terça-feira, 24 de setembro de 2013

O antiquado é que é "cool"



 Hoje em dia tudo é muito artificial. Tirando os adolescentes que se acham autênticos, nem ao menos finge-se mais originalidade.
 Veja só, Hollywood parece ter desistido dos roteiros diferenciados - juro que ser presenciar o surgimento de outro super-herói, desisto de minha utópica carreira de atriz! A literatura já está atolada de temas vampirescos e pornôs para o público feminino e com apenas algumas exceções, quem costumava produzir boa música hoje esconde a voz e o talento - isso quando talento - atrás de batidas eletrônicas e censura a arte da boa poesia. Tudo é massificado. Tudo é pra vender.
 Como estudante de Publicidade, um viva para a era do consumo! Mas no meu âmago, existe uma lamentação pela deterioração dos bens culturais que nos foram deixados. O fato de a modernidade, no quesito cultura, nos distanciar dos talentos natos e da paixão que move a arte me incomoda e muito!
  Estou na época em que agora me recordo mais claramente de coisas do passado. Situações que pareceram ter ocorrido ontem, vez ou outra me dão um toque: "O tempo está passando".
 Isso me faz lembrar de que nunca fui o tipo de mulher que sonha em formar uma família. Meus sonhos estão mais atrelados à viagens, conhecimentos diversificados e uma curiosidade insaciável pelo desconhecido. Ainda assim, quando me imagino como esposa, mãe e até avó, me vejo não apenas contando histórias das tais lembranças, mas deixando um legado cultural para meus futuros entes.
 Daqui há alguns anos, em reuniões de família, estarei ensinando meus filhos a gostarem de bandas cujo auge deu-se há 70 anos. Serei como Adam Sandler: Músicas de 99 em diante estarão descartadas. Claro que uma ou outra se salva.
 Um dia comentei que gosto de cantores menosprezados. Menosprezados pela massa por seu talento, menosprezados por sua originalidade e pela profundidade de sua poesia. Quando digo nomes como Morrissey, Lennon, Ray Charles e até mesmo do meu querido amadíssimo John Mayer, sou logo vista com olhos diferentes. Seria uma honra se não atrelassem meu gosto musical à um possível mau-gosto, só porque não está "na moda" ouvir as canções melodramáticas dos Smiths, ou o antiquado som do Ray. Lennon só é constantemente livrado desta sina porque dizia frases mais impactantes - e como não? Ele era um Beatle!
 Não se valorizam mais os clássicos. E a não ser que determinada figura tenha dito palavras relacionadas à paixão que nos convém postar no facebook - Clarice Lispector revira no túmulo sempre que alguém diz algo idiota em seu nome - ela deixa de importar. Ou pior: ela passa a ser limitada à determinada classe.
 Por isso a massificação é uma merda. Ninguém mais pensa por si mesmo, pois predomina a necessidade criada pelos meios midiáticos de estarmos inseridos dentro dos padrões impostos de acordo com nossa classe social. Daí é que surgem as Annitas, os Dalestes e os Michéis Teló da vida. Sucessos passageiros que só servem para dar espaço à outros como eles.
  A cultura passa por ciclos viciosos. Quem conseguir se salvar, me encontre do outro lado do rio, na ala dos "antiquados". Cantores, escritores e quem sabe até a própria Clarice estarão dando um verdadeiro show sobre o que realmente é capaz de tocar nossa alma, e adivinhe: Não é o David Gueta.


domingo, 22 de setembro de 2013

O que eu senti quando...


