segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Pontos finais


Eu havia começado a escrever um texto com pitadas de cinismo, indiretas específicas e um certo grau de amargura.

Vocês provavelmente nunca verão esse texto.

É que, só de ler, eu como autora me senti incomodada de tamanha amargura e desperdício de palavras.

Este sempre foi um de meus lugares seguros preferidos, e é aqui que eu costumo desabafar quando as coisas começam a caminhar por rumos estranhos ou quando estou caindo de amores por algo ou alguém.

E convenhamos, aqui eu já fui fofa, good vibes,  aventureira, imatura, apaixonada, iludida e mal educada. E eu também já fui rancorosa.

O texto que eu mencionei no início ficou até legal, com um ritmo divertido, quase como um daqueles poemas que a gente lê enquanto viaja. Mas ele também carregava, mais do que indiretas, um senso de importância grande demais para um assunto um tanto quanto insignificante.

Não que eu esteja menosprezando meus próprios sentimentos, mas tem coisas que a gente não precisa mais sentir.

A dor e indignação daquele texto já tinha sido sentida há um ano, quando eu estava machucada, desiludida e buscando uma maneira de me libertar das correntes que me prendiam nas armadilhas do meu próprio coração.

Naquele tempo eu me recusei a escrever sobre isso, eu só me permiti sentir - até porque eu não tive lá tanta escolha.

Mas agora, revendo todos aqueles versos e rimas engraçadinhos, alimentados por uma amargura do passado, eu me dei conta de que não precisava sentir nada daquilo de novo.

Dessa vez, não era como se as pessoas, a vida, Deus, e tudo o mais não tivessem me alertado de que eu estava entrando sobriamente numa armadilha preparada por mim mesma. Não era como se eu realmente não soubesse que tudo aquilo não daria em nada. Eu sempre soube, a cada respirada funda, a cada revirada de olhos, a cada mensagem não respondida e afeto não correspondido.

A gente sabe quando é hora de seguir em frente, entende?

Posso dizer, como diz aquela canção dos Arrais, que "eu olhei a tristeza nos olhos e sorri".


Eu sorri porque eu tive um ótimo ano, porque eu fui à praia mais vezes do que o normal, porque conheci gente bueníssima, porque assisti todos os filmes em cartaz, porque eu me amei mais, porque estou cercada de amigos de qualidade, porque ousei sonhar de novo e fazer aquilo que me apavorava.


Eu sorri porque aquela dor que tava querendo bater não tinha mais legalidade sobre mim.  

Eu não estava em dívida com nenhum sofrimento passado. Pelo contrário, eu estava lá todas as vezes que ele veio pra me abater. Mas já foi. Superei. A vida seguiu.

E é gostoso demais poder dizer que tô livre daquele drama bobo que me cercava por pura nostalgia de um passado que nem era lá essas coisas.

Coisa boa é ter a mente e o coração livre pra se permitir viver mais do que já se viveu. Coisa boa é deixar ir aquilo que já não te pertence mais, para que novas coisas possam surgir.

E quando elas surgem, na moral? Não tem passado que tome seu lugar.



Daniela tem 24 anos, um diploma 
na gaveta, malas a serem feitas e
muitas histórias a serem contadas 
(de preferência com rimas e
um bom número musical no final).

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Sobre reencontros no metrô


São dias estranhos.

O passado bate á porta e nem pergunta se pode entrar. Ele só vem.

A gente faz o quê? Segue o baile, se joga, fica meio idiota, cai na real, e lá se vai mais um ciclo.

Mas ás vezes o passado capricha: traz de volta aquele sorriso de covinhas que tanto me irritava no auge da minha juventude desregrada.

A gente se reencontra no metrô, por acaso, numa tarde de segunda-feira. Pra falar a verdade, ele não mudou nada. O olhar misterioso, o sorriso cativante, a cara de bom moço - mas eu o conheço bem demais pra acreditar nela.

Em 15 minutos nós relembramos de todas aquelas loucuras de outros tempos. E deste novo ponto de vista, elas parecem tão distantes agora que é quase como se só tivessem acontecido na nossa cabeça.

É difícil não se perguntar porque é que nunca demos certo. Será por seu orgulho bobo ou por minha teimosia impetuosa?

Não sei dizer. No final das contas a gente era mesmo meio parecido.

O passado ainda me desafiava, mesmo após anos sem me ver. Ele ainda lembrava daquele apelido brega que usava só pra me irritar e não tinha medo dos gestos que costumavam me provocar. Ele ainda sabia meus pontos fracos, lembrava dos meus sonhos loucos e das minhas referências sofisticadas.

Ele ainda me reconhecia.

Gosto de pensar que nós nunca fomos um rótulo um para o outro. Éramos só dois amigos que não tinham medo de se desagradar. Sei que parece besteira, mas era o que eu mais gostava na gente. E tinha a química, claro.

Eu sei, muita gente já passou na nossa vida depois de todos estes anos. Mas é ligeiramente emocionante saber que algumas pessoas ainda têm essa capacidade de se tornarem marcantes a ponto de permanecerem em nossos corações mesmo depois de tantos trancos e barrancos, como dizem por aí.

Não sei se a gente foi verso, prosa ou poesia. Mas minha segunda-feira foi mais feliz depois de você.

Obrigada.




quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Se joga!


Eu queria a vida adulta.

Eu queria muito a vida adulta.

Eu via aquelas mulheres independentes em seus terninhos sofisticados, suas taças de champanhe e suas viagens sazonais, seus amores internacionais, seus cargos importantes, suas vidas agitadas, suas opiniões fortes e aquele sofisticado gosto para vinhos... e eu queria ser como elas.

Queria sua destreza para andar de salto alto e sua disposição de acordar às 6 da manhã para fazer yoga.

Daí eu cresci e comecei a usar meus terninhos com calça jeans e tênis, até fiz faculdade mas já nem ligava mais se meu cargo seria ou não muito importante. Eu até me atrevi a viajar vez ou outra, mas admito que minha rotina adormeceu meus sentidos por tempo demais até eu planejar a próxima viagem.

Vinho? Nunca nem experimentei, apesar de ainda achar chique. Opinião forte até tenho, mas a gente aprende a filtrar uma coisa ou outra pra não causar polêmicas desnecessárias.

A essa altura da minha vida, achei que seria mais poética. E a gente até tenta, mas poetizar tudo e todos pode ser um trabalho cansativo e frustrante. Mas em raras ocasiões, já poetizaram meus momentos. Me lembro de um ou outro em que conseguiram tirar meu fôlego, e essas lembranças me fazem perceber que até aqui a vida tem valido a pena.

Não dá pra garantir que já entrei de cabeça na vida adulta. Eu até tenho meus boletos pra pagar, minhas compras de supermercado pra fazer e meus dramas de trabalho pra lidar, mas existe uma verdade universal que se baseia no seguinte:

Quando a gente é adulto, a gente não quer mais ser adulto.

Mas não tem crise: Bota um Coldplay pra tocar, sai por aí como se nunca tivesse se sentido mais pleno como agora, faça planos locais, internacionais, sazonais... Se apaixone por aquele ser que ri das suas piadas e te beija de forma inesperada.

Faça rimas, dance, viaje, conheça pessoas diferentes, crie um blog! Que seja!

Mas por favor, viva.

É a viagem mais louca dessa vida.