domingo, 26 de janeiro de 2014

We're boring, man.


 Não há nada pior do que um homem que fala demais.
 Na última vez que tive a infelicidade de me encontrar com um desses, juro que nunca havia passado tanto tempo sem ouvir o som da minha própria voz. Tudo o que eu fazia era balançar a cabeça, sorrir de forma forçada e ás vezes soltar uma risada fingida, só por educação.
 Acho terrível essa maneira que algumas pessoas têm de não dar a oportunidade de escutar de vez em quando. Não é só uma questão de bom senso, também é estratégico. Em minha experiência, posso afirmar que é só perceber que alguém é um bom ouvinte e o indivíduo, sem nem perceber, acaba de dar um passo rumo à algo promissor - seja um beijo de boa noite ou um próximo encontro no "país das maravilhas".
 Me dei o direito de me eximir do grupo dos que não sabem ouvir. Sou tão ótima ouvinte que não é difícil sentir o fardo sobre os meus ombros. Dependendo de quem for, pode ser extremamente cansativo fingir interesse através de gestos e expressões que, ao invés de acelerar o fim do processo, só faz com que ele passe mais devagar.
 Álcool sempre ajuda porque é como se tudo ficasse mais engraçado, bonito e interessante. O problema é quando se está sóbrio. Sem a porcentagem mínima de álcool no sangue fica difícil impedir a pergunta que vai definir o futuro daquilo que poderia se transformar numa relação: "Por que isso aqui está tão chato?".
 Juro que cheguei a ler um ótimo artigo sobre dar oportunidades às pessoas e deixar que o tempo preparasse o terreno para  a intimidade necessária que constrói boas relações - e tenho completa ciência de que isso inclui aceitar e conviver com as coisas boas e ruins de alguém. O problema é que eu mal podia lembrar deste texto enquanto olhava para o relógio disfarçadamente, torcendo para que o tempo fosse meu camarada e passasse mais depressa.
 Eu estava com um sentimento nostálgico tão forte que não só comecei a comparar meu presente com o meu passado, mas também cheguei a desejá-lo de maneira tão imprudente e idiota que uma parte ruim dele voltou, e foi como se eu tivesse dezesseis anos de novo, tentando fazer algo dar certo apenas porque queria que alguma coisa diferente acontecesse.
 Felizmente eu não tenho mais dezesseis anos e minha estrutura mental é muito mais resistente à erros estúpidos do que costumava ser. O autor do tal artigo podia até estar certo: não dá pra desistir de alguém só porque um defeito ou outro fica mais visível no segundo encontro. Mas é claro que eu não contava com a possibilidade de me sentir da maneira que me sentia há alguns anos em relação à isso - o que não é bom.
 Se não retroceder é o meu lema, a ideia de abrir mão de uma pessoa que faz com que eu me sinta como se estivesse em uma das piores fases existenciais da minha vida é mais inteligente do que desperdício.
 Eu prefiro esperar por alguém que desperte algo totalmente novo em mim. Aquele tipo de coisa que a gente espera a vida toda, sem realmente saber que estava esperando. Melhor manter essa esperança do que correr o risco de fazer parte de uma relação entediante... Na sobriedade e na bebedeira.


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Praticidade a là Schwarzenegger


