segunda-feira, 10 de setembro de 2012

"A" aula



 Era noite de segunda-feira. Decidi que aquela seria minha semana "rebelde". Faltei ao curso de inglês para ir à academia queimar as calorias a mais causadas por duas deliciosas trufas que me enchiam de culpa. A rebeldia repentina despertou o desejo de parecer descolada, então fui malhar com uma camiseta dos Ramones.
 Sem grandes novidades, a noite corria bem. A endorfina liberada atraía o bom humor e a curiosidade em tentar coisas novas. É, a maldita curiosidade de tentar coisas novas! O bom humor foi minha perdição e acabei deixando-me ser levada pela tentação de participar da aula de sertanejo. É provável que a endorfina tenha influenciado uma parte importante de meu cérebro, aquela que servia para me recordar o quão desajeitada sou na arte da dança. Foquei minha neura na esquisita ironia de querer dançar sertanejo com uma camiseta dos Ramones. Grande erro.
 A aula foi um desastre. Dois passos - aparentemente simples - foram ensinados, e em nenhuma vez sequer consegui acertá-los. Foi fácil colocar a culpa em meu par no começo, afinal ele era tão ruim naquilo quanto eu. Mas a desculpa não colou quando o professor inventou de fazer rodízios de casais.
 Todos eram simpáticos, tentavam me ajudar, o que por sua vez me deixava mais irada com minha falta de ritmo e com o relógio que insistia em demorar a passar as horas. Eu estava presenciando minha dignidade ser morta lentamente. Se ainda haviam chances de paquerar o bonitão da recepção, elas haviam sido aniquiladas.
 Forcei o bom humor a aparecer. Rir de minhas próprias desgraças sempre foi minha maneira de ignorar o constrangimento, mas eu precisava de alguém para rir comigo. Alguém tão ruim quanto eu, ou seja, meu primeiro parceiro. Infelizmente, o fulano deu um jeito de aprender os passos. Desconfio que tenha sido culpa da loira de meia idade que bate cartão nas aulas de samba rock.
 Agora não tinha jeito. Já não podia botar a culpa em meus parceiros de dança e o professor já havia desistido de mim na décima tentativa de me ensinar aqueles tão singelos e simples dois passinhos. Ao invés de tentar aprender a coreografia, desisti de minha carreira de dança ali mesmo. Eu estava mais preocupada em ver os prós e contras de não saber dançar.
 Primeiro contra: se a fórmula secreta de conquistar o coração de um homem inclui dançar, eu realmente estou ferrada. Já não tenho o dom da cozinha e mal sei lavar minha roupa. Sou mais do tipo que discute sobre tudo e adora ter razão e ser provocativa. Se isso não for sexy o bastante, estou destinada a passar a vida assistindo à "Forrest Gump", alimentando gatos e me perguntando se o amor existe mesmo ou se não passa de uma fábula. Um ponto a menos para mim.
 Por outro lado, não saber dançar só pouparia meu futuro parceiro de ter que me levar às quintas-feiras de dança no salão da esquina em nossos 20 anos de casados. Caso contrário seríamos como Dona Nenê e Lineu, de "A Grande Família", indo ao "Petisco da Velha" dançar bolero, ou sertanejo! E sinceramente, não, obrigada!
 Quando a aula acabou, recolhi o pequeno resto de dignidade que ainda me sobrava e saí do ambiente. Com um falso sorriso de "Haha, sou horrível nisso! Não é engraçado?", me dirigi à saída da academia, acompanhada do olhar de pena de uma das recepcionistas, que soltava um "amável" sorriso que soava como uma desculpa por ter me convidado a participar da aula.
 Mas talvez eu não seja assim tão ruim. Talvez tudo não tenha passado de azar causado pelo simples fato de estar com a camiseta errada no lugar errado. Uma espécie de punição, sei lá.
 Me convenci disso durante o trajeto para casa, mas ao deitar a cabeça no travesseiro em minha breve reflexão diária, o lado realista de minha consciência exclamou: "Fala sério, o que diabos estava tentando fazer?!". Ao menos não serei acusada de não ter tentado, só de ter me exposto ao ridículo. Se bem que ainda sim devo ter divertido alguém. Sabe como é, pimenta no rabo dos outros...

domingo, 9 de setembro de 2012

A maldição dos "não-relacionamentos"


 Psicoses e prováveis crises de ciúmes à parte, odeio os não-relacionamentos. Aquilo que parece ser alguma coisa, mas não é nada de fato, mas sim um passatempo. Deveria estar na natureza dos não-relacionamentos a simplicidade e o desapego, mas parece que isso seria abrir mão de nossos instintos de querer controlar cada mísero acontecimento de nossas vidas, por mais insignificante que pareçam.
 Acho que no fundo de minha alma meu maior desejo é ser livre e deixar que as outras pessoas também sejam. Sério, eu adoraria ser mestre na arte do desapego. Já parou pra pensar em quanto tempo e sentimentos negativos pouparíamos se simplesmente deixássemos livres de obrigação aquilo que, na verdade, não nos pertence? 
 Infelizmente, é mais difícil do que parece. Sempre queremos ter o controle sob alguma coisa, e se essa "coisa" ajuda a amaciar nossos egos em nossas crises estéticas então, dificilmente abriremos mãos. 
 Só que vêm o dia - e ele chega rápido - que tudo se desgoverna. É, você sabe do que estou falando! O peguete para de te mandar mensagens fofas, e como num passe de mágica o face indica que ele está em um "relacionamento enrolado com fulana de tal". E pra piorar, a fulana é bonita - porque por alguma piada interna do destino, a piriguete sempre tem alguma coisa que você não tem.
 E o que é que nós fazemos? Discutimos? Soltamos ofensas verbais, chegando até a inventar novos termos mal educados? Choramos litros, ligamos para as amigas e colocamos todos os defeitos possíveis na fulana? 
 Não. 
 Respiramos fundo, deixemos as ofensas gritarem em nossa mente por alguns minutos, e seguimos em frente. Parabéns, agora você está aprendendo a arte do desapego.