terça-feira, 5 de dezembro de 2017

"Acho que lhe falta um parafuso..."


O mundo carece de pessoas loucas.

Não falo do tipo de louco que te assalta com uma faquinha de pão ou que conversa com duendes. Mas longe de querer menosprezar a loucura alheia, minha intenção é, na verdade, enaltecer aquela loucura gostosa de se viver.

O tipo de loucura que te aborda no meio de um dia turbulento e pergunta se está tudo bem, e ao notar a sua maneira automática de responder, reformula a pergunta pra saber se você está mesmo bem até conduzir a conversa ao tópico das convenções sociais que nos fizeram banalizar o significado de uma resposta honesta em troca de uma formalidade vazia que não se preocupa com o outro.

Eu sei, é louco pra uma segunda-feira em que você está prestes a pedir as contas do trabalho e tem tantas incertezas do futuro. Mas até agora lembrar disso traz um sorriso ao meu rosto, e me faz refletir sobre quantos loucos como este estão por aí, querendo ser ouvidos mas nem um pouco preocupados com a opinião alheia sobre quem eles são ou quem eles deviam ser.

Eu sinto falta de pessoas que gostam de poetizar a vida, sabe?

Pessoas que no meio da multidão e do aperto no metrô, debaixo das tatuagens e da barba hipster, estão com seus fones de ouvido escutando Sinatra e olhando as cenas mais comuns da vida como se fossem uma eterna obra de arte.

Geralmente elas tem uma maneira radicalmente leve de viver, e não precisam fazer muita força pra chamar nossa atenção. Elas se preocupam com o próximo, mas não tentam chamar atenção pra isso como um gesto de benevolência que precisa ser aplaudido para lhes afagar o ego.

Nas raras e maravilhosas vezes em que nossos caminhos se cruzam, eu me sinto um pouco mais rica por ter tido a oportunidade de absorver um pouco da sabedoria que cada um carrega em si. Mas acho uma perda imensurável quando as circunstâncias impossibilitam uma proximidade maior e nos afastam para caminhos distintos.

Acredito, porém, que isso faz parte de ser tão inteiramente aberto para as possibilidades que lhe aparecem. É matéria imprescindível para o currículo abandonar o confortável senso de pertencimento que consegue nos prender de maneira tão sutil a uma rotina que aos poucos acaba por destruir nossa disposição de viver mais do que nos é oferecido.

Em tempos de tamanha pressão social a respeito de quem devemos nos tornar, a maior loucura é aceitar o desafio de ser você mesmo - e assumir a responsabilidade por isso.