 Quando eu era criança e via as coisas mudando drasticamente, começava a pensar que aquilo era o fim do mundo, ou pelo menos o começo do fim. Fico imaginando como teria sido se tivesse levado a sério o "Exterminador do Futuro". É possível que ficaria aterrorizada e queimaria todos os bips do meu pai - sabem do que estou falando.
 Só que o "fim do mundo" não passava de avanço, especialmente avanço tecnológico. Teria sido mais interessante - ou assustador - acreditar que o mundo acabaria devido ao descontrole das máquinas. O velho clichê da criação voltar-se contra o criador.
 O tempo passou bem rápido e de lá pra cá já ouvi e sobrevivi a mais fins de mundo que alguém conseguiria em uma ficção. Mas o avanço ainda me assusta um pouco. Justo eu que considero "praticidade" uma de minhas palavras preferidas.
 Acredito que o que me assusta é ter toda essa disponibilidade de tempo e economia de esforço disfarçados através dos produtos "revolucionários" da polishop ou dos robôs que podem substituir tão bem o trabalho humano que o fariam até melhor do que nós.
 E a partir daí fica difícil não tentar combater a sensação de que somos tão substituíveis que nossa existência não passa de mera formalidade. A regra é clara: cresça, estude, arranje um emprego, forme uma família, se aposente e continue se rendendo à gente mais poderosa do que você. E eu nem mencionei os detalhes sórdidos - se possível faça isso antes dos 30.
 Deveria culpar o senso comum por tamanha imposição sobre como devo levar a minha vida, me revoltar contra o sistema e tudo mais. Porém, eu faço parte dele. E assim como você, eu também sonho com o emprego perfeito, o amor da minha vida e ás vezes até em formar uma família - porque ninguém quer viver sozinho. Da mesma maneira como desejo pela boa aparência que o currículo da vida exige nas entrelinhas.  Deve ser porque nossos sonhos não passam dos reflexos do sonhos dos outros. Nós não os originamos, fomos simplesmente inspirados por pessoas que foram capazes de imaginá-los em primeira mão. E se a nossa vontade é, de fato, apenas melhorar todo o processo, restará algum espaço para as coisas realmente novas?
 Nem falo tanto de smartphones mais interessantes ou carros que, sei lá, se transformam em "Transformers". Mas se conseguimos tanto avançar nas mais diversas áreas, porque é que a verdadeira novidade seria dar prioridade à coisinhas como lealdade, amor e compaixão? Porque se há realmente algo bom em não ser tão racional como robôs são, é exercer a parte boa dos sentimentos, ao invés de explorar com tanto fervor o lado ruim deles.
 O meu medo de criança era, a princípio, o de ver tudo se acabando diante dos meus olhos numa sequência de eventos destrutivos e dolorosos. Agora, quase beirando aos 21, eu percebo que o fim do mundo já está aqui, e não porque estamos muito à frente de nosso tempo quando se trata de tecnologia, mas porque nós mesmos nos robotizamos.
 Felizmente, não tive coragem de vender minha alma em troca de mais praticidade, mas de quem é a garantia de que já não estamos fazendo isso sem nem sequer percebermos?

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

"Encontrar" pessoas


 Primeiros encontros são esquisitos.
 Eu mesma costumo imaginar todos os desastres passíveis de ocorrer antes, durante e depois do ato em sim.  Mas até que me considero boa nesse tipo de coisa, basta um cara que saiba falar de algo que vai além da academia - na verdade, não mencionar este assunto é essencial! E é claro, que não critique meus gostos musicais ou me ofenda de "brincadeirinha" quando diz que talvez não seja uma boa ideia eu comer pão.
 Estas possibilidades de caos são super comuns, e mesmo assim não nos impedem de sentir frio na barriga. E enquanto algumas pessoas estão preocupadas na maneira como serão vistas, eu estou preocupada com as desculpas que vou usar quando a coisa toda ir por água a baixo.
 Talvez seja negatividade, mas talvez seja apenas uma maneira indiferente de lidar com as expectativas que um acontecimento deste porte venha a oferecer. E acredite, as expectativas de um primeiro encontro podem se tornar tão surreais que a volta para a realidade pode chegar a nos custar semanas!
 Eu não prego a indiferença e a falta de esperanças quando se trata de conhecer pessoas para flertar com elas. Sou super a favor do flerte! Então porque não limitar as expectativas de um primeiro encontro em simplesmente cantar de forma divertida o cara gracinha que te chamou pra sair? Ou assistir ao filme que você provavelmente veria sozinha, mas decidiu ir com o rapaz gentil que parece ter uma quedinha por você mas disfarça sobre o rótulo de "amigo"?
 Os melhores momentos que tive foram com pessoas inesperadas. A risada sai mais natural, o tempo passa tão rápido que de repente já é meia-noite, o papo flui de maneira tão espontânea e desinteressada que se torna interessantíssimo.
 Preparar-se para um encontro como quem se prepara para entrar em um relacionamento sério é esquecer do que é realmente relevante em todo esse ritual de conhecer alguém novo. E me desculpem os muito românticos, mas não há nada melhor do que esquecer todo o planejamento para o "encontro perfeito" e deixar a coisa toda rolar naturalmente.
 Afinal, a pessoa certa - e até mesmo a errada - vai se impressionar muito mais com atitudes autênticas do que com os "Doze passos para ter o encontro perfeito".