 Ontem à noite faltei à faculdade para ir num show. A falta valeu. Esperei exatos cinco anos para ver o cantor cujas cordas vocais e os dedos habilidosos sob as cordas da guitarra tinham o poder de me arrepiar dos pés à cabeça.
 John Mayer conseguiu encher a arena do Anhembi, e eu estava lá testemunhando a sua arte enquanto "No such thing" ecoava por todos os lados. 
 O John - para os íntimos - tem um poder interessante sob mim. No meio daquela multidão, ouvindo um acorde atrás do outro com aquela tamanha sintonia e energia contagiante de sua paixão pela música, eu me senti transcender.
 Então eu não era mais a mesma, ao menos não naquele momento. Meus dramas, problemas e dilemas haviam sumido. Não interessava mais se eu teria que trabalhar dali há cinco horas, ou que estava perdendo uma aula importantíssima na faculdade. Me permiti por duas horas e meia ser levada para onde só a música é capaz de me transportar.
 Antes disso sentia meu corpo enfadado pelo cansaço do dia. Olhava ao redor e me sentia uma estranha em meio a milhares de pessoas que, apesar do que aparentavam, poderiam muito bem serem parecidas comigo em alguns aspectos - afinal, lá estávamos nós assistindo ao show de alguém que a maioria de meus amigos sequer ouviram falar. Mas mesmo que também fossemos muito diferentes ali, foi uma só voz que uniu um amontoado de pessoas distintas. Lá estávamos nós, transcendendo.
 Quem sentiu, sentiu. Quem não pôde, ou não quis, que me desculpe. Foi a melhor sensação do mundo.

Texto de 20 de setembro de 2013.

domingo, 1 de setembro de 2013

Primeiros encontros


- Isso é legal. - Disse ela depois de observar a vista em volta do restaurante à beira-mar. As ondas estavam agitadas e a lua decidira aparecer assim, de última hora, limpando o céu e contrariando climatologistas que garantiam que seria uma noite de nuvens em San Francisco.
 O rapaz à sua frente era bonito. Seu sorriso com covinhas costumava atingir seus belos olhos azuis, que ás vezes pareciam acinzentados. Ele deu uma rápida olhada em volta para checar se o ambiente estava do jeito que ele havia imaginado e sorriu com satisfação ao notar que ela estava à vontade.
- Jantar, sabe? - Disse ela, que agora recebera um olhar um pouco confuso dele - Não é que eu seja fissurada em jantares. - Explicou-se rapidamente - Quis dizer que é um primeiro encontro diferente. Ninguém nunca havia me convidado pra jantar antes.
- Jura? E o que vocês fazem nos primeiros encontros no Brasil?
- A gente costuma ir ao bar, ao cinema, de vez em quando rola um McDonalds. - Ele riu - Não saí com caras muito criativos, ou românticos, nos últimos anos.
- E você é romântica? - Um sorriso astuto surgiu nos lábios dela. Era uma pergunta capciosa. De fato, já se perguntara aquilo várias vezes. Ser romântica envolvia uma série de questões que ela adorava ignorar - o fato de nunca lhe acontecer algo realmente digno de ser considerado como tal a deixara um pouco fria para certos tipos de delírios. É provável que o romantismo fosse um deles.
- Não sei dizer. Acho que o meu subconsciente espera romantismo, enquanto a superfície está sempre preparada para a boa e velha realidade.
- Cinema e McDonalds?
- Não se esqueça do bar.
- Claro, o bar!- Os dois riram.
- Eu sei... Também não entendo porque brasileiros são tão contrários à jantares nessas ocasiões. É uma tática infalível.
- Você acha?
- É claro. Quando vemos um galã como George Clooney fazendo isso, é óbvio que queremos nos sentir especiais como aquela mulher de sorte que conquistou seu coração. Em um jantar, ao menos temos a breve ilusão de que não estão apenas tentando nos embebedar. - Disse ela, logo depois tomando um gole de seu vinho - Há um simbolismo interessante por trás de jantares.
- Pensou em tudo isso quando te convidei? - Perguntou ele com um leve sorriso.
- Acho que eu estaria mentindo se dissesse que não. Até porquê esta já é minha segunda taça de vinho, e eu ainda nem comi a sobremesa.
- Já sei. Beber ativa seu botão da verdade?
- Um pouco pior do que isso. - Ela olhou para os lados, apoiou seus cotovelos na mesa e inclinou-se levemente em sua direção, sussurrando - Eu realmente me convenço de que sou uma filósofa. De repente é como se soltar minhas teorias fizessem as pessoas terem epifanias, eu sei lá. Parece até que é importante. Me sinto inteligente. - Ele sorriu. Estava se divertindo com aquela conversa.
- Eu não sei como, mas você consegue ser incrivelmente charmosa quando faz isso.
- Já disseram que sou uma chata "sabe-tudo", mas 'charmosa' é muito melhor.
- Acho que estavam tentando te ofender.
- Também acho. - Disse ela com uma expressão pensativa, logo depois dando risada.
- Será então que posso me considerar uma espécie de George Clooney? Quer dizer, tudo parece se encaixar perfeitamente. Vejamos, temos o jantar, que foi muito bom, admita.
- Sim, o filé estava ótimo.
- Também temos o mar, bem ali. - Disse apontando - A lua também decidiu me dar uma ajudinha.
- O vinho está ótimo.
- Safra 20 anos. Inacreditável. - Comentou ela.
- Eu nem estou calçando tênis, porque seria muito informal. - Ela o observou com cara de análise.
- Verdade. E este é um belo blazer. A propósito, adorei a camiseta do Nirvana. - Ele sorriu sem jeito.
- Certo... Um pouco informal. - Ela riu. - Você gostou, então está ótimo. E, vejamos... O que falta?
- Hum... Velas?
- Droga! Velas! Claro, como não pensei nisso? Acho que, talvez... - Dizia enquanto tirava algo do paletó - Isso sirva. O que acha? - Ele acendeu um belo isqueiro - Podemos ficar mexendo pra lá e pra cá, como nos shows da Amy Lee.
- Ou incendiar tudo. Acho que estamos bem sem o fogo. - Disse ela, entrando na brincadeira. Ele sorriu e guardou o isqueiro. - E o que falta?
- Não sei. O quê mais? - Foi a vez dele apoiar os cotovelos na mesa e inclinar-se para mais perto dela.
- Nada. A mulher que conquistou meu coração está na minha frente... E ela é incrivelmente linda e muito boa com as palavras. - Ela não conteve um leve sorriso. - Tenho tudo o que preciso bem aqui. - Seus lábios se tocaram num beijo leve, e logo depois seus olhares se cruzaram novamente.
- Que bom que não fomos ao McDonalds. - Disse ela, arrancando risadas do rapaz.

