terça-feira, 5 de dezembro de 2017

"Acho que lhe falta um parafuso..."


O mundo carece de pessoas loucas.

Não falo do tipo de louco que te assalta com uma faquinha de pão ou que conversa com duendes. Mas longe de querer menosprezar a loucura alheia, minha intenção é, na verdade, enaltecer aquela loucura gostosa de se viver.

O tipo de loucura que te aborda no meio de um dia turbulento e pergunta se está tudo bem, e ao notar a sua maneira automática de responder, reformula a pergunta pra saber se você está mesmo bem até conduzir a conversa ao tópico das convenções sociais que nos fizeram banalizar o significado de uma resposta honesta em troca de uma formalidade vazia que não se preocupa com o outro.

Eu sei, é louco pra uma segunda-feira em que você está prestes a pedir as contas do trabalho e tem tantas incertezas do futuro. Mas até agora lembrar disso traz um sorriso ao meu rosto, e me faz refletir sobre quantos loucos como este estão por aí, querendo ser ouvidos mas nem um pouco preocupados com a opinião alheia sobre quem eles são ou quem eles deviam ser.

Eu sinto falta de pessoas que gostam de poetizar a vida, sabe?

Pessoas que no meio da multidão e do aperto no metrô, debaixo das tatuagens e da barba hipster, estão com seus fones de ouvido escutando Sinatra e olhando as cenas mais comuns da vida como se fossem uma eterna obra de arte.

Geralmente elas tem uma maneira radicalmente leve de viver, e não precisam fazer muita força pra chamar nossa atenção. Elas se preocupam com o próximo, mas não tentam chamar atenção pra isso como um gesto de benevolência que precisa ser aplaudido para lhes afagar o ego.

Nas raras e maravilhosas vezes em que nossos caminhos se cruzam, eu me sinto um pouco mais rica por ter tido a oportunidade de absorver um pouco da sabedoria que cada um carrega em si. Mas acho uma perda imensurável quando as circunstâncias impossibilitam uma proximidade maior e nos afastam para caminhos distintos.

Acredito, porém, que isso faz parte de ser tão inteiramente aberto para as possibilidades que lhe aparecem. É matéria imprescindível para o currículo abandonar o confortável senso de pertencimento que consegue nos prender de maneira tão sutil a uma rotina que aos poucos acaba por destruir nossa disposição de viver mais do que nos é oferecido.

Em tempos de tamanha pressão social a respeito de quem devemos nos tornar, a maior loucura é aceitar o desafio de ser você mesmo - e assumir a responsabilidade por isso.



segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Pontos finais


Eu havia começado a escrever um texto com pitadas de cinismo, indiretas específicas e um certo grau de amargura.

Vocês provavelmente nunca verão esse texto.

É que, só de ler, eu como autora me senti incomodada de tamanha amargura e desperdício de palavras.

Este sempre foi um de meus lugares seguros preferidos, e é aqui que eu costumo desabafar quando as coisas começam a caminhar por rumos estranhos ou quando estou caindo de amores por algo ou alguém.

E convenhamos, aqui eu já fui fofa, good vibes,  aventureira, imatura, apaixonada, iludida e mal educada. E eu também já fui rancorosa.

O texto que eu mencionei no início ficou até legal, com um ritmo divertido, quase como um daqueles poemas que a gente lê enquanto viaja. Mas ele também carregava, mais do que indiretas, um senso de importância grande demais para um assunto um tanto quanto insignificante.

Não que eu esteja menosprezando meus próprios sentimentos, mas tem coisas que a gente não precisa mais sentir.

A dor e indignação daquele texto já tinha sido sentida há um ano, quando eu estava machucada, desiludida e buscando uma maneira de me libertar das correntes que me prendiam nas armadilhas do meu próprio coração.

Naquele tempo eu me recusei a escrever sobre isso, eu só me permiti sentir - até porque eu não tive lá tanta escolha.

Mas agora, revendo todos aqueles versos e rimas engraçadinhos, alimentados por uma amargura do passado, eu me dei conta de que não precisava sentir nada daquilo de novo.

Dessa vez, não era como se as pessoas, a vida, Deus, e tudo o mais não tivessem me alertado de que eu estava entrando sobriamente numa armadilha preparada por mim mesma. Não era como se eu realmente não soubesse que tudo aquilo não daria em nada. Eu sempre soube, a cada respirada funda, a cada revirada de olhos, a cada mensagem não respondida e afeto não correspondido.

A gente sabe quando é hora de seguir em frente, entende?

Posso dizer, como diz aquela canção dos Arrais, que "eu olhei a tristeza nos olhos e sorri".


