quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Pós-inverno


 Fiquei parada tempo demais observando a vida passar, sem trocar de canal e com os olhos vidrados, surpresa com tamanha rapidez. Lá se foram meses e sinto que pela primeira vez em muito tempo posso respirar de novo.
 A gente carrega tantos fardos que hora ou outra se acostuma. Pode doer a coluna, os ombros e o pescoço e o que fazemos é franzir o nariz, ignorar a dor e dizer: "Ah, é normal". Só que quando a dor é demais não é normal! Ignorei minha capacidade de adquirir forças por tanto tempo que também acabei ignorando que ela estava ali.
 Algumas coisas ficaram bem claras: eu não fingi. Sério, devem ter sido os meses mais sinceros da minha vida, porque se eu estava simplesmente cansada era isso que eu demonstrava. Se a alegria era plena, maravilha! Mas se o desânimo batia, era tão evidente que, lembrando disso, não consigo evitar de pensar no quão fraca eu estava.
 Eu havia me tornado transparente. Todas as minhas vulnerabilidades à mostra começaram a me definir e, honestamente, eu achei que seria mais difícil jogar a toalha e aceitar que eu havia mudado e que a mudança, apesar de não tão boa, era consequência e eu tinha de lidar com aquilo.
 Besteira!
 Não dá pra negar que muitas coisas vem pra te derrubar e, apesar de clichê, é fato que o importante é sempre arranjarmos forças pra levantar. Precisamos começar a entender que desistir não pode ser uma opção válida a todo momento. Apesar de também sermos suscetíveis ao fracasso, abraçá-lo como membro da família é autodestrutivo, é burrice e é mesquinho.
 Mesquinho, sim!
 Nosso papel de vítimas parece embaçar nossa visão e nos fazer ter crises de Alzheimer. Afinal, esquecemos que por menor que possa ser o número de pessoas que se importam, sempre há alguém fazendo isso por nós. A gente deixa de levar em conta o "Bom dia" acompanhado de um sorriso aconchegante, o elogio singelo que não carrega nenhum interesse sórdido, e até as tentativas de quem quer nos ver sorrindo - seja com uma piada ou um gesto.
 Acredito francamente que precisei de um tempo sozinha, organizando os pensamentos, limpando a bagunça, você sabe. Mas somente quando parei de me focar na minha solidão e passei a captar os verdadeiros sinais de que havia sim pessoas e coisas pela qual viver, é que uma genuína mudança passou a acontecer dentro de mim.
 Eu não sei como explicar com detalhes - acho que afinal ainda não sou uma escritora tão boa - mas acredito que tem sentimentos e situações que não precisam ser explicadas, e nós podemos simplesmente deixar os detalhes de lado e enfeitar um pouco pra ficar mais bonito.
 O inverno que depredou tanta coisa na minha vida deu espaço para uma primavera virtuosa. Aqui, do meu lugar ao sol, eu recebo de volta o calor que tanto me fez falta durante o frio da temporada passada.