domingo, 12 de janeiro de 2020

Ressaca

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Se me perguntassem em qual momento eu tinha perdido minhas singelas paixões da infância, eu não saberia dizer. O que eu diria com certeza é que foi em algum lugar entre o fim da adolescência e o início da minha vida adulta.

Sempre achei que tinha a ver com a idade. O tempo é um fator decisivo pra mim, ao menos quando tento encontrar uma desculpa pra algo que eu deveria fazer mas não tenho feito. Como quando me perguntam se eu tenho ido à igreja nos cultos de quinta-feira e eu digo: "estou sem tempo" - o que não é uma mentira, mas diz muito a respeito das minhas atuais prioridades.

Dito isso, numa conversa franca como essa que estamos tendo, caro leitor, devo admitir que o tempo não tem nada a ver com isso. Na real, no fim tudo se resume à prioridades. E quando eu paro pra pensar no que eu realmente tenho feito da minha vida, não consigo evitar de imaginar que ainda falta algo.

E acho que tudo bem, quer dizer, quem em sã consciência pode dizer que é completo, não é mesmo? Ao menos nestes tempos loucos de tecnologias infindáveis, temos que admitir que somos um bando de insatisfeitos que talvez, e verdade seja dita, nunca encontrem satisfação.

Com 12 anos, minha satisfação eram os livros. Acho que nunca vou me esquecer da sensação de conseguir ler Christine, do mestre Stephen King. Parecia impossível manter a minha atenção em um livro de 600 páginas, ainda mais quando tinha tanta coisa acontecendo ao meu redor. O Orkut era uma delas.

Os mundos literários que visitei quando criança parecem tão distantes agora. Embora me pegue lendo um livro ou outro sobre auto-ajuda e todos estes best sellers que supostamente deveriam nos ajudar a viver nossas vidas sem medo e blá blá blá, a sensação não é a mesma.

Agora, com quase 27 anos, e esperando voltar às minhas raízes depois de uma longa ressaca literária, resolvi encarar novamente o maravilhoso mundo das ficções. E como Christine era um dos mais memoráveis para mim, quis dar uma nova chance à Stephen King. Comecei com "Novembro de 63", seguido de "Sob a redoma" - que mofava em minha prateleira por quase 4 anos - e agora "O Instituto". A lista ainda é grande e, embora eu esteja em uma fase que alguns poderiam chamar de "obsessiva" com King, devo acrescentar novos nomes e diferentes gêneros à lista.

Mas a razão de eu dizer tudo isso é que, parte de mim, a parte infantil e meio ingênua, que se impressiona fácil, voltou à superfície, timidamente. Não diria que ela voltou de forma dominante. Deixá-la tomar o controle na vida adulta seria insustentável. Porém, tem me feito bem. Com certeza, me afastado dos devaneios sombrios que vez ou outra fazem com que eu me sinta apenas um grão de pó na galáxia.

As narrativas, sejam elas escritas, cantadas ou adaptadas, dão um certo sentido à nossa vida. Eu não diria que respondem os por quês e comos, mas elas nos ajudam a focar nas conexões que temos uns com os outros e o que elas podem significar. E de alguma forma, me arrastam para longe das frivolidades que hora ou outra cercam a minha mente, mesmo que apenas por alguns momentos.