Não há lugar melhor no mundo para aprender um pouco
sobre a vida do que no ambiente de trabalho. Na última de minhas lições,
aprendi que a melhor forma de derrubar um adversário é despejando-lhe um mar de
educação. A teoria de uma de minhas chefes – segundo a hierarquia cansativa que
devo seguir – é de que agir educadamente, porém com firmeza, com um determinado
indivíduo é a arma perfeita para deixá-lo sem graça.
Felizmente,
na prática funcionou comigo. Mas no dia a dia, essa é uma daquelas teorias que
se resumem a apenas isso, teoria. Isso porque a educação tornou-se desvalorizada,
e aparentemente nula. Só é educado quem quer, e como nós, assíduos usuários de
transportes públicos, podemos ver, quase ninguém quer.
As pessoas
entraram em um estado de acomodação que engloba diversas coisas. Pegamos gosto
pela praticidade e, quase sem perceber, mesclamos com uma parte de nossa
natureza escura identificada por Hobbes há algum tempo: nossa constante mania
de “olho por olho, dente por dente”.
Não que o
nosso egoísmo estivesse adormecido por longos anos e tenha sido desperto com o “choque”
de utilizar um dos trens das linhas da CPTM. Quem dera! Isso vem de muito
tempo, afinal até onde me lembro, também fazemos parte da longa lista de
animais - selvagens, talvez? - habitantes desse planeta. A diferença é que tivemos o privilégio de nos
autodenominarmos seres humanos. Um luxo, não?
Enfim, esse estado de acomodação, onde deixamos
transparecer sem o menor constrangimento nosso lado escuro e egoísta nos leva
de volta à muito antes de uma época conservadora. Hoje em dia, a cada vez que
nos vemos frente à frente com as portas de um ônibus, metrô ou trem, fazemos
uma desagradável viagem ao tempo das cavernas, onde não haviam sequer vestígios
de civilização. A regra ali é “entre quem puder”. O importante é pegar um
lugar, e não importa que isso signifique passar por cima de todos os inimigos em
potencial à nossa volta.
Só que é
incrivelmente fácil esquecer que os “inimigos em potencial” são apenas pessoas
tão cansadas e frustradas como nós. Será
mesmo que nos colocarmos ao menos um pouco no lugar uns dos outros é travar uma
luta árdua contra nós mesmos?
Estamos em
um estágio em que a educação, ao invés de evoluir para um estado que englobe todos
os diferentes tipos de pessoas possíveis, tornou-se, na verdade uma raridade. E
apesar de não precisarmos dividi-la necessariamente por classes sociais – pois as
pessoas que levam uma vida mais humilde são tanto ou mais educadas que outras,
e vice versa – ainda sim temos uma longa jornada em direção à educação – em todas
as suas definições, como já foi dito neste blog.
Nosso papel
em tudo isso é simples: cultivar a educação e a gentileza. Não é uma tarefa
inconcebível, tampouco difícil de ser feita. Apesar de o senso comum nos dizer
para agirmos de acordo com as circunstâncias, é interessante enxergar a
situação de um patamar diferente. Quem sabe se, de tanto fazer, as pessoas não
acabam rendendo-se à boa educação em prol da qualidade de vida que diz respeito a
todos nós, certo?
É uma
possibilidade remota, e talvez uma realidade utópica. Mas sejamos honestos,
quantas vezes esses “talvez” não mudaram uma pessoa, um pequeno grupo, e por
fim, uma sociedade?
Daniela Souza sofre constantes ameaças de esmagamento sempre que pega o trem das onze na estação Luz, mas nunca consegue um lugar para sentar-se.