segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Entrega



Independência pra mim é essencial.
Não é que eu esteja em uma busca frívola e desenfreada por autonomia, mas não dá pra negar que este é um dos meus objetivos mais importantes. Ouso dizer até que é uma das bases dos meus mais loucos sonhos.
Então, desde que era mais nova, tentar fazer o máximo possível por conta própria era minha prioridade. E nesta lista incluía aguentar as zoações da galera da escola, arranjar um trabalho, lidar com as emoções frenéticas de adolescente e construir relações com as pessoas à minha volta com a convicção de que é importante não se escorar nos outros.
Ter esse princípio básico gravado em minha mente moldou a minha personalidade, minhas metas pessoais e a maneira como lido com as áreas da minha vida.
Recentemente, me dei conta de que ser tão autossuficiente sempre é cansativo. Poder confiar em alguém para se apoiar - repare que desta vez usei o verbo "apoiar" e não "escorar" - é tão importante quanto buscar independência.
Felizmente, a melhor coisa que me aconteceu este ano foi me dar conta de que não preciso carregar todo o fardo sozinha. Espiritualmente falando, estou ótima, obrigada. Ter a certeza da salvação em Jesus Cristo abriu os meus olhos, quebrantou as barreiras em meu coração e me trouxe à vida novamente.
E este despertar acabou por trazer à tona antigas aspirações, objetivos e até mesmo uma velha e saudável ambição.
Estas coisas surgem do nada. Voltaram em um momento em que achei ter reencontrado a felicidade, quando na verdade ainda não havia sequer achado a mim mesma. E ao me dar conta de tudo isso, foi extremamente difícil perceber que eu havia construído um castelo de ilusões, e pior, colocado pessoas dentro dele.
Então, lá estava eu achando que me apaixonar resolveria meus problemas, ou que tentar parecer alguém que não sou traria a aceitação das pessoas, e a aceitação das pessoas, consequentemente, me faria feliz.
Caramba, galera! Já me enganei tanto com isso. Parece besteira quando, na teoria, condenamos os erros seguidos dos outros, apontando o dedo e afirmando que nunca seríamos capazes de cometer a mesma burrice duas vezes. Quer dizer, sério? Eu já perdi as contas de quantas vezes cometi o mesmo erro.
Óbvio que me recuso a achar que isso é pura burrice. Eu diria que está mais para um inclinamento meio inconsequente, porém inconsciente, que temos de nos meter em roubadas. Culpa das nossas emoções. Se tem algo que pode nos trair de forma tragicômica, sim, são nossas emoções.
Quer dizer, pense bem, meu caro leitor: quantas vezes você já chorou - bêbado ou não - por alguém que nunca nem ligou pra você? #EmoçõesFAIL. E quantas vezes você já se deixou levar por um sentimento de pura carência achando que o primeiro que aparecesse na sua frente e te soltasse um sorriso seria o amor da sua vida, que te tiraria da solidão destes dias tão cinzas e chatos? Mais uma vez: #EmoçõesFAIL.
Não é que sentir seja uma coisa ruim. O problema é quanto a gente SÓ SENTE.
Essa cultura de Facebook tem mania de nos levar aos extremos, sabe? Ou a gente ama, ou a gente odeia. Quer ver?
Nos apaixonamos loucamente por alguém, mas só é a coisa não dar certo que já dizemos a nós mesmos - bom, hoje em dia dizemos ao mundo - que nunca mais nos apaixonaremos de novo. Nunca mais confiaremos de novo. Nunca mais ouviremos aquela música do Jorge e Mateus de novo. Que saco, hein?
Me pergunto se não podemos simplesmente ter um meio termo. A paixão não deu certo? Bola pra frente, talvez a próxima dê.
O problema é que ficam por aí pregando que razão e emoção não andam juntas, quando na verdade as pessoas deveriam estar mais preocupadas em usarem a cabeça em conjunto com o coração pra não acabarem dependentes ora de um, ora de outro.
O fato é que minha cabeça e meu coração passaram a trabalhar em conjunto, e vou te dizer: eles formam uma ótima dupla!
A partir desta fusão magnífica, me dei conta daqueles sonhos que mencionei no começo deste texto, e do quanto eu tinha capacidade de alcançá-los. Tudo o que eu teria que fazer era parar de sentir pena de mim mesma, parar de dar audiência para a carência que me dominava e parar de tentar projetar a imagem de alguém que eu não sou - uma pessoa cujos sonhos eram diferentes dos meus, apenas porque sonhar mais baixo era mais fácil.
Então, aqui estou eu garantindo a vocês que eu acordei pra vida. Que o meu abrir de olhos não teve a ver simplesmente com uma epifania, como eu tenho dito por todos estes anos - sério, quantas vezes já usei a palavra "epifania" neste blog? - mas muito mais com um despertar espiritual que me tirou do centro do meu universo e passou a centralizar quem é digno de toda honra e glória: Deus.
E ao contrário do que pensam por aí, isto não me levou à alienação, mas à certeza clara de que realmente fui liberta.
Lembram dos sonhos que mencionei? Bem, primeiramente, eles não eram meus sonhos. Eram os sonhos de Deus, e eu os havia largado. E agora, além deles, Deus me trouxe à tona novos sonhos. Eu tenho a honra de desejar pelos sonhos que o Senhor preparou para mim. Não é simplesmente maravilhoso?
Agora, vamos recapitular. Nos momentos em que agi conforme às minhas emoções apenas, me tornei emocionalmente vulnerável e desenvolvi carência pela aceitação e o afeto das pessoas - um sorrisinho e puff! Já estava apaixonada. E quando eu agia apenas com a minha cabeça - a razão - estava em constante estado de solidão, revolta e renúncia, pois a realidade de uma sociedade massacrante como a que vivemos me tornava pessimista e me fazia preferir conseguir coisas menos significantes, porque elas são bem mais fáceis de serem conquistadas, e me impulsionava à negação.
Porém, a liberdade espiritual me trouxe paz, segurança e esperança. Entregar nossas vidas à Deus não é abrir mão da razão. Pelo contrário. Seguir a Deus nos impulsiona à conquistar o impossível e, para isso, nos dá coragem e ousadia para fazer o que for necessário, fazendo uso de nossa inteligência - que é uma dádiva. E quando colocamos o nosso coração no meio disso, estamos exercendo a nossa fé, confiando nossas vidas Àquele que nos salvou de um futuro de horror e nos deu a chance de uma vida eterna, sem dor, sem angústia, sem sofrimento.
O que quero dizer aqui é: Não é só sentir, não é só ter razão. Também é buscar, viver e conviver com a mudança.
Desejo do fundo de meu coração que muitos possam ter o mesmo despertar que eu tive. Que parem de viver a vida que os outros sonharam para eles. Que libertem-se do medo da opinião pública e que consigam ser verdadeiros com eles mesmos.
Uma vida dedicada a agradar as pessoas só nos leva ao engano. Porém, comece a agradar a Deus e você verá aquilo que os nossos medos mais supérfluos nunca nos deixaram ver: paz, vida, comunhão e liberdade.

