domingo, 26 de maio de 2013

Espera (You can go F#ck yourself!)


 Eu odeio atrasos.
 Na verdade, se houvesse alguma escala que determinasse o nível de ódio que alguém pode ter com relação à atrasos, eu estaria no nível máximo.
 Um dia desses marquei um encontro com um ex-peguete que não via há um tempo. Eu estava daquele jeito que só uma menininha apaixonadinha fica quando vai rever o objeto de sua atenção - uma tremenda idiota.
 No caminho até o ponto marcado eu já estava fazendo desabafos sobre meu estado de espírito antes do tal encontro, por estar nervosa e tal. Esperava mesmo que minha consciência me desse sábios conselhos que incluíam um final feliz para aquele encontro, mas ela estava bem negativa. Aparentemente eu havia esquecido todos os motivos que me fizeram xingar o tal sujeito por meses. Pfff... Besteira!, pensei.
 Então lá estava eu, chegando ao tal lugar e logo depois sendo avisada que aconteceu um imprevisto e ele chegaria um pouco atrasado. Pois bem, sensata como sou, respirei fundo, soltei mentalmente um singelo "Tá de sacanagem?" e logo depois deixei pra lá, afinal, imprevistos acontecem, certo?
 O grande problema em ter que tolerar um "pequeno" atraso bem ali no ponto em que escolhemos para nos encontrar era que, bem... Aquele lugar era um tanto perigoso, por assim dizer. Relevei. Estúpida e com esperanças imbecis do jeito que estava, não me parecia um grande sacrifício esperar uns vinte ou trinta minutinhos a mais.
 Só que os minutos foram passando e a lei de Murphy, sempre fiel em seu apego para comigo, fez questão de dar as caras só pra me lembrar que as coisas sempre podem piorar. Pra começar, havia um cara embriagado de calças abaixadas que havia acabado de ser expulso da estação por tentar se "esfregar nas mulheres", palavras do guardinha. Ele deve ter ficado um bom tempo ali parado, sem falar coisa com coisa e soltando perguntas como: "Né, menina?". Olhando em volta, infelizmente a única menina ali era eu. Resolvi entrar na estação. O acúmulo de pessoas ali me parecia um pouco mais seguro do que ficar dando bandeira na rua com o maluco das calças abaixadas.
 Enquanto lia o "Guia do Mochileiro das Galáxias" - que amenizava o nervosismo e a raiva de estar esperando há meia hora o tal sujeito que nunca chegava - bateu uma onda de frio. Sem problemas, exceto que eu estava com as pernocas de fora, com um shorts. Sabe como é, quando saí de casa o sol ainda brilhava e deixava o tempo com uma brisa gostosa de se sentir. Então me pareceu uma boa ideia mostrar as pernas. Erro número dois.
 O livro já estava perdendo o sentido quando se passaram 45 minutos de espera. A paciência que eu nem sabia que existia - deve ser a merda da paixão - estava aos poucos indo embora. À essa altura já estava tudo escuro, meus nervos estavam à flor da pele e eu me esforçava para não soltar em voz alta todos os palavrões que insistiam em passar pela minha cabeça. Não seria delicado da minha parte.
 Reparei que eu teria que beber um pouco além da conta para mudar meu mau-humor e não estragar tudo, se é que ainda haveria algo para ser estragado. Quero dizer, a coisa toda já estava toda cagada, mesmo. Eu era uma solitária dentro de uma estação descoberta, vestindo shorts enquanto o vento gelado batia em minhas pernas, rindo sozinha dos diálogos engraçados de Douglas Adam enquanto tentava equilibrar meu humor na tênue linha entre a minha paciência - já enfraquecida - e a raiva.
 Quando reparei que já fazia uma hora que estava ali, passei a me perguntar se minha consciência não estava certa e tudo aquilo não fosse uma tremenda besteira. Há uma hora eu estava ansiosa para um encontro com o cara que nunca fez questão de me ligar, ou de me visitar. Que nem consegue abrir a boca pra me soltar um elogio, mas tem tiradas "ótimas" quando se trata de zoar da minha cara. O mesmo cara que revelou certa vez que eu era "mediana", mas tudo bem, porque ele curtia medianas. E então, de repente...PORRA!
 É, eu explodi. Não literalmente, é claro. Isso seria doloroso. Saí dali irritada, queimando metaforicamente tudo aquilo que me fez passar tanto tempo achando que seria o máximo. Mandei uma mensagem educada, mas firme: "Estou indo embora". Recebi uma desculpa de "Estou no trânsito" e nem me toquei de perguntar aonde, porque daí quem sabe eu poderia esperar dependendo da distância. Mas a raiva tomava conta e tudo o que disse foi: "Entendo. Só não vou mais ficar aqui. Espero que entenda também". Boom!
 Fui juntando pontos quase de forma obsessiva, como Jim Carrey em "Número 23".
 Ele estava atrasado porque imprevistos acontecem. Bacana. Compreensível. Mas a verdade era: se ele queria aquilo tanto quanto eu, poxa, não teria um esforcinho extra? Quer dizer, sério que eu nem sequer valia uma arriscada básica para fazer o caminho da minha casa que nem era tão difícil assim e já havia sido feito várias vezes?
 A resposta, meus caros, era: "Tá, se você quer assim...".
 Ou seja, um gostoso: "Ah, foda-se. Azar o seu".
 E tudo o que eu consegui pensar naquela hora foi a vaga lembrança de amigas e amigos em conversas paralelas dizendo coisas como: "Se um cara quer, vai até o inferno pra conseguir". E essa revelação, na verdade, nem doeu tanto. Ele não iria até o inferno por mim. Ele nem arriscou o caminho até a minha casa, por favor.
 Mais calma, ao entrar no Facebook algum tempo depois, tenho uma mensagem esperando para ser lida. Era o reconhecimento de 20% da mancada dele, e o resto um amontoado de desculpas que jogavam a culpa e a falta de bom senso em cima de mim.
 Foi inevitável não pensar: "Tá de sacanagem?!", mas honestamente, nem desperdicei palavras. Minha resposta foi um "jóinha". E esse jóinha era um maduro: "Poxa cara, bacana. Boa sorte na sua jornada, mas eu tô vazando da sua vida".
 Não acho que ele entendeu. Ironia não é seu forte, a crítica sim. E é por isso que tenho a suspeita de que, em sua versão da história, consegui o papel de "vagabunda mimada", e tudo porque ele se atrasou por uma horinha...
 Veja só. Tsc, tsc.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Think like a man, act like a lady.


