sábado, 20 de junho de 2020

Mais devaneios sobre a vida adulta

5 razões pra você se expressar através da escrita

A vida moderna é um constante processo de reeducação sobre o novo mundo que nos cerca.

Quer um exemplo? Tenho aprendido a me colocar no lugar de mulheres em histórias alheias. Sabe como temos a mania de ir na onda no meio de uma conversa que envolve alguma reação aparentemente exagerada de uma mulher? Hoje eu me pergunto se a tal mulher era mesmo doida ou sensata. É uma percepção que fica cada vez mais apurada sempre que conheço um homem que intitula a ex de louca.

Outra questão que é uma constante na minha vida são meus modelos. Quem admiro diz muito sobre quem eu almejo ser. Mas passei a maior parte da minha vida admirando o que me diziam que era admirável, e tentando alcançar um padrão de beleza e comportamento quase inalcançável. Infelizmente, isso deixou marcas na minha autoestima que até hoje tento apagar.

Não é um processo fácil. Foram anos sendo apresentada pela mídia à mulheres que não tinham o meu biotipo, a cor da minha pele ou a personalidade introvertida que carrego. O modelo de mulher que eu queria ser aos 17 anos era irreal, mas ainda sim uma demanda daqueles que me cercavam. Era como se ser eu fosse errado.

Quando vejo mulheres reais, talentosas e genuínas tomando posicionamentos a fim de mudar o senso estereotipado de uma sociedade tão obcecada por padrões de beleza e popularidade, me sinto menos sozinha do que me sentia quando era adolescente e tudo o que eu mais queria era ser como as modelos das revistas, esperando ser respeitada, aceita e quem sabe até amada.

Ao acompanhar mulheres reais tomando espaço no entretenimento, na política e em tantos outros setores da indústria, me sinto representada no meio de uma sociedade que adora dar bons discursos sobre saúde e beleza, mas que rejeita o que vai contra os seus próprios termos.

Meus 27 anos têm sido uma oportunidade para que eu possa olhar para dentro, me enxergar pelo o que eu sou e permitir que os outros também me enxerguem. Mas eu ainda tenho meus momentos de insegurança, quando tento me moldar às expectativas alheias para me sentir menos deslocada e evitar rejeição. Ainda penso nisso ao final de alguns dias, enquanto tento encontrar a solução para os problemas que crio em minha cabeça. 

Ainda penso nas besteiras que fiz e gostaria de desfazer, nos amores que deixei escapar e nas oportunidades que deveria ter agarrado. Penso nas minhas más escolhas e me pergunto se as coisas poderiam ter sido diferentes, mas não me condeno mais por isso. Gosto de pensar que estou exatamente onde eu deveria estar. Talvez esse não seja mais o meu lugar daqui a 5 anos, mas é onde as mudanças acontecem e onde os sonhos e as conexões se formam. 

Talvez a coisa mais difícil seja ser fiel a si mesmo, especialmente quando tantas pessoas esperam que você seja algo diferente e se encaixe nos ideais alheios.

Os anos levaram para longe muitas pessoas e restaram poucos amigos para as festas e zoações na madrugada. Mas até que faz sentido: parte do processo de crescimento tem a ver com reconhecer e valorizar aqueles que ficam por perto, próximos o bastante para nos enxergar e nos aceitar como somos. E sejamos sinceros, nós não somos perfeitos.

Não somos politicamente corretos ou intelectuais o tempo todo, falamos besteira no meio do expediente, nos estressamos com coisas bobas durante o dia e por vezes somos imaturos quando desafiados ou quando não temos o que queremos. A verdade é que, mesmo adultos, podemos ser bem imbecis às vezes.

Privilegiados são aqueles que mantém por perto as poucas pessoas que, ao invés de nos julgar, desempenham gratuitamente o papel de nos ajudar a evoluir, seja com uma crítica construtiva, um conselho ou simplesmente disposição para ouvir nossas conquistas e nossas tragédias.

O fato é que estamos sempre em busca de admiração e aplausos, mas nosso aconchego está, quase sempre, longe dos holofotes, no lugar que nos permite nos despir de todas as máscaras e encontrar abrigo entre aqueles que aprenderam a nos amar por quem realmente somos. 

Eis aí um dos tesouros da vida adulta.

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