Que Deus os abençoe.









quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Quem é que manda?



Entrar no Facebook e ver as notícias parece uma forma muito mais eficiente de se manter atualizado do que comprar um jornal na banca – especialmente se for às 6 da manhã. Além de prático, é muito mais rápido e resumido. Esta tem sido a realidade de muitos. Uma prova de que o Facebook é muito mais do que um meio de exibir ‘selfies’.
Para os entusiastas das teorias das conspirações, estamos presos em uma armadilha, mas não nos damos conta – afinal, é divertido. Já dizem muitas mães e tias por aí que é o fim dos tempos e que nunca houve tanto egoísmo e falsidade como agora.
Partindo para o lado mais objetivo de todas estas afirmações, esta é provavelmente a era mais individualista de todos os tempos. Por irônico que pareça, a rede social que junta também separa. Mas a recíproca também é verdadeira.
Apesar de estarmos cada vez mais ausentes de forma física, tecnologicamente falando, somos um conglomerado de pessoas com certos níveis de poder que somados formam uma massa de expressão significativa. E é possível ver isso nos maiores movimentos virtuais de 2013, como o #vemprarua, resultado dos protestos ocorridos em Julho do mesmo ano, ou a página “Diário de Classe”, da estudante Isadora Faber – perseguida e admirada por suas denúncias contra o sistema de educação pública.
Mas como nem só de idealismos vivem as redes sociais, não é de se admirar a quantidade de seguidores dos blogueiros e artistas mais populares da atualidade. Gabriela Pugliesi – a blogueira fitness com um tanquinho quase surreal para as mulheres aqui de baixo - faz sucesso com seus 566,251 mil seguidores no Instagram. Nem chega perto do craque Neymar Jr, é claro, que já ultrapassa a margem de 11 milhões de seguidores. Uma verdadeira disseminação de ideal de beleza e o sonho do futebol, compartilhado por toda – ou quase - uma nação de brasileiros.
A narrativa por detrás de tanta beleza, juventude e determinação – mesmo que o lema seja, em sua maioria, algo banal como “No pain, no gain” – é uma poderosa fonte influenciadora, que molda pensamentos e hábitos de maneira muito eficaz. Porém, este nível de influência e admiração atingido por carismáticos “populares” diz respeito a propósitos mais superficiais e cotidianos. Os seguidores da garota fitness e de Neymar estão, na verdade, buscando adequar-se a um mundo em que bundas e futebol são mais valorizados do que conhecimento, por exemplo.
Artistas como Beyonce, Lady Gaga e Nick Minaj não surgiram instantaneamente com uma ideia mirabolante para conquistar toda uma geração. Assim como “por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher”, por trás de um grande artista há sempre um grande empresário – Jay Z que o diga.
Não estou aqui menosprezando as formas de poder tão visíveis em nossa Timeline – ou no VEVO. O propósito é ressaltar a simples e astuta realidade de que quem manda na narrativa, manda no mundo.
Destaco aqui os ‘contadores de histórias’ e inventores de movimentos independentes - como Rafinha Bastos e suas polêmicas “causas” em sua página do Facebook - ou co-dependentes, como Neymar e a CBF. Ou, permitindo-se mergulhar no universo das conspirações – Obama e os Iluminatis.
O poder verdadeiramente dito está escondido por detrás de camadas de poderes mais “expostos”, por assim dizer. É aquela história de “o chefe do meu chefe é quem dá as ordens”.
Se a intenção fosse destacar qual a forma de poder realmente benigna para uma sociedade habituada ao caos, ela viria de uma mudança estrutural significativa na educação.
Porém, benigna ou não, isso nada mais é do que a base de todo poder: Conhecimento. A maneira como ele será usado – para o bem ou para o mal - é outro assunto.