Eu sorri porque eu tive um ótimo ano, porque eu fui à praia mais vezes do que o normal, porque conheci gente bueníssima, porque assisti todos os filmes em cartaz, porque eu me amei mais, porque estou cercada de amigos de qualidade, porque ousei sonhar de novo e fazer aquilo que me apavorava.


Eu sorri porque aquela dor que tava querendo bater não tinha mais legalidade sobre mim.  

Eu não estava em dívida com nenhum sofrimento passado. Pelo contrário, eu estava lá todas as vezes que ele veio pra me abater. Mas já foi. Superei. A vida seguiu.

E é gostoso demais poder dizer que tô livre daquele drama bobo que me cercava por pura nostalgia de um passado que nem era lá essas coisas.

Coisa boa é ter a mente e o coração livre pra se permitir viver mais do que já se viveu. Coisa boa é deixar ir aquilo que já não te pertence mais, para que novas coisas possam surgir.

E quando elas surgem, na moral? Não tem passado que tome seu lugar.



Daniela tem 24 anos, um diploma 
na gaveta, malas a serem feitas e
muitas histórias a serem contadas 
(de preferência com rimas e
um bom número musical no final).

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Sobre reencontros no metrô


São dias estranhos.

O passado bate á porta e nem pergunta se pode entrar. Ele só vem.

A gente faz o quê? Segue o baile, se joga, fica meio idiota, cai na real, e lá se vai mais um ciclo.

Mas ás vezes o passado capricha: traz de volta aquele sorriso de covinhas que tanto me irritava no auge da minha juventude desregrada.

A gente se reencontra no metrô, por acaso, numa tarde de segunda-feira. Pra falar a verdade, ele não mudou nada. O olhar misterioso, o sorriso cativante, a cara de bom moço - mas eu o conheço bem demais pra acreditar nela.

Em 15 minutos nós relembramos de todas aquelas loucuras de outros tempos. E deste novo ponto de vista, elas parecem tão distantes agora que é quase como se só tivessem acontecido na nossa cabeça.

É difícil não se perguntar porque é que nunca demos certo. Será por seu orgulho bobo ou por minha teimosia impetuosa?

Não sei dizer. No final das contas a gente era mesmo meio parecido.

O passado ainda me desafiava, mesmo após anos sem me ver. Ele ainda lembrava daquele apelido brega que usava só pra me irritar e não tinha medo dos gestos que costumavam me provocar. Ele ainda sabia meus pontos fracos, lembrava dos meus sonhos loucos e das minhas referências sofisticadas.

Ele ainda me reconhecia.

Gosto de pensar que nós nunca fomos um rótulo um para o outro. Éramos só dois amigos que não tinham medo de se desagradar. Sei que parece besteira, mas era o que eu mais gostava na gente. E tinha a química, claro.

Eu sei, muita gente já passou na nossa vida depois de todos estes anos. Mas é ligeiramente emocionante saber que algumas pessoas ainda têm essa capacidade de se tornarem marcantes a ponto de permanecerem em nossos corações mesmo depois de tantos trancos e barrancos, como dizem por aí.

Não sei se a gente foi verso, prosa ou poesia. Mas minha segunda-feira foi mais feliz depois de você.

Obrigada.




quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Se joga!


Eu queria a vida adulta.

Eu queria muito a vida adulta.

Eu via aquelas mulheres independentes em seus terninhos sofisticados, suas taças de champanhe e suas viagens sazonais, seus amores internacionais, seus cargos importantes, suas vidas agitadas, suas opiniões fortes e aquele sofisticado gosto para vinhos... e eu queria ser como elas.

Queria sua destreza para andar de salto alto e sua disposição de acordar às 6 da manhã para fazer yoga.

Daí eu cresci e comecei a usar meus terninhos com calça jeans e tênis, até fiz faculdade mas já nem ligava mais se meu cargo seria ou não muito importante. Eu até me atrevi a viajar vez ou outra, mas admito que minha rotina adormeceu meus sentidos por tempo demais até eu planejar a próxima viagem.

Vinho? Nunca nem experimentei, apesar de ainda achar chique. Opinião forte até tenho, mas a gente aprende a filtrar uma coisa ou outra pra não causar polêmicas desnecessárias.

A essa altura da minha vida, achei que seria mais poética. E a gente até tenta, mas poetizar tudo e todos pode ser um trabalho cansativo e frustrante. Mas em raras ocasiões, já poetizaram meus momentos. Me lembro de um ou outro em que conseguiram tirar meu fôlego, e essas lembranças me fazem perceber que até aqui a vida tem valido a pena.

Não dá pra garantir que já entrei de cabeça na vida adulta. Eu até tenho meus boletos pra pagar, minhas compras de supermercado pra fazer e meus dramas de trabalho pra lidar, mas existe uma verdade universal que se baseia no seguinte:

Quando a gente é adulto, a gente não quer mais ser adulto.

