domingo, 23 de agosto de 2015

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 Estou já há alguns meses sem ter um encontro. Ou melhor dizendo, um bom encontro.
 Eu, particularmente, detesto sair com pessoas totalmente diferentes de mim. Não porque eu me acho superior, mas simplesmente porque neste tipo de situação, eu sempre acabo tentando me enquadrar um pouco na personalidade do cara. É como se eu ficasse buscando uma brecha pra convencer que temos sim algo em comum - algo além do mesmo amigo.
 Nunca dá certo.
 Dependendo da minha força de vontade, o tiro sempre acaba saindo pela culatra, mais cedo ou mais tarde. É quando eu já nem tento mais e fico tomando goles da minha bebida e olhando para a tv fingindo estar prestando atenção no noticiário pra tentar ignorar que aquilo está péssimo.
 Daí fiquei me perguntando porque é que nós, mulheres, estamos sempre tentando ser a mulher perfeita pro tal cara que vai mudar em prol de nossa vã perfeição?
 Lá nos anos 60, a emblemática mulher perfeita era a dona de casa requintada, bem arrumada e conformada. Quando navego em alguns posts do Facebook, o que mais vejo são novos padrões. Sempre encontro um ou outro texto pseudointelectual que afirma ser o manual para relacionamentos. Em um deles, havia uma lista das qualidades que toda mulher do século 21 devia ter pra conseguir um cara legal.
 E lá estava eu lendo que a mulher tinha que falar de futebol e gostar de UFC. Se eu fosse levar a sério aquele ridículo texto, eu estaria totalmente convencida de que estava ferrada. Primeiro porque, por mais que eu tente, não consigo entender lhufas de futebol, e nem tenho paciência pra ouvir a explicação sobre o porque alguns gols são impedidos.
 Além do mais, UFC pra mim é moda. E não, não dá pra entender porque é que tanta gente gosta de ver o povo levar porrada de graça. São assuntos totalmente fora de pauta pra mim.
 E não é que eu condene todos que gostam de UFC ou futebol. Simplesmente são coisas que não se encaixam em meus gostos pessoais e, honestamente, não estou disposta a fazer nenhum esforço para gostar.
 Mas o tempo todo eu vejo garotas falando com total empolgação dos tais assuntos quando estão numa roda de amigos. Elas carregam cervejas em long neck, vestem uma roupa apertada, enchem a cara de reboco e saem por aí fingindo ser a garota descolada que também curte coisas de homem.
 Existem sim mulheres que gostam mesmo destas coisas, mas não é delas que estou falando. Você, caro leitor, sabe bem a quem me refiro.
 O que vejo são novos padrões engolindo antigos padrões, mas que no fundo, remetem à mesma ladainha de sempre: a mulher tem que ser "a" mulher.
 Todo esse papo de mulheres que tentam ser o ideal dos homens me fez lembrar do livro "Gone girl" - vulgo "Garota Exemplar", de Gillian Flynn. O que vemos é uma mulher que desde o início mostrou-se totalmente perfeita ao cara pelo qual se apaixonou, e logo depois que mostrou quem era, seu casamento entrou em crise.
 Não que o extremo de personalidade que o livro propõe seja a realidade de todas as mulheres, mas faz todo sentido.
 A verdade é que, no fundo, todas nós gostamos da ideia de estar solteira por um tempo. O problema é que, por todos os lados, estamos sendo pressionadas a termos um relacionamento estável. E a pior parte é que, quando todos os nossos amigos já estão em um, sempre tem alguém tentando nos ensinar como é que a coisa toda funciona.
 Será possível que eu, em meu livre-arbítrio não poderia simplesmente viver a vida da maneira que eu quiser? Há uma real possibilidade de eu lembrar como é bom estar, de fato, solteira, ou preciso mesmo de mais um relacionamento ruim pra lembrar disso?
 A ideia de viver sozinha o resto da minha vida não me atrai de maneira nenhuma. Solidão é um porre. Mas há outras ideias além de estar em um relacionamento, certo? Posso eu sonhar em ser bem sucedida sem ter que traçar planos para casar daqui há 5 anos?
 Claro que sim!
 Encontrar a pessoa certa leva tempo. E depois de um tempo passando por tanto relacionamento errado, concluí que toda essa tal "experiência" não vale de nada. Quando se trata de pessoas, quantidade não é tão importante quanto qualidade. É importante perguntar a si mesmo o quanto você amadureceu ou emburreceu naquele último relacionamento. Se acrescentou, bem, se não, de que adianta continuar tentando os mesmos métodos com os próximos?
 Vou te dizer o lado bom de não ficar fingindo ser outra pessoa para impressionar outras: você é único! Pode ser que hajam pessoas parecidas com você, mas só você é você. Então pra quê ficar perdendo tempo construindo uma nova personalidade, se no final das contas a sua máscara vai cair e você vai sentir falta de ser você mesmo?