domingo, 24 de fevereiro de 2013

Certamente, meu caro. Certamente!


 O professor perguntou e eu sabia a resposta. Ah, e como sabia! Deus, eu realmente sabia! Ainda sim, me perguntei minutos depois porque não dei a maldita resposta. Mesmo assim, a balbuciei em voz baixa com uma amiga, para que ao menos alguém soubesse que eu sabia.
 E então alguém respondeu, e era exatamente como eu havia pensado e compartilhado com uma pessoa na sala. Seria bom sentir ao menos um pouquinho de orgulho por saber a resposta antes mesmo da fulana da cadeira da frente, mas eu não sentia. Só me servia para lembrar que no meio de todas aquelas pessoas dentro da sala, eu era uma das que não tinha voz. Pior: das que não tinha coragem de ter voz.
 Fui espectadora da resposta dos outros por tempo demais. Em algum momento eu seria obrigada a abrir a boca, e caso não tomasse o cuidado necessário, dela sairiam anos de repressão opinativa. Seria uma bagunça e eu ficaria traumatizada, anulando de vez minhas chances de sair do anonimato.
 Minhas primeiras tentativas foram vergonhosas. Alguma parte do meu cérebro não consegue entender que não preciso chorar por estar nervosa diante de uma briga ou bronca injusta. Daí, lá vinham as lágrimas e o soluço.
 Eu não sei porque ou o momento exato em que decidi não chorar mais na frente das pessoas - a não ser em casos extremamente relevantes - mas eu o fiz. Meu controle tornou-se realmente bom. Chego a me sentir culpada quando algumas pessoas enchem seus olhos de lágrimas em alguns momentos e de mim não sai nada - ao contrário dos momentos em que assisto filmes de cachorros que morrem e instantaneamente as lágrimas surgem.
 A grande questão é que eu aprendi. Aprendi a não segurar o impulso de levantar o braço diante de uma pergunta, ou o de me defender, de dizer o que penso de forma coerente e de não me martirizar com cada erro ou pergunta idiota. As perguntas idiotas vão mudar o mundo algum dia!
 E essa pequena e tortuosa lição que me fez dar a cara à tapa ao mundo começou a moldar detalhes importantes que farão toda a diferença em meu futuro. Não, eu não sei quais são eles, do mesmo modo que não sabia o que enfrentar aquela ogra na 5ª série traria à tona oito anos depois.
 Este mistério carregado em toda lição difícil é o que a torna tão importante, porque a única certeza que podemos ter é a de que tudo é, na verdade, incerto. As respostas da prova, os relacionamentos mais firmes e até mesmo nosso próximo suspiro.
 Pra quê perder tempo se martirizando pela falta da perfeição dos acertos?

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O lado inconveniente da força


 Eu não gosto de ser amável, grudenta e inoportuna. Detesto crises de ciúme e me sinto ridícula quando elas são de minha autoria. Se tem algo que odeio é gostar demais de alguém que não vale muita coisa. Tentava sufocar sentimentos como este e, na maioria das vezes, funcionava. Agora não. É uma completa babaquice.
 Me transformo no ser amável que detesto ser, corro atrás de forma moderada mesmo depois de receber os sinais de que estou agindo errado, digo coisas que normalmente ridicularizo e perco tempo demais sentindo saudade.
 Eu gosto mesmo é do meu outro lado. Ele não liga, não corre atrás e não se deixa abalar. Saudade é só uma palavra, e nenhuma música boa torna-se triste só por uma lembrança. Ele dá risada, dança, deixa a vida  rolar e que se dane o passado, que se dane o que os outros dizem, que se dane o emprego insatisfatório e a mensagem de texto não respondida.
 O que me intriga é que ele sempre opta pelo lado da felicidade. E pra isso não vive num mundo mágico onde consegue tudo o que quer. Esse lado sabe ser feliz com as coisas mais simples, sem os grandes dramas e complicações desnecessárias. É daqueles que ri de tudo, mesmo que "tudo" esteja uma merda, que perde o amigo mas não perde a piada e que depois de perder o amigo por causa da piada o conquista de novo na mesma hora.
 Imagine minha decepção quando me deixo dominar por uma parte de mim que não se dá valor.
 É terrível. Sou eu querendo ser cuidada, como se eu precisasse disso, como se não pudesse fazê-lo por conta própria. É dependência, é estúpido, é uma prisão sem grades. Sentimentalismo de merda! Sou eu querendo saber o que é o amor, mesmo já sabendo o que é, mesmo sendo amada pelas pessoas certas, mesmo dizendo não dar a mínima pra isso.
 Pra falar a verdade, eu duvido que haja alguém que goste deste meu lado. Vez ou outra ele dá as caras pelas brechas da janelinha de minha personalidade. Quer influenciar minha cabeça com seus conceitos imbecis e suas soluções que de nada servem. Quer me mudar, me levar às massas do sentimentalismo barato, onde tudo é obrigação e nada é espontâneo, feliz ou divertido. Quando é, dura pouco demais e acaba entrando para a maldita lista dos "momentos esquecidos somente à longo prazo". São os que não deviam valer nada, mas parecem valer o mundo.
 Eis o lado mais obscuro do meu coração, que agora passa a ser controlado do jeito que acredito ser o certo: sem saudade, sem falso romantismo e sem tristeza.


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

I started a joke


 Querida Vida, esses dias descobri porque vou morrer sozinha: eu sou uma ogra. Não estou dentro do padrão da maioria dos homens. Eu não me apego, não corro atrás, não me apaixono tão fácil. Eu sequer sou boa em me recuperar de uma desilusão amorosa com outro. Não é tão simples pra mim.
 Fico o tempo todo buscando razão, criando teorias, me divertindo com o caos dos relacionamentos, sendo a piadista da turma. Eu estou ocupada. Eu estou ocupada sendo a amiga. Apenas a amiga.
 A engraçadinha que não é romântica, mas é fã dos romances da literatura e da televisão.
 No departamento de conselhos sou um desastre. Sou realista, mas sei reconhecer as boas oportunidades que entram na vida de meus amigos, e não deixo que eles desperdicem. Bem, ao menos eu tento não deixá-los desistir.
 Esse posto de amiga é até interessante, mas pode ser muito entediante também. Algumas vezes eu só queria deixar de ser a espectadora dos dramas e romances alheios e saber o que é isso. De repente eu até poderia provar de uma vez por todas minhas teorias, ou simplesmente não encontrasse nenhuma resposta. Mas ao menos eu saberia como é, sabe? Todo o clichê.
 De uma forma equilibrada, isto até poderia dar certo. E quem eu quero enganar? Eu quero que dê certo. Exatamente por isso tenho me recusado a perder tempo pulando de caso em caso.
 Mas como eu disse, sou uma ogra. Ninguém desperta meu lado carinhoso e doce tão facilmente. Têm que fazer por merecer. O que não é uma coisa ruim do meu ponto de vista, só torna as coisas mais lentas.
 Já é tarde demais pra mudar - mentira, eu só não quero mesmo. Mas estou começando a pensar de forma mais positiva. Em algum lugar por aí deve ter alguém que me conserte, ou melhor, que simplesmente perceba que não há nada quebrado em mim, apenas um espaço a ser preenchido.