Mas não tem crise: Bota um Coldplay pra tocar, sai por aí como se nunca tivesse se sentido mais pleno como agora, faça planos locais, internacionais, sazonais... Se apaixone por aquele ser que ri das suas piadas e te beija de forma inesperada.

Faça rimas, dance, viaje, conheça pessoas diferentes, crie um blog! Que seja!

Mas por favor, viva.

É a viagem mais louca dessa vida.




terça-feira, 31 de outubro de 2017

Você ainda vai conhecer o homem dos seus sonhos


Estava aqui pensando em todas as características que eu nunca quis encontrar em um homem, e em como eu acabei ignorando boa parte delas na minha trajetória de relacionamentos ao longo destes 24 anos.

Por um lado havia a pressão de simplesmente encontrar alguém, e pelo outro havia toda aquela lorota sobre o coração mandar na gente. Quando penso nisso, inclusive, me pergunto porque é que damos tanto autonomia assim para que ele escolha algo que deveria ser escolhido por nós.

Mas enfim, coração mandava, eu obedecia.

Claro que no final das contas, quem recolhia os cacos era eu. O ponto em que quero chegar é, por que nós mulheres estamos gradativamente desistindo do homem dos nossos sonhos?

Acredite ou não, sou uma especialista em relacionamentos ruins, e posso te garantir que a ruína se iniciava no exato ponto em que eu começava a aceitar as 'migalhas' do meu parceiro.

Tudo se iniciava de uma forma bem sutil. Uma ignorada básica aqui, um joguinho ali, um atraso acolá. De repente, eu estava ignorando a falta de cavalheirismo, os encontros desmarcados, as desculpas esfarrapadas.

O mais certo parecia ser aceitar que todos os inconvenientes aconteciam sempre nas mesmas ocasiões - e que coincidências existem. Mas no fundo eu sabia bem: eu estava com medo. Medo de ficar só, medo de não ser aceita e medo de descobrir que, sozinha, eu teria que me virar.

Eu aceitei muitas e muitas migalhas. E a cada uma delas, eu me distanciava mais e mais de mim mesma, porque nunca era o bastante. Eu queria ser perfeita, e eu era: perfeitamente tonta.

De um jeito meio doloroso, eu acordei da minha síndrome de bela adormecida e tive que me virar pra aprender algumas coisas. E então eu comecei a perceber quem eu era, e quer saber? Eu sou ótima!

Não é papo de livro de autoajuda, prometo! É que nós passamos tanto tempo tentando nos moldar a essa fraudulenta imagem de mulher perfeita que tentam nos impôr que prejudicamos a nossa própria visão de nós mesmas.

O que eu quero te dizer é: nós ainda vamos conhecer o homem dos nossos sonhos. Eu não sei bem quais são os itens da sua lista, e admito: no meio do caminho a gente vai ter que abrir mão de algumas coisinhas superficiais. Mas não negocie aqueles itens que são essenciais.

O homem dos meus sonhos não tem barriga tanquinho, nem é cheio da grana. Mas ele sabe me fazer rir com facilidade, gosta de me ter por perto, me acha a mulher mais incrível do mundo e é confiante no que ele quer.

Ele se esforça.

Em um mundo cheio de joguinhos de sedução e conceitos pré-definidos sobre certo e errado, quem se arrisca a aperfeiçoar o básico com destreza conquista até os corações mais duros.

Enquanto isso? Aprenda a ignorar os mimizentos e vai ser feliz. Afinal, como já dizia mamãe: antes só do que mal acompanhada.



sexta-feira, 27 de outubro de 2017

O maravilhoso 'agora'


Hoje eu entrei no mercado frenética depois de ter assistido ao novo filme do Thor, mas já sentindo o corpo entrar em modo stand by depois de um dia corrido. E pra piorar, lembrando que teria que cozinhar os meus famosos brownies - não são famosos, mas eu sempre quis dizer isso - pra galera do trabalho.

Eu passava no caixa quando observei a decoração de natal já ajeitada por todos os cantos do supermercado. E então a minha ficha caiu.

Passei a maior parte do ano vivendo o privilégio de não fazer nada. Este foi o meu "ano sabático" - é o que eu vivo dizendo pra todo mundo. Depois das encrencas do ano anterior, um descanso como esse me pareceu mais do que merecido. Não seria ruim finalizá-lo na mesma vibe, mas verdade seja dita: eu preciso de dinheiro.

Voltar a trabalhar quando minha vida está tão perto de mudar drásticamente me pareceu um sacrifício, mas Deus sabe bem o que faz quando abre uma porta, não é mesmo?