 Ele achou que eu me amarrava em seu sotaque, que seu perfume me excitava e que eu estaria caidinha por ele logo no primeiro beijo. E não vou negar, foi bom. Mas mal sabia ele que por trás desta carinha de ingênua havia uma mulher querendo extravasar suas frustrações.
 Eu não mandei mensagens no dia seguinte, não me fiz de ofendida quando ele não ligou e não esperei loucamente por seu chamado de "Vem me ver". Eu já havia matado minhas frustrações e me esbaldado no calor que me fazia falta.
 Reparei que alguma coisa em mim havia mudado. Não me batiam arrependimentos ou vergonha de olhar para ele no dia seguinte. Não havia sentimentos envolvidos, o que me faz pensar que, assim como os homens, às vezes nós, mulheres, agimos exatamente como eles. A diferença é que somos taxadas de tudo quanto é ofensa.
 E pensar como um homem não é de todo mal. Já parou pra pensar em quantas vezes aquele carinha que parecia um sonho te deixou esperando? Em quantas vezes esperamos uma atitude, uma prova que mostrasse que ele poderia ser diferente, quando esta mesma prova seria algo tão simples?
 Por um tempo achei que estava me tornando fria - e por este mesmo tempo me tornei mesmo. É um período de médio prazo o qual toda mulher precisa passar para aprender a se dar valor e se redescobrir. Não podemos depender de sentimentos que só existem em nossa cabeça, entregando nosso coração para o primeiro babaca que nos elogia ou diz as palavrinhas mágicas "eu te amo" sem sequer demonstrar isso.
 O que estes meninos precisam aprender é que mulher é diferente. O que nos motiva e nos desperta é o significado de algo. Pois é, nós atribuímos três vezes mais significados às coisas do que vocês, homens. E tudo porque passamos tempo demais sendo vistas apenas como um objeto pela grande maioria dos imbecis que ainda se sentem no direito de se denominar "homens".
 Mas para sairmos da posição de meninas e nos tornarmos mulheres temos que pensar exatamente como eles. Infelizmente isso segue o ditado "olho por olho, dente por dente", porque as relações humanas não passam de campos de batalha.
 Um homem esperto - aquele cujas atitudes não demonstrem ser de menino - vai entender, enquanto que uma mulher poderosa vai descobrir seu verdadeiro valor. Só assim para as palavras ao vento passarem por nossos ouvidos e serem decifradas mais facilmente como verdadeiras ou falsas.
 Então, meninos, preparem-se. Não somos mais o elo fraco desta luta. Já sabemos os seus segredos. E vocês, sabem os nossos?