O que te inspira?


 Alguém veio me perguntar: "O quê que te inspira?". Naquele tom presunçoso que às vezes me pego soltando, respondi: "A realidade, dãa". Não é que eu estava mentindo. Na hora, pareceu uma boa resposta. "Realista", eu diria.
 Não sei porquê sempre gostei de me autodenominar uma pessoa "Realista". Acho que gosto da palavra, soa como algo importante, faz parecer que o título cai bem. "Fulana é realista", ouvia as pessoas dizerem e achava o máximo, então decidi que um dia faria jus à isso. Eu sei, quando crianças nos admiramos com cada coisa!
 Queria que alguém tivesse me dito que ser realista o tempo todo não é bem algo digno de admiração. Ás vezes é bom adotar um meio termo. Por sorte, minha tendência a passar parte do tempo imaginando situações e diálogos me livrou de me apegar à esta realidade exacerbada.
 Graças à minha maluquice de viver entre o real e o imaginário, fui capaz de tomar atitudes que moldaram situações e me trouxeram oportunidades maravilhosas. Isso porque viver de realidade o tempo todo leva à inércia. Se enxergarmos o mundo apenas com estes olhos, veremos que ele é, em sua maior parte, cinza. O que dá cores à ele é o imaginário, são as mais loucas ideias que um dia ousaram contrariar um mundo que vivia no preto e branco.
 A luz das ideias é colorida, por assim dizer. Ela dá a impressão de liberdade.
 Hoje me peguei pensando no que me inspirava. Qual é a razão pra me ver diante desta caixa de textos escrevendo sobre a primeira coisa que me vêm a cabeça? Será mesmo a realidade? É só isso que eu tenho a oferecer?
 Meu objetivo como escritora é, antes de mais nada, transportar as pessoas para outros patamares. É sair desta caixa de responsabilidades e deveres a serem cumpridos, é sentir a liberdade, especialmente a liberdade de criar. É não ter que explicar porque eu devia me inspirar, é não ver obrigação nas palavras, é escrever com o coração. Eu estou aqui descarregando os sentimentos e as ideias que não consigo depositar na minha realidade. São as palavras que eu não consigo dizer em voz alta. Minhas verdades e ilusões estão aqui, à mostra. E isso, de certa forma, me liberta.
 Então, na próxima vez que me perguntarem o quê, de fato, me inspira, responderei com um sorriso: a liberdade... A liberdade é a minha musa.