Posso dizer, alegremente, que tenho passado tempos legais conhecendo gente nova. Pra quem tinha aversão a mudanças, chega a ser difícil reconhecer o quanto as dificuldades do meu passado me transformaram nesta que vos fala hoje.

Se você me conhecesse há 2 anos, diria que eu sou quieta, tímida e todos os outros adjetivos que toda pessoa introvertida odeia. Mas agora, aqui estou cozinhando brownies para pessoas que conheço há apenas 2 semanas.

Eu sei. É provável que eles não sejam meus amigos por toda a vida, mas quem liga? Aqui estou eu tirando proveito de todas as oportunidades que a vida têm colocado em meu caminho. Estou finalizando meu ano com risadas, conversas sinceras, acumulando conhecimento, conhecendo gente legal e até jogando basquete na hora do meu almoço!

E tudo está tão ótimo que é assustador ter que partir tão cedo.

Me permita usar um clichêzão: Estou partindo rumo ao desconhecido. E toda aquela decoração de natal só me fez perceber que o tempo passa rápido demais e que não dá pra ficar perdendo tempo sendo infeliz por coisas tão pequenas.

No final, vai restar uma saudade, mas a melhor coisa que podemos fazer por nós mesmos é nos permitir viver os nossos sonhos - mesmo que eles sejam loucos o bastante a ponto de nos levar pro outro lado do mundo.

Como já dizia Lulu Santos, vamos nos permitir, combinado?


quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Yellow

Hoje eu me lembrei de como era fácil ser sentimental. Como era fácil se apaixonar pelas histórias que eu lia ou assistia nos filmes. Aquele sentimento de amor platônico pelo mocinho charmoso e a admiração pela protagonista sofrida, mas que tinha o "algo a mais" que tanto se fala por aí.

Eu não gostava de ser a Daniela de 13 anos, mas eu gostava dos sonhos dela. Eu amava sua facilidade em criar histórias e imaginar cenários mais positivos para sua vida.

Ela tinha um brilho raro no olhar, mas nenhuma noção de si mesma. Lá estava ela sempre em seu mundinho, rodeada de livros velhos, canções românticas de artistas desconhecidos e roteiros intermináveis em seu desktop.

Lembro quando descobriu o Google Street e passava as suas férias inteiras criando rotas de seus personagens pela cidade de San Francisco. E de quando esperava o ônibus às terças e quintas naquele ponto de ônibus perto daquela vista linda de prédios iluminados.

Era tão fácil se ver como uma pessoa diferente. 

Também era mais fácil se imaginar amando, e acreditar que, por mais que a vida real não fosse tão encantadora como nos filmes, havia grandes possibilidades de encontrar um alguém disposto a amar e lutar por ela.

Hoje não é difícil concluir que aquela garota não passava de uma ingênua. Mesmo assim, não consigo evitar de sentir essa vontade de ser um pouco mais parecida com ela de novo. No jeito que ela sonhava, na fé que mantinha, no jeito que enxergava o mundo e com certeza na rapidez com que lia livros.

Eu sinto falta da sua ansiedade em viver o melhor que ela poderia se tornar.

* YELLOW porque eu estava ouvindo Coldplay :|

quarta-feira, 12 de julho de 2017

A gente não tinha trilha sonora


Uma vez vivi um daqueles amores platônicos.

A gente demorou pra se envolver, e a coisa toda começou de um jeito muito complicado por nenhuma razão útil, aparentemente.

Ele era desapegado e tinha um jeito de cara descolado que não se dá conta do quanto é bonito.

A gente saía para os mesmos lugares. Aos fins de semana, ficávamos o dia todo buscando filmes no netflix.

A gente não tinha uma música. Eu sabia que ele gostava de um pouco de reggae. Ele não sabia bem do que eu gostava - o que eu, particularmente, achava uma pena.

Sempre achei vantajoso ter um gosto musical tão old school - e motivo de elogio. Música sempre foi importante pra mim. Então, por que foi que eu não criei nossa trilha sonora?

Por que eu não conversei por horas sobre como a música tem o poder de transformar uma situação banal em algo deslumbrante?

A gente se conheceu por um tempo, e depois estagnou.

Eu quis continuar o conhecendo, ele não estava muito interessado.

Mas a gente declarou amor um ao outro.

A gente romantizou nossos encontros na estação de trem e na praça de alimentação do shopping.

A gente falava sobre como seriam os olhos dos nossos filhos. Até ousávamos querer viajar juntos.

Acho que no fundo a gente sabia que nada daquilo iria adiante. Faltava disposição e paixão.

No fundo, eu sabia que era platônico. Devem ter sido as tatuagens e as costas largas.

Não terminou bem. Mas poderia ter sido pior.

Não foi romanticamente trágico, triste ou maduro. Foi banal.