sábado, 11 de maio de 2013

Uma vida espetacular


 Este desejo é imensurável.
 Nem as noites de sábado no bar, as luzes e o som alto da balada ou os amassos descomprometidos são capazes de substituir essa vontade de ter uma vida incrível.
 Nada do que é comum me atrai mais, pelo menos não como costumava fazê-lo. O tipo de "sobrevivência" na sociedade massificada, que inclui os sorrisos forçados, a necessidade de agradar ou os instintos físicos, vez ou outra ocasionados pelo álcool e a solidão, são parte de um mundo vazio demais para eu conseguir viver.
 Por outro lado, a arte, a literatura, as paisagens, a extremidade da sobrevivência, a endorfina que aparece na conquista e as coisas mais inacreditáveis que surgem para nos mostrar que "impossível" e "improvável" são apenas duas palavrinhas que só têm força se dermos força à elas, estas coisas sim me atraem.
 Se eu evitar os dramas inúteis e direcionar minha energia e motivação para as coisas que fazem algum sentido, mesmo que seja um sentido dado por mim mesma, então talvez eu possa alcançar o estado das melhores e mais inimagináveis coisas que há para se viver.
 Quero que meus olhos contemplem além das imagens da tv e do Google o que há de mais bonito, engenhoso e até mesmo improvável. O sentido que estou dando à minha vida não se encaixa neste pequeno mundo de desejos fúteis e programados. Por isso nunca fui capaz de me encaixar em um lugar algum. Simplesmente porque não quero pertencer à um lugar, quero conhecer todos eles. E mesmo que não possa contemplar pessoalmente as maiores maravilhas, quero tê-las guardada em corpo e alma.
 E que este sentido faça parte do meu coração. Que me complete de alguma forma e que me livre do comodismo da padronização.

 Amém.

domingo, 5 de maio de 2013

Ciclo vicioso



 Todo mundo quer estabelecer um padrão do que é moralmente aceitável. Se não seguimos, somos classificados sempre de uma forma negativa. Só que infelizmente os "discípulos" de todos estes padrões que adoram designar aos outros nunca se perguntam se eles mesmos estão em condições morais de tal ato.
 Acontece que essa pressão toda pela perfeição da igualdade - que me irrita, aliás - bagunça tudo. Algumas pessoas desejam tanto ser contrárias ao que os outros pregam que criam personagens para si mesmos e acabam se perdendo nos dramas de uma crônica inventada só pra fazer birra com o mundo.
 Depois de um tempo fica difícil se reconhecer. A essência de quem realmente são foi deixada em algum lugar que parece ser longe demais para se cogitar a possibilidade de voltar atrás.
 Colocam a máscara, vestem o figurino, incorporam uma personalidade totalmente diferente da que já tiveram um dia, e assim passam a viver a vida de um ser inventado, sem essência, correndo atrás do sonho dos outros, distribuindo sorrisos vazios e soltando palavras ao vento.
 No âmago falta algo, mas há uma certeza: a fé nas pessoas é só uma fábula.
 Nessa peça de teatro mal dirigida, onde todos sorriem, caçoam, mentem e magoam, os holofotes estão voltados para seus protagonistas, antes revoltados, e que agora não passam de marionetes da sociedade. Sem querer, transformam-se nos moralistas, passando eles mesmos a estabelecerem  seus próprios padrões, criando seus próprios preconceitos e excluindo aquele indivíduo com personalidade ainda intocada pela podridão de uma sociedade que lida com homens como se lidasse com máquinas.
 A questão é: Neste maldito ciclo vicioso, restarão personalidades fortes o bastante para construir o caráter necessário e decente para o futuro ou estaremos sempre à mercê desta fábrica de atores que transformou-se  o meio viral em que estamos vivendo?

