sábado, 4 de fevereiro de 2012

Rita Lee e sua boca grande


 Nas últimas duas semanas, Rita Lee esteve na mira da mídia e do público muito mais do que o normal. O episódio o Brasil inteiro viu: último show da carreira, briga com a polícia que gerou desacato e acusação de apologia ao crime.
 Muitas pessoas aplaudiram a atitude da cantora. Foi um caloroso “Muito bem, Rita!”, “Falou e disse”. Muitas das críticas concentraram-se na atitude da polícia, que já não é vista com bons olhos por boa parte da sociedade. Mas um fato em questão quase não apareceu nos debates a respeito deste acontecimento: Por que a polícia agiu daquela maneira? A resposta é simples e conhecida: uma busca por drogas.
 Todos nós temos liberdade para falar o que bem entendermos, mas sendo uma pessoa que exerce certa influência sob milhares de indivíduos as palavras precisam ser escolhidas com sabedoria. Ao abrir a boca Rita Lee não apenas desmoralizou o trabalho da PM, como também influenciou ainda mais uma geração a aceitar as drogas como algo normal. Seu discurso foi claro ao, ela mesma, pronunciar: “Cadê o baseadinho pra eu fumar aqui agora?”.
 De repente, é como se as pessoas esquecessem que um “baseado” não é um simples cigarro feito para ‘relaxar mente e corpo’, mas sim uma arma poderosa para o financiamento do tráfico de drogas. Não é difícil de concluir que a maconha é o pontapé inicial para o consumo de drogas mais fortes como a cocaína e o crack. E isso por sua vez a faz obter uma parcela significativa de culpa em relação ao aumento da criminalidade. E quem ganha com isso? Os traficantes, responsáveis pela destruição de diversas famílias devido à venda destes entorpecentes.
 O que Rita Lee fez, conscientemente ou não, foi um belo de um merchandising, o que torna a acusação de apologia ao crime plausível.  Porém, é preciso entender tal atitude. A ditadura deixou marcas definitivas em quem a vivenciou e foi vítima, como a cantora. A repressão ainda é capaz de causar revolta, e foi exatamente isso que aconteceu: uma explosão de revolta de uma ex-vítima da ditadura militar, um dos períodos mais obscuros da História brasileira. Mas então eu pergunto, justifica?
 Sinceramente, não.
 Querendo ou não, a lei existe para ser cumprida. O dever da polícia é fazê-la ser cumprida. Além de desacatar a autoridade ali presente, Rita Lee expôs os policiais a um sério risco de agressão por parte do público. Neste caso, não acredito em punição – embora concorde com uma indenização cuja metade seja destinada para um fundo de combate às drogas, mas quem queremos enganar? Isso aqui é Brasil!
 Mas tudo bem, falar demais não é pecado. Porém, convenhamos, não é Rita? Se não tem algo de útil para falar, é melhor ficar calada, concorda?