Como nós um dia fomos.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Gente boa não tem fricote


Olá, caros gafanhotos!

Tenho uma lição quentinha que acabei de tirar do forno. E a lição é: conserve os seus bons amigos. Os bons, não aqueles que adoram criticar desde o seu último corte de cabelo até o nome que você escolheu para os seus futuros filhos - pois é, tem gente que também faz isso.

Saiba que pra escrever esse texto eu estou 100% disposta a usar clichês e ditados populares, como aquele do "se for embora, nunca foi seu, se voltar, já foi..." Ou algo assim.

Eu sei que essa dica é meio óbvia, mas conservar boas amizades é uma coisa que eu ainda estou aprendendo a fazer. Quando a minha realidade indicava que algumas pessoas saíram da minha vida e a minha consciência entrava num modo automático de jogar a culpa pra cima de mim, eu costumava pensar que a vida quis assim e é assim que vai ficar.

Em minha defesa, manter amizades nesta era da tecnologia é um pouco mais trabalhoso pra mim do que era quando a gente não tinha aplicativos e afins que nos impedem de nos distanciar naturalmente de alguém sem ter que dar uma justificativa.

Eu sou o que você pode chamar de preguiçosa virtual. Mas acho que ninguém liga em realmente dar um nome pra isso.

Sim, eu sou aquele ser que demora horas pra te responder no whatsapp, e que marca os rolês mas no dia perde a vontade de ir - e não vai. Eu sou aquela que sai dos grupos e odeia que isso gere uma polêmica - a vida é muito mais do que um grupo, gente. Vamos cair na real.

Mas pela divina graça de Deus eu tenho me cercado de boas pessoas. Não são tantas, mas você já deve ter ouvido falar que com o tempo qualidade passa a ser muito mais significativo do que quantidade.

Eu falo de pessoas que insistem em me mandar mensagem e me chamar pra sair mesmo quando eu tiro uma semana inteira pra ficar frustrada. E de pessoas que não sentem uma necessidade inútil de receber um "tchau" e que não se deixam ser "feridas emocionalmente" pela minha aparente "falta de consideração", que nada mais é do que um forte indício de que eu caí no sono ou de que me distraí com alguma outra coisa - não é pessoal.

São as mesmas que aceitam os meus convites pra ir a um parque as nove da manhã e que compartilham suas frustrações da dieta comigo - todos nós amamos muito comer e odiamos dieta (mas queremos ser magros).

Eles até querem ouvir os meus problemas, e quando eu não quero contar, topam ficar em silêncio sem se sentirem desconfortáveis com a falta de assunto.

Então, o meu forte abraço vai para esses guerreiros e guerreiras lindos que estão comigo, faça chuva ou faça sol, com resposta ou sem resposta no whats, com dieta ou sem dieta.

Acho que a maneira mais sincera de declarar o meu amor por vocês é através desta lindíssima e paulistana frase:

É nóis!

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Mulher de 24 anos


Eu tenho 24 anos. Passei metade da minha vida alisando o cabelo e acima do peso. Pelo mesmo período, fui de extremamente insegura para um moderado senso de segurança vez ou outra. 

Eu não conseguia correr 15 minutos sem me sentir prestes a morrer. Na escola, a ideia de desamarrar meu cabelo era uma total loucura e eu não seria tão ousada assim. Maquiagem então, sem chance!

Dizer para o cara que eu estava afim que gostava dele? Era mais fácil eu jogá-lo pra cima de alguma colega. 

Quando me adaptei a toda a loucura dos relacionamentos, conheci uma variedade de caras diferentes.

Vez ou outra me apaixonei - nunca pelo cara certo. Aliás, já me perguntei quem seria o cara certo mais vezes do que consigo contar. Já tive um montão de epifanias sobre as minhas más decisões e péssimos hábitos, mas menos mudanças efetivas do que eu gostaria.

Passei a maior parte da minha vida tentando ser quem as pessoas iriam gostar de ter ao lado, e me perdi. Eu me moldei ao padrão de tanta gente que nem me incomodei em descobrir qual era o meu. Quando finalmente descobri, gostei dele. 

É, eu gosto da mulher que vi no espelho esta manhã. Eu gosto do cabelo cacheado e bagunçado dela. Gosto da maneira como ela pensa dançar bem quando está sozinha. Gosto quando ela ri dos próprios pensamentos, e gosto da sua capacidade de reconhecer quando é hora de entrar em cena, e também quando é a hora de sair.

Eu gosto quando ela faz algo por si, como quando corre no finalzinho da tarde enquanto ouve alguma música dos anos 80, ou quando decide ir ao cinema sozinha porque ela quer. Ou de como se sente plena quando começa a escrever algo.