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Reflexões


 Ninguém pode nos culpar por atribuir significado às coisas. Já pensou no quão seria solitário viver em um Universo onde nossa única certeza era a de que não passamos de uma parte insignificante no território sem fim em que habita a existência?
 Pois se isso torna tudo vazio e todos os fatos são meras coincidências, qual seria exatamente a graça de existir? E se por um acaso não houvesse graça alguma, por que é que somos tão contrários à ideia de dar valor ao significado que o resto das pessoas dão para certas coisas?
 É como se tudo não fosse mais do que mercadoria de consumo. "Façam um filme sobre o amor e as pessoas amarão". É como se não amássemos quase nada de verdade. Nos habituamos a transformar tudo em produto, até mesmo as pessoas. Ama-se coisas e usa-se as pessoas. Essa é a verdade.
 E porque é mesmo que aceitamos isso com tanta naturalidade mesmo? Quer dizer, por que diabos nos deixamos ser usados?! Pelo direito de também usar? E isso, por sua vez, não nos levaria à simples verdade de que realmente não passamos de uma parte insignificante no território da existência?

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Percepção intuitiva da essência


 Mais do que qualquer desejo superficial que tive no último ano: este é o valor de meus antigos sonhos. Aqueles que deixei pra trás sem motivos justificáveis. Deixei pra trás porque me deixei levar pelo poder terrível da palavra "improvável". Eu a tornei real, segui em frente e deixei a melhor parte de mim no passado. Me tornei parte da massa, com os mesmos desejos simples, a mesma carência por atenção e a falta de comprometimento comigo mesma. Fui covarde por não tirar do plano dos sonhos e transformá-los em objetivos. Desisti muito fácil porque...Fui fraca.
 E agora sinto o desejo pelos sonhos se acenderem novamente como uma chama que nunca havia realmente se apagado. Eu estava neste estado impermanente de dormência, disposta a ver e "aproveitar" o que todos pareciam adorar. Costumo dizer que comecei a viver minha adolescência aos dezenove. Só que não tenho mais tempo para as brincadeiras de criança. Não posso mais me dar ao luxo de desistir do que, honestamente, me faz bem.
 Quando procurava um sentido pra viver, nos meus sonhos mais profundos encontrei vários. E agora eles estão despertos novamente. É maravilhoso pode enxergar com os mesmos olhos de antes.
 Não posso negar que meu período de desapego e "férias" foram uma das melhores e mais vívidas experiências que já tive em toda a minha vida. Eu mudei tanto que algumas pessoas ainda não me reconhecem. Precisei fazer isso, mas já estou em meu limite.
 A linha entre quem eu sou e quem eu achei que devia ser está a ponto de ser ultrapassada. Digamos que eu não estava lá muito racional ultimamente. Eu ignorei o que não devia e me deixei levar pela onda. Detesto dizer que cheguei a ser por vezes uma menininha implorando por atenção. Me tornei quem eu mais detestava.
 Graças a Deus tenho estas crises de epifania vez ou outra, que me fazem repensar minhas atitudes, meus objetivos e meus ideais. Minha busca estava vazia. Parei com isso!
 Cheguei ao estado de espírito que precisava para começar a correr atrás daquilo que desejei em meu âmago há tempos, quando não passava de uma menina entre tantas outras, com grandes sonhos, quase nenhuma coragem e um medo imensurável do mundo.
 Dessa vez estou pronta e prometo não decepcionar. O melhor começa agora.