Aqueles cujo poder está nas mãos – independente de qual for o nível – nos impelem a reagir, seja lá qual for o propósito. Basta um olhar mais atento: uma pequena mudança na narrativa e mais uma vez estamos dançando conforme a música de alguém

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Ser complicado



Não tem nada pior pra uma pessoa complicada explicar o que é que a torna tão complicada. Ela sai em busca de verbos e sinônimos, morde os lábios, faz careta, bagunça o cabelo e nada de sair a tal explicação. Só pra "ajudar", ela não quer ser óbvia, e muito menos ligar a característica à frase daquela tão famosa música: "complicada e perfeitinha".
Ser complicado não tem nada a ver com perfeição. Tem gente que acha que é charme. Eu vejo como um embaraço. Do meu ponto de vista, ser complicado é não conseguir verbalizar os sentimentos com clareza. É encontrar na paranoia um chão pra chamar de seu. É se dizer 'realista', mas na verdade estar empenhado em relembrar e prever fatalidades.
Quando saio por aí tentando explicar que sou complicada, vou logo deixando um alerta de fuga: a hora é agora, cara!
Nas raras vezes em que alguém decide ficar, nunca sei se a pessoa está curiosa, entendiada ou se só quer me desafiar mesmo. Infelizmente, é justo nestas vezes em que eu mesma boto pra correr quem está tão interessado em saber o que é que diacho se passa na minha cabeça! "Fuja para as colinas!", ecoa um grito mental quando o sujeito continua me olhando com cara de "o que mais? Diz aí!".
É porque o meu "o que mais?" é cheio de segredos e confusões que as vezes até eu tenho que esquecer a ideia de tentar entender.
Não tem nada de nobre ou atrativo em ser complicada.
Bom mesmo é ser bem resolvido, sem neuras, sem traumas. Ouvir um elogio e não desconfiar do significado por trás daquilo, ter uma pessoa sendo extremamente legal sem que você tenha que sair procurando um defeitozinho pra lembrar que ninguém é mesmo perfeito - um pedaço de brócolis no dente, sei lá!
Complicação pode não ter nada a ver com perfeição, mas nos torna detalhistas e chatos com coisas que deveriam ser insignificantes. Claro que, a meu ver, estas coisas são classificadas de acordo com a personalidade de cada um, mas elas ainda estão ali, andando lado a lado.
Porém, a maior característica que percebo em pessoas complicadas é o fato de que elas não querem se descomplicar. Há algo de muito emocionante em estar à procura de experiências mais fortes, carregadas de detalhes ínfimos e que parecem fazer toda a diferença. Aquilo já faz parte delas. É o seu charme, como diriam alguns.
Mas, de complicada pra complicado? Desencanar não faz mal à ninguém. De vez em quando a gente precisa simplesmente abraçar aquilo que entra na nossa vida com a intenção de nos fazer feliz - mesmo que talvez isso só venha a acontecer à longo prazo. Esse "querer tudo pra agora" que nos ronda está nos transformando em uma sociedade de ansiosos psicóticos, que buscam os defeitos alheios e não conseguem enxergar os próprios defeitos. Que se prende em idealizações idiotinhas, repletas de "eu" e desfocadas do "nós".
Minha vontade neste exato momento é simplesmente de descomplicar e encontrar o equilíbrio. A intenção, lógico, não é a de me transformar em exemplo de "Paz e amor", muito menos a de sair por aí dando lição de moral em todo mundo que cisma com aquela maniazinha chata do outro.
É que desconfio que, me libertando de todos estes traumas, neuras, ideais de beleza e de personalidades, vou acabar encontrando aquele tipo de coisa boa que nenhum complicado espera encontrar, mas que ao fazê-lo, não vai ousar questionar as razões e falcatruas que possam haver por detrás de algo que tem tudo para ser verdadeiramente bom.
Descomplicar faz parte da viagem. Então, a minha dica é: Viva... e relaxe.


domingo, 19 de outubro de 2014

As palavras


Eu sempre fui fã das palavras. Elas têm um poder tão impressionante de nos levar ao encantamento. De nos fazer imaginar e sondar aquilo que é simplesmente surreal e de aliviar aquelas dores chatinhas do âmago, sabe?
Vejo as palavras como um de meus refúgios para quando estou chateada com as pessoas. Chateada por elas não honrarem com tanto fervor a maravilha que é esse poder de encantamento. De apenas o usarem por usar. Por não darem real significado à algo que um dia foi tão expressivo e bonito.
É claro que, depois de se iludir aos montes com tantas palavras bonitas, a gente começa a entender porque é que ficam dizendo por aí que "falador passa mal". É porque palavras geram expectativas. Expectativas de que ações serão tomadas. Para o bem ou para o mal, foi selado um acordo em que nos livraremos da inércia que nos assola todos os dias.
Obviamente, más interpretações também estão aí para bagunçar e confundir. Estamos apressados por emoção e o 'querer tudo para agora ' faz com que deixemos passar batido aqueles detalhes, ora tão belíssimos, ora tão importantes.
Não tentamos mais compreender ninguém, contanto que já estejam dentro de nosso contexto prático. Encontramos o romantismo nas mensagens e o deixamos a desejar na vida real. Estamos tão mergulhados em nossos anseios sobre o que os outros dirão que nem nos permitimos sentir por nós mesmos!
Eu amo as palavras quando me rendo ao seu fascinante arsenal de aventuras, romances, guerras e utopias. Quando elas me fazem sentir estar em outra dimensão, livre de todos os meus problemas e medos, de toda a minha realidade, mesmo que por um curto espaço de tempo. Amo todas estas palavras em verso, prosa e poesia. Em livros largados às traças na última prateleira da biblioteca. Em artigos e colunas de gente que sabe transformar o 'real' em 'fantástico'. Em músicas que trilham a nossa vida desde à infância e nos ensinam a sonhar.
Mas palavras ao vento não me interessam. Promessas de sms não me fazem morrer de amores. Elogios à distância, mesmo quando tão próximos, não me arrepiam da cabeça aos pés e não fazem meu coração bater mais rápido.
Eu sou fã das palavras, mas ainda sou uma admiradora nata do olho no olho, do arrepio diante do toque da pele, do sorriso sincero, do "mostrar interesse" pessoalmente pelo meu dia, pela minha noite, pela minha história.
Sou admiradora daquilo que as palavras, em sua intenção mais frágil e bela, me ensinaram. Mas tenho o coração fechado para aquelas que contentam-se em serem apenas ditas, e não preocupam-se em serem vividas.