Mas eu ainda odeio quando ela tenta se tornar o molde de alguém só pra agradar. E quando ela passa dias fazendo isso, eu fico ansiosa esperando que caia logo na real e veja que os outros tem mais é que aceitá-la como ela é se quiserem sua companhia. E se não quiserem, o que é que tem?

Eu agora vejo em mim, esta jovem e bela mulher de 24 anos, um alguém em potencial. Os dias que se passam sempre trazem consigo uma história e uma lição diferente. E mesmo quando essas lições fazem o meu ego doer, elas vêm acompanhadas de valiosos momentos de autodescoberta.

Você vai conseguir reconhecê-los: É como quando você corta sua franja curta demais, ou quando percebe que aquele carinha talvez não esteja tão afim de você. 

Daí você segue em frente, viaja, espera a franja crescer. 

E a grande magia é que quanto mais você se conhece, mais enxerga o potencial guardado aí dentro. E mesmo que as outras pessoas possam não enxergá-lo, o importante é que você o vê.

Naturalmente, ele vai se refletir em algum momento.

A diferença é que agora não há pressa. 

Já pode se permitir ser feliz consigo mesma.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Porque o vitimismo mata pessoas



Vejamos o estado atual das coisas: uma grande bagunça, se quisermos resumir. Mas deixe-me falar sobre algo que não tem a ver com política ou com relacionamentos, mas ao mesmo tempo tem tudo a ver com a gente, e com aquilo que sentimos.

Sim, eu quero falar sobre o vitimismo. Mais do que isso, quero falar sobre como a vida pode ser injusta e pesarosa, mas também sobre como o nosso poder de reação - sim, nosso - é maior do que imaginamos.

Sabe, odeio ser a pessoa que tem o discurso de "Você precisa amadurecer". Acho que esse é o tipo de afirmação que, antes de ser feita, precisa ser muito bem analisada. E quando digo isso não falo de uma análise do outro, mas sim uma autoanálise. Mas qual o ponto ideal para que a gente possa jogar uma verdade dessas no próximo? 

Bem, a má notícia é que você, sabichão, talvez nunca chegue ao estado completo de maturidade. A boa notícia é que isso é, na verdade, uma boa notícia. 

Não estou incentivando as criancices - e algumas babaquices imaturas - entre nós. Estou tentando ver o outro lado da moeda. Que é? Você está em crescimento constante. Melhor ainda: você tem a oportunidade de estar constantemente sendo alvo de evoluções! Não é o máximo?

Veja bem, tudo aquilo o que vivemos vai nos levar a algum ponto, seja ele bom ou ruim. Ok, até aí não há nenhuma novidade. Porém, quando eu digo tudo, quero dizer tudo mesmo, e principalmente, os nossos problemas. Os nossos tantos problemas!

Acredito que o maior erro que cometemos em relação a isso é encarar o problema como o final da reta, ao invés de vê-lo como um ponto de partida. 

O grande desafio é que tudo que tem a ver com um problema incita um confronto dentro de nós, e adivinha, com nós mesmos. E como você reage a isso é mais importante do que o quanto você vai se indignar com isso.

Quero dizer, meu querido leitor, que aquele poder de reação que eu citei logo no início - que, aliás, está disponível pra todos - é que vai determinar quem você é ou quem você será. 

Então, quem você está se preparando para ser? Um reclamão que prefere ficar de braços cruzados e esperar que o universo conserte tudo, ou o fulano que sabe que tem todo o direito de reclamar, mas prefere usar a maior parte do seu tempo pra fazer algo a respeito?

Eu não quero soar como uma insensível que acha que pode escrever textos de autoajuda para os outros, mas por experiência própria posso garantir que não há nada que nos enfraqueça mais do que nosso vitimismo e necessidade de culpar os outros pelo o que acontece - mesmo quando a culpa é dos outros mesmo.

Aliás, há sim algo que nos enfraquece mais: não fazer nada a respeito. 

Esse é o confronto que tentamos evitar no meio da crise, porque sabemos que aquilo que será exigido de nós poderá custar caro para nossas vidas e rotinas já tão 'estabilizadas'. Escolher pagar o preço é optar pelo caminho da tal maturidade. 

Daí, alguma hora vamos acabar esbarrando com ela. Tenho fé nisso.

E você?

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Setenta vezes sete



Eu quero falar sobre misericórdia.

Eu descobri que, apesar de achar que eu não sou uma pessoa tão ruim assim, estou passando por uma fase meio insensível.

Não acho que a insensibilidade é ruim quando aplicada em certas situações, mas como tudo na vida, insensibilidade demais não dá certo.

