadezinha egoísta e meio psicótica.
 E aqui estou eu, numa sexta à noite assistindo ao “Rei Leão” pela 150° vez (ganha um doce quem ler o número do jeitinho que tem que ser), desejando um abraço e implorando por uma piada que não saia dos alto-falantes da TV. Rendendo-me a um fim de semana de maus hábitos que acabará com o despertar do meu celular na segunda de manhã, me avisando que é hora de voltar à dieta, às atividades físicas, aos estudos e ao contato humano.
 Enquanto isso fico por aqui com meus quilinhos a mais, minhas reclamações egoístas e inúteis, meu desejo por doces e o Hakuna Matata de Timão e Pumba. Sabe como é, a culpa é da TPM.