domingo, 12 de outubro de 2014

Amor de Tinder



Amor de Tinder não me cai bem. É algo frívolo. É um amor mais morno do que quente. Um buscar mais consequente. É ter promessa de perfeição e papo sem noção, conversa de elevador. É tipo amor delivery, com direito à promoção no domingo à noite: peça um e ganhe 2.
É cheio de carinha bom partido e vivido, viajado, aculturado, e todos os outros "ados". Pena que o auge da conversa é o "Tudo bom?". Dá vontade é de dizer: "Não! Não tá tudo bom! Eu esperava um poeta e me vem um clichêzão?!". Mas educadamente e seguido de uma carinha feliz a gente responde: "Tudo ótimo e vc?".
Amor de Tinder é uma extensão da realidade solitária que assola as pessoas. É abrir mão da primeira troca de olhares acidental, do meio sorriso sem jeito. É não ver a reação da outra pessoa ao falar contigo, as mãos suando, a fala trêmula, a risada nervosa, um olhar fugindo do outro e os pés... Ah, os pés, firmes no chão, sem sinal de fuga.
Amor de Tinder é prático. E vida prática pode ser boa em muitas áreas, mas não na sentimental.
Se é pra falar de amor, eu não quero amar "em praticidade". Quero amar devagar, beijar lentamente, sentir o tempo parar com o olhar preso em outro olhar. A praticidade eu deixo para os produtos da Polishop.
Amor de Tinder é vulgar, sem flerte romântico, sem elogio sincero, sem gostar simplesmente pelo gostar. É se atrair pelo o que não existe, inventar e moldar a perfeição.
É pedir pra ver foto de corpo inteiro, é cortar aquele assunto bacana sobre os Beatles no meio. É priorizar o cabelo bonito, o decote apertado, a barriga sarada e deixar pra depois aquela piada engraçada. Sim, porque piada boa é aquela que só os amigos entendem, ao te olhar com os olhos carregados de um misto de vergonha alheia e espanto por achar graça de algo que nem é tão engraçado.
Pra isso que serve a intimidade. Pra isso não tem aplicativo ou rede social que disponibilize tal dádiva de forma tão instantânea.
E de tudo isso, a única coisa que posso tirar do amor de Tinder é que ele pode ser tudo, menos amor de verdade.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Despertando o melhor



Sempre achei uma lindeza quando alguém dizia gostar de fulano porque ele o fazia ser melhor. Soa tão bonito para os ouvidos que dá até vontade de experimentar. Claro que, pra mim, esse tipo de coisa nunca aconteceu. As criaturas com as quais me relacionei eram, pelo menos as mais interessantes, do tipo mal caráter. E eu não era bem uma "vítima", era só uma garota buscando a forma mais branda de aventura e perigo.
Mas eles não despertavam o que havia de melhor em mim. É certo que na época nem eu sabia o que poderia causar em mim tamanho efeito, mas com certeza não era o bonitinho da academia.
Até então eu já sabia que relacionamentos amorosos sempre afetaram a minha vida de maneira não tão boa, e na maioria das vezes, quando pareciam caminhar para a seriedade, eram mais incômodos do que apaixonantes. E então eu fugia.
Eu não tinha me ligado no quanto isso impactou a minha vida. Quer dizer, eu sempre soube que em matéria de relacionamento amoroso minha nota nunca foi muito satisfatória. Mas me justificava saber como era estar tão apaixonada, nas raras vezes em que isso acontecia, e me entregar nesse tipo de paixão intensa e meio maluca.
Então, veja bem, eu sei o que é gostar muito de alguém e se imaginar tendo um futuro com essa pessoa. Assim como sei como é estar tão apaixonada e mergulhar de cabeça nisso mesmo ciente de que não há um futuro reservado.
Essa última citada foi a que realmente mexeu comigo. Sempre soube que era a adrenalina da queda que havia me atraído, mas não havia pensado direito em como seria quando estivesse tão próxima do chão.
Mesmo assim, o responsável por me influenciar de maneira tão inconsequente também não despertava o que havia de melhor em mim. Na verdade, passei tanto tempo acreditando que era bem provável que esse melhor talvez nem existisse aqui, que esqueci da teoria. Deixei para os filmes do Tom Hanks.
Agora as coisas estão diferentes. Eu mesmo nem me reconheço, o que é bom. Passei por uma transformação dolorosa, mas que no final valeu a pena. Ótimo! Porém, ainda me resta um pouquinho daquele medo de compromisso. A diferença é que agora eu entendo o que é realmente estar compromissado com alguém. É permitir que ela desperte o há de melhor em você.
Me peguei pensando que talvez eu nem queira esse melhor, que ele possa implicar em um tipo de perfeição que eu seria incapaz de manter, quem sabe até de alcançar. Que o melhor de mim pode nem me pertencer. Pode simplesmente ser uma pessoa diferente, criada por mim mesma para suprir a necessidade de ser feliz fazendo alguém feliz e, caramba! Que mega responsabilidade!
Só que depois de toda essa reflexão, parece muito mais aterrorizante não sentir esta forma tão nobre e genuína de amor e passar a vida entre um caso e outro, meio cheia, meio vazia.
Se eu adiar esse amor só mais um pouquinho, não é instinto de psicopatia, não. É só desejo reprimido. Mas desejo de descobrir as outras formas de amor primeiro... Na arte, na gastronomia, na profissão, nos lugares.
É medo de me prender e, consequentemente, me perder. Medo de perder a parte que me define.
Assim, só aceito entregar o meu melhor pra quem conseguir aceitar o meu pior. Perfeição, meu querido, não é a minha praia.



quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Pós-inverno


 Fiquei parada tempo demais observando a vida passar, sem trocar de canal e com os olhos vidrados, surpresa com tamanha rapidez. Lá se foram meses e sinto que pela primeira vez em muito tempo posso respirar de novo.
 A gente carrega tantos fardos que hora ou outra se acostuma. Pode doer a coluna, os ombros e o pescoço e o que fazemos é franzir o nariz, ignorar a dor e dizer: "Ah, é normal". Só que quando a dor é demais não é normal! Ignorei minha capacidade de adquirir forças por tanto tempo que também acabei ignorando que ela estava ali.
 Algumas coisas ficaram bem claras: eu não fingi. Sério, devem ter sido os meses mais sinceros da minha vida, porque se eu estava simplesmente cansada era isso que eu demonstrava. Se a alegria era plena, maravilha! Mas se o desânimo batia, era tão evidente que, lembrando disso, não consigo evitar de pensar no quão fraca eu estava.
 Eu havia me tornado transparente. Todas as minhas vulnerabilidades à mostra começaram a me definir e, honestamente, eu achei que seria mais difícil jogar a toalha e aceitar que eu havia mudado e que a mudança, apesar de não tão boa, era consequência e eu tinha de lidar com aquilo.
 Besteira!
 Não dá pra negar que muitas coisas vem pra te derrubar e, apesar de clichê, é fato que o importante é sempre arranjarmos forças pra levantar. Precisamos começar a entender que desistir não pode ser uma opção válida a todo momento. Apesar de também sermos suscetíveis ao fracasso, abraçá-lo como membro da família é autodestrutivo, é burrice e é mesquinho.
 Mesquinho, sim!
 Nosso papel de vítimas parece embaçar nossa visão e nos fazer ter crises de Alzheimer. Afinal, esquecemos que por menor que possa ser o número de pessoas que se importam, sempre há alguém fazendo isso por nós. A gente deixa de levar em conta o "Bom dia" acompanhado de um sorriso aconchegante, o elogio singelo que não carrega nenhum interesse sórdido, e até as tentativas de quem quer nos ver sorrindo - seja com uma piada ou um gesto.
 Acredito francamente que precisei de um tempo sozinha, organizando os pensamentos, limpando a bagunça, você sabe. Mas somente quando parei de me focar na minha solidão e passei a captar os verdadeiros sinais de que havia sim pessoas e coisas pela qual viver, é que uma genuína mudança passou a acontecer dentro de mim.
 Eu não sei como explicar com detalhes - acho que afinal ainda não sou uma escritora tão boa - mas acredito que tem sentimentos e situações que não precisam ser explicadas, e nós podemos simplesmente deixar os detalhes de lado e enfeitar um pouco pra ficar mais bonito.
 O inverno que depredou tanta coisa na minha vida deu espaço para uma primavera virtuosa. Aqui, do meu lugar ao sol, eu recebo de volta o calor que tanto me fez falta durante o frio da temporada passada.



terça-feira, 27 de maio de 2014

Um quarto de pensamentos


 Meu quadro de avisos é uma bagunça de post its coloridos sem nexo e poucas imagens que ilustram um passado interessante e uma apreciação por rabiscos e liberdade.
 De minha caixa de som só ressoam ritmos antigos, guitarras ferozes, vozes roucas e suaves, palavras doces, revolucionárias, amarguradas e esperançosas, mas nunca desprovidas de sentimento. Vestígios de curiosidades estão espalhados: livros em cima da escrivania, jogados na cama, amontoados na prateleira empoeirada e escondidos na bolsa largada num canto qualquer. Falam sobre tudo, analisam comportamentos, revelam segredos, intimidam, empolgam, criam expectativas e geram ilusões. Sinto-me mergulhar num abismo. A escuridão e a luz são relativas e mal lembro de minhas aflições tão banais e habituais. 
 Aqui, o que me amedronta mesmo é esta silenciosa solidão ante à falta de perspectiva. A solidão diante de um emaranhado de pessoas e vidas intangíveis, fingidas. Ser uma delas é inevitável - e um pesadelo. Talvez estando imersa nos pensamentos vorazes destes escritores da revolução, artistas brilhantes e inspiradores, meu coração cumule-se de essência e dê sentido à uma vida moldada de delírios.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Fuga