Então, digamos que eu estou vivendo alguns momentos nos últimos meses meio extremos com relação a algumas pessoas próximas, e esses momentos me fizeram ir de "pessoa que se importa demais" para "pessoa que não dá mais a mínima". E eu não estou falando de quando a gente enche o peito pra dizer que não tá nem aí, mas por dentro tá ligando sim. A coisa é mais séria do que isso: eu não estou dando a mínima.

Por isso, não estava tão preocupada. Mas acabo de notar que isso é sim preocupante.

Mesmo quando estou na minha razão, esta queridíssima amiga não me faz sentir menos pesada - figurativamente falando. Na verdade, o peso da indiferença pode muitas vezes ser maior naquele que a pratica do que naquele que a recebe.

Aquele que a recebe obviamente está numa posição bem mais difícil e tem que lidar com muitas outras questões mais complexas, mas o responsável por tal indiferença tem um papel muito grande nessa história também. Ele tem nada mais, nada menos, que o poder de escolher entre ser alguém que vai perdoar, ou ser o cara da razão que está pouco se lixando pra fulano.

Digamos que eu eu sou o segundo... no momento.

Eu tenho pensado muito sobre isso, e eu vou te falar: perdoar pessoas é um troço complicado.

Quando elas estão longe do nosso convívio diário, a coisa fica um pouco mais fácil. O tempo vai passando e a ferida vai curando, e quando você vê nem dói mais. Até aí tudo bem.

Mas vai conviver com alguém que te tira do sério todo santo dia. Aí a conversa é outra!

Então, como a boa cristã que sou, tenho questionado Deus quase todos os dias sobre como devo perdoar alguém que sequer liga em ser perdoado. Alguém cujos erros continuam sendo os mesmos, que continua a machucar. Como pode ser humanamente possível liberar perdão para alguém que te machuca todos os dias?

"70x7"*, é o que recebo como resposta. E isso me constrange.

Me faz perceber que, mesmo estando tãaao certa, estou sempre lidando com a coisa toda da maneira errada. O problema pode começar em alguém, mas acaba sempre em mim. Na maneira como decido lidar com isso.

E eu não estou lidando muito bem.

Em busca de alguma resposta que vá além de "70x7", peguei um de meus livros cristãos e fui confrontada com mais uma afirmação:

"A obediência diz respeito às suas ações, e o querer diz respeito à sua atitude; e a sua atitude é péssima!"

Calma! Esta não foi uma crítica direta. No livro "Movidos pela eternidade", o autor fala a respeito de suas próprias experiências, e como passou por uma fase parecida com a que estou lidando. Ele diz algo sobre a atitude que estava tomando diante das adversidades: mesmo enquanto fazia tudo certo, errava no que dizia respeito a criticar, reclamar e julgar, o que afetava a motivação que ele tinha de servir ao próximo - que é o básico do Cristianismo.

Acho fascinante como, no final das contas, tudo se resume a uma decisão nossa. Por exemplo, eu posso não estar afim de ajudar alguém hoje, mas eu decido fazê-lo. Eu posso escolher entre ficar na cama o dia todo, ou sair e enfrentar o mundo. Eu posso não querer perdoar, mas eu decido fazê-lo mesmo assim.

Isso me mostra que mesmo quando eu não sinto que devo fazer algo - talvez porque esteja insensível ou porque tenho medo - a escolha de fazê-lo continua sendo toda minha. Eu posso pensar por mim mesma e decidir por em prática aquilo que aprendo todas as vezes que decido entrar na presença de Deus ou posso deixar isso pra lá e continuar vivendo do jeito que me convém: sem confrontar meu orgulho e meus medos.

Na segunda opção, eu sou mestra. Mas não tá valendo a pena.

O que me resta então é pedir por um pouco mais de misericórdia. Não tanto no trato dos outros para comigo, mas sim misericórdia que flui do meu coração para com os outros.

Então, decido aceitar o desafio. Quem está comigo?



*Mateus 18:21-22: Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Jesus respondeu: "Eu digo a você: Não até sete, mas até setenta vezes sete".

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Aquele da mandala improvisada


