quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Ser vulnerável

Um comentário aleatório rolou numa conversa de whatsapp, e de repente eu estava falando sobre as minhas resoluções para 2019 que se cumpriram. Me dei conta de que a lista não era lá tão extensa quanto eu pensava.

Ano passado, quando me perguntavam o que eu faria quando voltasse para minha cidade eu dizia, num falso sotaque americano que tentei adquirir, "I'll get a job". Como se arrumar um trabalho fosse a base que sustentaria todo o resto - ou me distrairia de todo resto.

Passado este item, repousava sobre a primeira página de meu caderno de cabeceira a boa e velha promessa de emagrecer 5 kgs, ler mais livros, me exercitar com regularidade e comer melhor. Fico feliz em ter cumprido ao menos alguns itens dessa lista, mas curiosamente eu havia escrito a palavra "vulnerabilidade".

Aquele lapso momentâneo provavelmente surgiu após assistir alguma palestra do TED Talk que me deixou comovida e inspirada. Não que eu tenha permanecido com aquilo na minha cabeça por meses. Acredite, eu esqueci por um bom tempo que queria ser mais vulnerável. Talvez porque vulnerabilidade me lembrasse fraqueza e exposição, coisas que eu sempre evitei mostrar - embora me sentisse assim quase que minha vida toda.

Então veio Brené Brown com "A coragem de ser imperfeito" e, por alguns dias, me senti compreendida e aliviada pela afirmação que, embora óbvia, tende a passar despercebida quase todas as vezes: não dá pra ser perfeito. É impossível passar pela vida sem cometer erros e falhar inúmeras vezes antes de acertar - para só depois falharmos mais uma vez e aprendermos algo novo.

Vulnerabilidade estava na minha lista porque até hoje não consigo esquecer a coordenadora local de au pairs me dizendo: "You need to put yourself outside". Parte porque adorei como soou e parte porque vai contra minha zona de conforto. Porque me confrontou e me desafiou a ousar ser e fazer mais do que eu imaginei que poderia.

A vulnerabilidade também estava lá porque cansei de fingir ser forte o tempo todo. Porque eu não sou fina ou delicada, porque não sou a dama que todos esperavam que eu fosse. Porque eu solto um "Cacete" quando fico com raiva, e porque não consigo controlar minha risada exagerada no meio do expediente.

Estava lá porque ainda evito me envolver demais e acabar com o coração aos pedaços mais uma vez. Estava lá porque ter medo cansa, e o cansaço paralisa a gente.

A vulnerabilidade estava lá porque eu preciso aprender que tudo bem se decepcionar às vezes, e fazer escolhas erradas para só depois aprender qual era a certa. Tudo bem aceitar um emprego mesmo sem saber aonde aquilo vai dar - e felizmente acabar descobrindo que ama o que faz.

Tudo bem se arriscar a ser quem você sempre quis ser, e perceber que a prática te deixa mais habilidosa nessa arte. Tudo bem ser você com suas manias, esquisitices e inseguranças. Gaguejando diante de uma apresentação de trabalho e disfarçando a tremedeira que a ansiedade lhe trouxe.

O segredo - e ironia - da vulnerabilidade é que ela te faz forte.

Começo a dar meus primeiros passos em direção à essa nova maneira de enxergar minha vida. E embora ainda não adore a ideia de sair da minha adorável zona de conforto, sempre acabo me lembrando que o simples levantar já me levou a lugares incríveis.