 Manhã de sábado e você levanta devagarzinho. Da minha cama, imagino suas escapadas em outros quartos, o recolher lento das roupas jogadas no chão. A sutileza ao girar a maçaneta da porta e a dancinha de comemoração ao chegar no lado de fora: livre novamente. Os corações partidos do outro lado estavam sempre adormecidos diante de sua partida e o despertar devia ser apenas um longo suspiro de decepção seguido de um aperto no travesseiro e pensamentos perturbadores, que logo seriam abafados pelo sono que voltava.
 Meu pensamento foi muito rápido e eu apenas torci para que, ao vê-lo partir, aquilo significasse que eu poderia detestá-lo em paz. Será que poderia ao menos me poupar de sua dancinha ridícula ao sair do quarto? Meu coração não estava dormente como o das outras.
 Então era isso: o produto final de um joguinho atraente. Você era o mauricinho descolado, preso em ternos de grife e sufocado por suas gravatas sofisticadas. Gel no cabelo, sorriso implacável - um belo sorriso - e simpatia para todos os gostos. Eu era a observadora refreando minha admiração e contendo minha paixão platônica.
 Podíamos ser o clichê de sempre, mas não fomos. De repente, caminhos se cruzam, sorrisos são trocados, conversas banais estimuladas. Seu charme é pretensioso, mas descubro um coração desafetado, carregado de carinho e paixão. Sua paixão me inspira, me faz querer ser melhor. Sua entrega é surpreendente, e receosa como sou, questionável.
 Aqui estou eu em posição de desconfiança mais uma vez. Você é o clássico "bom demais pra ser verdade" e o sonho acabou. 'Olá, realidade. Acho que senti sua falta' - penso de forma melindrosa.
 Só que você ousou chegar mais perto enquanto eu fingia dormir. Seu rosto aproximou-se de meu pescoço, pude sentir sua barba quase crescida e seu aroma da noite anterior. Inalou meu perfume e o toque de seus lábios acariciou meu rosto. Eu arrisquei abrir os olhos para fitá-lo pelo o que poderia ser a última vez, e me peguei presa em seu olhar penetrante.
 Subitamente, suas mãos me alcançam, seu toque me arrepia e seu sorriso atinge os olhos. É você me perguntando: "Posso ficar mais um pouco?". É quando eu percebo que a sua fuga... Sou eu.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Uma boa dose de mim, por favor.


Eu nunca fiz parte da "turma legal" de lugar nenhum. Nem da escola, da igreja, da faculdade ou do inglês. Eu sempre fui a coadjuvante dos cenários da minha vida. Estive nos cantos observando, calculando e pensando em tanta coisa que me tornei muito boa na arte de me desligar do mundo por alguns instantes. Infelizmente, não é o tipo de coisa que faz as pessoas suspirarem de orgulho. Ser meio solitária não é divertido como estar entre a galera das piadinhas e das conversas fiadas, mas é, de certa forma, edificante.
 Assim como ficamos à espera de alguém disposto a nos livrar de nossa solidão, nos ocupamos com tanta atividade mental que nos ligam à questões filosóficas e interiores, carregadas pela busca de sentido, que a ideia de abrir mão deste tipo de personalidade não só é questionável, como também quase impossível.
 Perdi as contas de quantas vezes me esforcei para sufocar quem sou, me escondendo sob uma máscara forçada de extroversão. É claro que detalhes de minha introversão sempre acabam escapando de um jeito ou de outro, e isso ficava nítido quando, diante de uma conversinha fiada sobre o tempo ou música eletrônica, tudo o que eu fazia era soltar um sorriso que não chegava a atingir os meus olhos.
 Meu "sorriso de educação" sempre foi um matador de climas. Era a prova de que o papo não fluiria, a cantada não daria certo ou que o ponto de vista de fulano era carente de argumentos plausíveis - ou era apenas estúpido mesmo.
 Não importa o quanto eu tentasse ser alguém que, de fato, não sou, eu nunca poderia fingir paixão por algo ou alguém. O brilho de fascinação em meus olhos é aquele tipo raro que aparece vez ou outra pra provar que ainda existem coisas capazes de surpreender em um mundo cujas relações tornaram-se tão previsíveis. Um bom filme, com enredo intrigante e um final de fazer os olhos lagrimejarem. Uma frase bem colocada, com um timing perfeito e o impacto necessário para atingir os limites da razão e alcançar o coração. A harmonia saindo do violão ou o frenesi que só o tocar dos corpos, junto com o olho no olho e a química certa entre duas pessoas podem causar. Sabe como é, eventos memoráveis e, ainda que simples, intensos.
 Depois de passar tanto tempo sacrificando minhas vontades numa tentativa falha de ser quem as pessoas esperavam que eu fosse - seja para estar dentro de um padrão aceito socialmente ou para aparentar ter características necessárias para estar em um grupo em particular - eu achei que não seria ruim dar uma chance de ser, pela primeira vez, eu mesma.
 Foram anos me descobrindo e, ao mesmo tempo, me escondendo. É estúpido se apegar à crença de que não gostarão de quem somos antes mesmo que possamos nos dar a oportunidade de nos mostrar. Quando se escolhe ser verdadeiro consigo e com os outros, o preço a ser pago pode ser bem alto, geralmente porque crescemos acreditando que devemos nos moldar a todo tipo de personalidade que nos é imposta.
 Mas essa autenticidade, mesmo sendo tantas vezes dolorosa, nos ajuda a manter quem é verdadeiro por perto. Eu, por exemplo, não sou nem de longe a pessoa mais popular nos grupos sociais em que estou inserida. Também não tento ser. Ao me manter verdadeira, me sinto confortável dentro de certos limites que eu impus a mim mesma, como o de não tentar chamar a atenção para compensar uma carência ou entrar em um confronto para poder sustentar esta mesma tentativa de ser o foco.
 É claro que consegui aprender que passividade não pode ser sempre um fator positivo. Escolhi enfrentar minhas lutas usando o meu melhor como munição ao invés de continuar me escondendo para me manter viva. É importante compreender que não há vida sem um propósito, e não há propósito a ser conquistado sem que demos a cara a tapa algumas vezes.
 Me aceitar me deixou mais leve, me fez perceber que aquele peso sob meus ombros era o acúmulo de diferentes tipos de pessoas que não poderiam ser inseridas a mim, porque meu eu é perfeitamente adaptável àquilo que lhe é benéfico.
 Eu fui a festeira, a namoradeira, a barraqueira, a boazinha, a "aventureira", a mente aberta e a engolidora de sapos. Eu sorri por educação, fingi que estava tudo bem quando nada estava bem, aceitei pontos de vista sem nexo para evitar um conflito declarado e ri diante de palavras que me machucaram como se fosse a piada mais engraçada do mundo. Eu fui forte quando tinha todo o direito de mostrar minhas feridas - só pra provar que eu não sou de ferro, eu também posso sangrar, caramba! - e usei o silêncio como resposta para todos que me fizeram interiorizar minhas tristezas sufocadas.
 Talvez isso soe como um ato de independência exagerado - dane-se - mas neste momento, me isento da responsabilidade de estar em constante acordo com as expectativas do mundo.
 Já me bastam as minhas.