A ideia era fazer uma mandala. Daquelas bem bonitas, com as linhas entrelaçadas de forma harmoniosa, usando cores que representavam todos os pensamentos e energias positivas que deviam emanar de nosso interior junto com as expectativas do novo ano.
Eu até tentei seguir à risca todo o processo no início, mas tenho que admitir que aquilo virou uma bagunça. De repente, as linhas não estavam mais tão alinhadas de forma harmoniosa como estavam no início, e depois de um tempo já cansada de tentar fazer tudo ficar perfeito, eu comecei a passar a linha uma em cima da outra, pra ver no que ia dar.
Eu estava improvisando. 
E não é isso mesmo que a gente faz a vida toda? Improvisa?
Não estou tentando adotar o discurso de que "a vida é um show e blá blá blá". Longe disso. Mas é engraçado pensar que nossos planos nem sempre saem da maneira como imaginamos. Ás vezes eles saem o oposto do que gostaríamos, vão ladeira à baixo. Outras, até que tá quase lá, mas a gente vê que mesmo que ele chegue LÁ - seja lá onde isso fique - não é tão bom quanto achávamos que seria.
Fazer planos é importante, lógico. Pra começo de conversa, nos dá uma luz do caminho que devemos trilhar pra chegar aos objetivos. Mas estar preparado para ver seus planos fracassarem é primordial para se chegar a algum lugar - mesmo que esse lugar não seja LÁ.
Vou te contar uma coisa louca. Ás vezes, coisas bem melhores acontecem longe dos nossos planos. E tem vezes que coisas ruins acabam acontecendo também, sejamos realistas. Mas as ruins podem muito bem ser parte da construção de uma estrutura muito mais sólida do seu caráter, que irá refletir positivamente no decorrer da sua vida. Você só precisa se permitir aprender alguma coisa no meio de todo esse caos em que a gente vive.
Minha mandala, como vocês podem imaginar, não ficou tão bonita quanto eu planejava. A bichinha era a mais 'diferente' no meio de todas aquelas penduradas. Mas a sua falta de perfeição se destacou tanto no meio de todo aquele carnaval de imitações que foi como se eu conseguisse vê-la refletir uma beleza audaciosa. 
Pelo menos pra mim. Gosto não se discute, não é mesmo?

Sala de espera



Hoje eu me dei conta de uma coisa: eu estou numa grande sala de espera da vida. Parece até que eu acabei de chegar, mas na verdade eu já estou por aqui há um bom tempo.
E se você é um ser humano - e creio que seja - deve saber muito bem que esperar é o ó - uma velha expressão para lembrar dos bons tempos.
Se pudéssemos escolher algo prático para nossas vidas e essa fosse uma das opções, com certeza escolheríamos não esperar. A gente quer tudo pra agora, porque estamos em um momento da história em que não há tempo a perder. Tudo muda muito rápido e você não tem que querer se adaptar, mas você precisa fazer isso.
Eu trabalhava numa empresa da internet onde as mudanças eram tão constantes que, em uma das reuniões, foi dado um exemplo interessante sobre isso: “aqui é assim: o carro tá andando e a gente tá trocando os pneus com ele em movimento mesmo”.
Tenho uma notícia pra você: todo o resto também é assim. Por isso que às vezes temos a impressão de que estamos mais velhos do que realmente somos. É como se, ao passar o período de um ano, a sensação é de que foram dois anos! Não é uma loucura??
Quero deixar bem claro que não digo isso com admiração alguma. Se dependesse de mim, algumas coisas podiam ser mais lentas. Mas há uma ironia em que, mesmo vivendo nesta constante atmosfera de aceleração todos os dias, alguns de nós continuamos na sala de espera. E ainda que odiemos as vezes que as coisas sejam tão rápidas, odiamos mais ainda que, na sala de espera, a coisa seja devagar até demais.
Geralmente, quando estou na sala de espera de um lugar em que nunca estive antes, e não conheço bem os procedimentos, eu fico meio ansiosa e insegura. Meus pensamentos são sempre: Precisa pegar senha? É aqui mesmo? Mas vão chamar pela senha ou pelo nome?
Ou seja, eu tenho expectativas que tendem a pender tanto para o lado positivo, quanto para o negativo. Sabe, eu posso ficar horas ali e sequer ser chamada se não for a sala certa. Ou eu posso ser chamada e receber boas notícias ou um novo desafio. Vai saber.
E para não ajudar, salas de espera são muito silenciosas.
Eu não sou o tipo de pessoa que gosta de bagunça e muito barulho. Mas pelo menos uma bagunça vez ou outra meio que mostra que tá todo mundo confuso mesmo, e estamos todos no mesmo barco.
No silêncio, você não sabe se o fulano que tá logo ali tá tão confuso quanto você ou se sabe muito bem o que tá fazendo. Se é que tem alguém na sala com você! Pode ser apenas você e o seu próprio silêncio - pior ainda.
O fato é que salas de espera geram uns sentimentos muito loucos na gente. Sendo assim, nada mais natural do que de vez em quando darmos uma enlouquecida básica pra tentar suprir tanta coisa que se passa na nossa cabeça.
Então, se você, assim como eu, está nessa grande sala de espera da vida, você vai ser chamado alguma hora. Não é que nós escolhemos estar aqui, mas por alguma razão nós precisamos disso.
E que escolha nós temos, não é? Ou acreditamos, ou seremos apenas idiotas sentados numa sala vazia - ou cheia, sei lá. Tire aí suas conclusões.