quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Minha afeição e medo da solidão


First things first.

Eu gosto dos meus momentos de solitude. Eu poderia passar o dia todo citando uma lista de coisas que eu amo fazer sozinha. E verdade seja dita, depois de tantos anos, eu finalmente aprendi a apreciar a minha própria companhia.

É estranho, mas eu tenho infindáveis conversas comigo mesma. Existem piadas internas que eu sei bem que ninguém mais entenderia melhor do que eu. Pensar nisso me faz questionar como tanta gente não consegue suportar passar um tempo consigo. Cara, eu queria isso todo dia!

Exceto que não, não é todo dia que eu me sinto assim.

Veja bem, assim como você, eu sou uma pessoa com sentimentos e emoções. Eu posso usar a desculpa de que sou introvertida, de que a minha personalidade requer conexões mais complexas e profundas pra sentir algo - e que na falta delas, eu me conformo comigo mesma - mas no final de alguns dias eu vou me sentir solitária, e não do jeito bom.

Percebo que isso sempre vai acontecer depois de assistir alguma comédia romântica muito boa, ou depois de passar horas no sábado à noite no instagram comparando a minha vida com a dos outros - e me perguntando como todos podem estar se divertindo tanto naquele momento enquanto eu me sinto tão miserável.

E antes que eu seja atacada com uma chuva de discursos sobre tudo no instagram ser meio fake, deixa eu te dizer: eu sei disso. Eu sei que as pessoas naquela festa voltaram aos seus celulares logo depois da foto, eu sei que aquele casal talvez nem se olhe mais nos olhos depois de tanto tempo, eu sei que aquela blogueira pode ter tirado a maquiagem lacradora logo que achou a foto perfeita e que talvez ela acabe a noite, assim como eu, assistindo à Bridge Jones com um pote de sorvete na mão.

Viver essas emoções fora do seu país torna tudo um pouco mais intenso. A falta que a familiaridade faz alguns dias é imensurável. Sentir cheiro de café no final da tarde, por exemplo, é o meu jeito particular de lembrar da minha mãe pedindo:"faz um cafézinho pra nós". Para só então eu lembrar que por mais um dia o cafézinho vai ser só pra mim mesmo.

E se o intuito desse texto é ser honesto, preciso dizer que tem dias em que eu resolvo desistir um pouquinho de tudo. São os dias em que eu me deixo sucumbir com as mentiras de que nada de bom acontece comigo, ou de que ninguém ao menos sente a minha falta. Esses são os dias em que quero reclamar e choramingar pra mim mesma sobre como a vida é injusta. Como fulana tem o corpo perfeito e eu não, ou como o ciclano me substituiu, como eu sou uma péssima amiga, ou motorista, ou profissional.

E nesses dias, eu não quero que ninguém veja a minha dor. A mulher forte que eu construí na minha cabeça não perde seu tempo choramingando. Ela chora de noite, e no outro dia se prepara pro trabalho como uma guerreira se prepara para a guerra.

Só que essa mulher ainda está aprendendo que vulnerabilidade também é força. E essa não é uma lição fácil de ser aprendida, uma vez que, na minha cabeça, esta é uma sentença questionável.

O que me faz calar todas essas questões é lembrar de que as mulheres mais fortes que conheço seguiram - e ainda seguem - em frente mesmo depois de uma noite de lágrimas. Elas pedem ajuda, elas entregam seus corações mais uma vez - não importa quantas vezes ele seja quebrado.

A solidão é confortável em certo ponto porque não existem riscos ou expectativas. Ás vezes ela é fácil e o seu silêncio é confortante. Mas quando ela grita, machuca a nossa alma.

Ultimamente eu não tenho ouvido esse grito - embora um ou outro sussurro de vez em quando. Tenho até lidado bem com suas diferentes nuances. Porém, ainda tenho uma ou outra crise pós-filme-romântico-adolescente-da-netflix.

E sim, eu ainda quero entregar meu coração de novo e ser vulnerável, só não me peça pra abrir mão das minhas idas sozinha ao cinema, ou serei obrigada a discursar sobre os motivos que levam uma introvertida a criar conexões profundas com hábitos que não envolvem terceiros.

Estamos combinados?