sábado, 5 de abril de 2014

Atrevimento


Eu entendi. Você me deseja. Na verdade, deseja o meu eu secreto. Aquele que eu tinha sufocado por medo de fracassar. O mesmo que me permiti abrir mão por me sentir no direito de passar meses sofrendo por algo que eu nem mesmo lembro mais o que era.
Você deseja a vitalidade e a paixão pela vida que eu havia deixado jogada às traças no porão enquanto me inundava no aparente doce charme da solidão.
Não me leve a mal. É que meus pensamentos eram apenas meus. Não ter que dividi-los foi diferente de não querer fazê-lo. Mas gente como eu escolhe de forma rigorosa quem vai ser digno de escutar tamanha confusão emocional. Minha confusão emocional.
Eu quis sim te poupar de minhas particularidades sombrias, meus medos discretos e minha coragem sufocada. Dividir minha loucura me pareceu o caminho para que pudesse descobrir minhas vulnerabilidades. E eu não queria isso.
Queria que pensasse em mim como uma "pessoa difícil", que não gosta de perder tempo jogando conversa fora. Seria muito mais fácil se me visse como a chata metida à intelectual, que ouve música antiga e lê livros de sociologia só pra se exibir.
Mas você viu minhas particularidades. Você achou bonito o que eu sempre achei ridículo em mim, compreendeu que meus estilos musicais não passavam do meio para que eu chegasse ao meu refúgio da realidade. E por compreender que estava muito difícil para mim sonhar com os pés no chão, conformando-me apenas em manter aqueles deliciosos paraísos em minha imaginação, se dispôs a me provar que viver os sonhos não era uma utopia. Que eu podia - e devia - transformá-los em objetivos.
 Acontece que eu passei a ousar de novo. Eu me atrevo a ser feliz porque você se atreveu a não desistir de mim.
 Sinceramente, obrigada.

domingo, 26 de janeiro de 2014

We're boring, man.


 Não há nada pior do que um homem que fala demais.
 Na última vez que tive a infelicidade de me encontrar com um desses, juro que nunca havia passado tanto tempo sem ouvir o som da minha própria voz. Tudo o que eu fazia era balançar a cabeça, sorrir de forma forçada e ás vezes soltar uma risada fingida, só por educação.
 Acho terrível essa maneira que algumas pessoas têm de não dar a oportunidade de escutar de vez em quando. Não é só uma questão de bom senso, também é estratégico. Em minha experiência, posso afirmar que é só perceber que alguém é um bom ouvinte e o indivíduo, sem nem perceber, acaba de dar um passo rumo à algo promissor - seja um beijo de boa noite ou um próximo encontro no "país das maravilhas".
 Me dei o direito de me eximir do grupo dos que não sabem ouvir. Sou tão ótima ouvinte que não é difícil sentir o fardo sobre os meus ombros. Dependendo de quem for, pode ser extremamente cansativo fingir interesse através de gestos e expressões que, ao invés de acelerar o fim do processo, só faz com que ele passe mais devagar.
 Álcool sempre ajuda porque é como se tudo ficasse mais engraçado, bonito e interessante. O problema é quando se está sóbrio. Sem a porcentagem mínima de álcool no sangue fica difícil impedir a pergunta que vai definir o futuro daquilo que poderia se transformar numa relação: "Por que isso aqui está tão chato?".
 Juro que cheguei a ler um ótimo artigo sobre dar oportunidades às pessoas e deixar que o tempo preparasse o terreno para  a intimidade necessária que constrói boas relações - e tenho completa ciência de que isso inclui aceitar e conviver com as coisas boas e ruins de alguém. O problema é que eu mal podia lembrar deste texto enquanto olhava para o relógio disfarçadamente, torcendo para que o tempo fosse meu camarada e passasse mais depressa.
 Eu estava com um sentimento nostálgico tão forte que não só comecei a comparar meu presente com o meu passado, mas também cheguei a desejá-lo de maneira tão imprudente e idiota que uma parte ruim dele voltou, e foi como se eu tivesse dezesseis anos de novo, tentando fazer algo dar certo apenas porque queria que alguma coisa diferente acontecesse.
 Felizmente eu não tenho mais dezesseis anos e minha estrutura mental é muito mais resistente à erros estúpidos do que costumava ser. O autor do tal artigo podia até estar certo: não dá pra desistir de alguém só porque um defeito ou outro fica mais visível no segundo encontro. Mas é claro que eu não contava com a possibilidade de me sentir da maneira que me sentia há alguns anos em relação à isso - o que não é bom.
 Se não retroceder é o meu lema, a ideia de abrir mão de uma pessoa que faz com que eu me sinta como se estivesse em uma das piores fases existenciais da minha vida é mais inteligente do que desperdício.
 Eu prefiro esperar por alguém que desperte algo totalmente novo em mim. Aquele tipo de coisa que a gente espera a vida toda, sem realmente saber que estava esperando. Melhor manter essa esperança do que correr o risco de fazer parte de uma relação entediante... Na sobriedade e na bebedeira.


