Reconhecida
a constitucionalidade das cotas raciais nas universidades públicas, vêm à tona
um novo debate acerca do tema. Seria isso um avanço na luta contra a
desigualdade racial ou apenas mais uma maneira de aumentar os preconceitos?
Não é de hoje que os negros lutam incansavelmente
por mais igualdade. A história é longa, passa pelo período feudal, pelos anos
60 com seu mais célebre representante, Martin Luther King e chega aos dias de
hoje.
Os avanços são incontestáveis, mas o
preconceito deixou suas brechas e permanece enraizado na sociedade atual, sendo
visto no dia a dia com mais frequência do que parece, seja em piadas, no futebol
e na política, abrangendo um conjunto surpreendente de segmentos adotados pela
mídia.
As cotas raciais são, aparentemente, mais uma
vitória em uma das tantas batalhas travadas para garantir ao negro os diretos
que lhe foram tirados injustamente desde os primórdios da história. Porém, é
claro que a discussão não acaba aí.
Se a cor da pele não é o que define o caráter,
por que diabos definiria o nível intelectual de cada um? É certo que uma coisa
é adotar cotas para estudantes de escolas públicas, cujo ensino é em sua
maioria mil vezes inferior que o de escolas particulares, mas a ideia de um
bônus adicional aos indivíduos cujas certidões de nascimento indiquem cor parda
ou negra tende mais a reforçar aquilo contra o que tanto lutam do que diminuir
preconceitos e aumentar chances de sucesso para eles.
A intenção das cotas é boa, mas lembremos que
de boas intenções o inferno está cheio. Eis aí a raiz que faz brotar a
desigualdade. E não só contra os negros, mas sim contra homossexuais, tatuados,
góticos, corintianos, nordestinos, que seja! Passamos a lutar por uma causa que
abrange muito mais do que um grupo de pessoas e esquecemos de pensar no todo. Afinal,
debaixo de nossas peles bate o mesmo coração.
Ora, pois o presidente da maior nação do
planeta é um negro! Não seria esta a prova de que os negros podem chegar tão
longe quanto os brancos? A história de superação dos negros é linda, marcada de
muito sofrimento, mas de muita fé e persistência. Não abandonemos a fonte
daquilo que nos motivou por todos esses anos apenas porque apareceu uma “solução”
mais fácil.
A sociedade em geral precisa de uma lavagem em
seus preceitos. Lutar pela igualdade, ao pé da letra, parece ser uma causa
nula. Ninguém é igual a ninguém. Ser diferente é natural, é um direito.
Precisamos aprender a lutar por mais respeito. E é justamente nesse respeito
que está mesclado os direitos e os deveres.
Nossa luta deve ser em favor do respeito às
diferenças e não uma tentativa de padronizar comportamentos e atitudes por meio dos clichês da atualidade.
Daniela Souza é brasileira, parda de cabelos pretos, e nem por isso se sente menos capaz do que seus amigos de pele clara.