terça-feira, 28 de agosto de 2012

A fraudulenta "dona" da verdade se foi


 Passei da fase de compreendedora da vida. Levou um tempo pra perceber o quão irritante eu soo quando tento parecer a dona da verdade - apesar deste ser um de meus passatempos preferidos. É óbvio que voltar ao total estado de conformidade de antes está fora de cogitação, assim como continuar sendo a "espertinha" da turma. Este é um posto que eu com certeza não desejo ocupar. Sabe como é, mágoas passadas, quando eu odiava o tipo.
 Não é que eu vá deixar de ler os livros com conhecimento talvez nulo - ou não - ou que passe a ouvir tudo sem esboçar uma opinião sequer. Isso simplesmente iria contra minha natureza. Pois é, minha natureza, que descubro eu, é de um ser falante. Do tipo, bem falante!
 Não vou negar. Me empolguei com a ideia de discutir ideias, viajar nos mais variados temas, dos mais significativos aos mais insignificantes. Posso botar a culpa na cerveja. Aceitei que o álcool, querendo ou não, é um combustível social, e é possível que esta aceitação seja a causa de tamanha mudança dentro de meu confuso ser - apesar da mudança inicial ter me levado a ser uma chata presunçosa que se acha a dona da verdade.
 Eu simplesmente percebo que este desabafo, onde admito minhas características mais incômodas, traz a tona quem eu costumava ser - na minha cabeça. Deve ter algo a ver com Sócrates, não sei. De repente parece mais interessante ser sábia por saber que não sei de absolutamente nada. E isso é MUITO aliviante.
 Tentar ser a dona da razão cansa, é frustrante e vira e mexe acabo me encontrando em crises existenciais que envolvem uma bipolaridade que incomoda até mesmo meu ser interior - algo em meu âmago.
 Percebo que isso deve ser crescer. Sabe como é, uma série de atitudes escrotas que nos leva aos erros mais imbecis que estão ali só pra nos ensinar uma lição. Crescer também deve ser entrar em contradição, como levantar a hipótese de que os erros são simplesmente parte de nossa natureza, e que só ensinam lições por mero acaso. Consequência, entende?
 Entrego de mão beijada o cargo de "sabe tudo". E por quê? Bem, eu não sei de merda nenhuma. Até onde sei tudo o que acredito pode ser uma fraude, pontos de vista mudam, e eu não passo de uma mera pessoa que se recusa a ser chamada de comum - porque ser comum não tem graça. Além do mais, essa coisa de rótulo me incomoda.
 De agora em diante, eu serei aquilo que sentir de ser. Ás vezes com meus momentos estúpidos de soberba, outras um poço de humildade, e na maior parte do tempo alguém no meio disso. O equilíbrio que imaginei há anos enquanto construía meu caráter. Aquele que me trouxe às epifanias atuais e me fez ser esta pessoa, esperando os erros e experiências necessárias para sobreviver à selva social em que me encontro neste exato momento: a vida.