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Praticidade a là Schwarzenegger


 Quando eu era criança e via as coisas mudando drasticamente, começava a pensar que aquilo era o fim do mundo, ou pelo menos o começo do fim. Fico imaginando como teria sido se tivesse levado a sério o "Exterminador do Futuro". É possível que ficaria aterrorizada e queimaria todos os bips do meu pai - sabem do que estou falando.
 Só que o "fim do mundo" não passava de avanço, especialmente avanço tecnológico. Teria sido mais interessante - ou assustador - acreditar que o mundo acabaria devido ao descontrole das máquinas. O velho clichê da criação voltar-se contra o criador.
 O tempo passou bem rápido e de lá pra cá já ouvi e sobrevivi a mais fins de mundo que alguém conseguiria em uma ficção. Mas o avanço ainda me assusta um pouco. Justo eu que considero "praticidade" uma de minhas palavras preferidas.
 Acredito que o que me assusta é ter toda essa disponibilidade de tempo e economia de esforço disfarçados através dos produtos "revolucionários" da polishop ou dos robôs que podem substituir tão bem o trabalho humano que o fariam até melhor do que nós.
 E a partir daí fica difícil não tentar combater a sensação de que somos tão substituíveis que nossa existência não passa de mera formalidade. A regra é clara: cresça, estude, arranje um emprego, forme uma família, se aposente e continue se rendendo à gente mais poderosa do que você. E eu nem mencionei os detalhes sórdidos - se possível faça isso antes dos 30.
 Deveria culpar o senso comum por tamanha imposição sobre como devo levar a minha vida, me revoltar contra o sistema e tudo mais. Porém, eu faço parte dele. E assim como você, eu também sonho com o emprego perfeito, o amor da minha vida e ás vezes até em formar uma família - porque ninguém quer viver sozinho. Da mesma maneira como desejo pela boa aparência que o currículo da vida exige nas entrelinhas.  Deve ser porque nossos sonhos não passam dos reflexos do sonhos dos outros. Nós não os originamos, fomos simplesmente inspirados por pessoas que foram capazes de imaginá-los em primeira mão. E se a nossa vontade é, de fato, apenas melhorar todo o processo, restará algum espaço para as coisas realmente novas?
 Nem falo tanto de smartphones mais interessantes ou carros que, sei lá, se transformam em "Transformers". Mas se conseguimos tanto avançar nas mais diversas áreas, porque é que a verdadeira novidade seria dar prioridade à coisinhas como lealdade, amor e compaixão? Porque se há realmente algo bom em não ser tão racional como robôs são, é exercer a parte boa dos sentimentos, ao invés de explorar com tanto fervor o lado ruim deles.
 O meu medo de criança era, a princípio, o de ver tudo se acabando diante dos meus olhos numa sequência de eventos destrutivos e dolorosos. Agora, quase beirando aos 21, eu percebo que o fim do mundo já está aqui, e não porque estamos muito à frente de nosso tempo quando se trata de tecnologia, mas porque nós mesmos nos robotizamos.
 Felizmente, não tive coragem de vender minha alma em troca de mais praticidade, mas de quem é a garantia de que já não estamos fazendo isso sem nem sequer percebermos?

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

"Encontrar" pessoas


 Primeiros encontros são esquisitos.
 Eu mesma costumo imaginar todos os desastres passíveis de ocorrer antes, durante e depois do ato em sim.  Mas até que me considero boa nesse tipo de coisa, basta um cara que saiba falar de algo que vai além da academia - na verdade, não mencionar este assunto é essencial! E é claro, que não critique meus gostos musicais ou me ofenda de "brincadeirinha" quando diz que talvez não seja uma boa ideia eu comer pão.
 Estas possibilidades de caos são super comuns, e mesmo assim não nos impedem de sentir frio na barriga. E enquanto algumas pessoas estão preocupadas na maneira como serão vistas, eu estou preocupada com as desculpas que vou usar quando a coisa toda ir por água a baixo.
 Talvez seja negatividade, mas talvez seja apenas uma maneira indiferente de lidar com as expectativas que um acontecimento deste porte venha a oferecer. E acredite, as expectativas de um primeiro encontro podem se tornar tão surreais que a volta para a realidade pode chegar a nos custar semanas!
 Eu não prego a indiferença e a falta de esperanças quando se trata de conhecer pessoas para flertar com elas. Sou super a favor do flerte! Então porque não limitar as expectativas de um primeiro encontro em simplesmente cantar de forma divertida o cara gracinha que te chamou pra sair? Ou assistir ao filme que você provavelmente veria sozinha, mas decidiu ir com o rapaz gentil que parece ter uma quedinha por você mas disfarça sobre o rótulo de "amigo"?
 Os melhores momentos que tive foram com pessoas inesperadas. A risada sai mais natural, o tempo passa tão rápido que de repente já é meia-noite, o papo flui de maneira tão espontânea e desinteressada que se torna interessantíssimo.
 Preparar-se para um encontro como quem se prepara para entrar em um relacionamento sério é esquecer do que é realmente relevante em todo esse ritual de conhecer alguém novo. E me desculpem os muito românticos, mas não há nada melhor do que esquecer todo o planejamento para o "encontro perfeito" e deixar a coisa toda rolar naturalmente.
 Afinal, a pessoa certa - e até mesmo a errada - vai se impressionar muito mais com atitudes autênticas do que com os "Doze passos para ter o encontro perfeito".