Hoje em dia tudo é muito artificial. Tirando os adolescentes que se acham autênticos, nem ao menos finge-se mais originalidade.
Veja só, Hollywood parece ter desistido dos roteiros diferenciados - juro que ser presenciar o surgimento de outro super-herói, desisto de minha utópica carreira de atriz! A literatura já está atolada de temas vampirescos e pornôs para o público feminino e com apenas algumas exceções, quem costumava produzir boa música hoje esconde a voz e o talento - isso quando há talento - atrás de batidas eletrônicas e censura a arte da boa poesia. Tudo é massificado. Tudo é pra vender.
Como estudante de Publicidade, um viva para a era do consumo! Mas no meu âmago, existe uma lamentação pela deterioração dos bens culturais que nos foram deixados. O fato de a modernidade, no quesito cultura, nos distanciar dos talentos natos e da paixão que move a arte me incomoda e muito!
Estou na época em que agora me recordo mais claramente de coisas do passado. Situações que pareceram ter ocorrido ontem, vez ou outra me dão um toque: "O tempo está passando".
Isso me faz lembrar de que nunca fui o tipo de mulher que sonha em formar uma família. Meus sonhos estão mais atrelados à viagens, conhecimentos diversificados e uma curiosidade insaciável pelo desconhecido. Ainda assim, quando me imagino como esposa, mãe e até avó, me vejo não apenas contando histórias das tais lembranças, mas deixando um legado cultural para meus futuros entes.
Daqui há alguns anos, em reuniões de família, estarei ensinando meus filhos a gostarem de bandas cujo auge deu-se há 70 anos. Serei como Adam Sandler: Músicas de 99 em diante estarão descartadas. Claro que uma ou outra se salva.
Um dia comentei que gosto de cantores menosprezados. Menosprezados pela massa por seu talento, menosprezados por sua originalidade e pela profundidade de sua poesia. Quando digo nomes como Morrissey, Lennon, Ray Charles e até mesmo do meu querido
Não se valorizam mais os clássicos. E a não ser que determinada figura tenha dito palavras relacionadas à paixão que nos convém postar no facebook - Clarice Lispector revira no túmulo sempre que alguém diz algo idiota em seu nome - ela deixa de importar. Ou pior: ela passa a ser limitada à determinada classe.
Por isso a massificação é uma merda. Ninguém mais pensa por si mesmo, pois predomina a necessidade criada pelos meios midiáticos de estarmos inseridos dentro dos padrões impostos de acordo com nossa classe social. Daí é que surgem as Annitas, os Dalestes e os Michéis Teló da vida. Sucessos passageiros que só servem para dar espaço à outros como eles.
A cultura passa por ciclos viciosos. Quem conseguir se salvar, me encontre do outro lado do rio, na ala dos "antiquados". Cantores, escritores e quem sabe até a própria Clarice estarão dando um verdadeiro show sobre o que realmente é capaz de tocar nossa alma, e adivinhe: Não é o David Gueta.